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Opinião|O novo velho no trabalho

Diversidade etária é boa não apenas para os profissionais mais velhos, mas também para as empresas e para a economia

O processo de inclusão e diversidade no mercado de trabalho, a que agora assistimos, visa não só ao bem social, mas também ao aumento da produtividade no mundo corporativo. Entretanto, esse movimento é parco no que concerne à busca por trabalho para os mais velhos. Nesse contexto, deve-se incrementar essa boa e correta onda de diversidade inserindo os mais velhos também nela. Destaca-se aqui dois motivos, entre vários outros, para justificar a importância dos mais velhos no mercado de trabalho.

O primeiro diz respeito ao fato de que há um envelhecimento da população brasileira, que é oriundo da redução da taxa de natalidade. Ela acontece pela inserção da mulher no mercado de trabalho, para a sua realização profissional, para se sustentar economicamente e para prover financeiramente sua família. Só para se ter uma ideia dessa redução da taxa de natalidade no Brasil, há 40 anos, a taxa era em média seis filhos por mulher. Hoje, ela gira em torno de 1,7 filho por mulher, sendo que a tendência é que esse valor venha a diminuir ainda mais.

O segundo motivo diz respeito ao aumento da expectativa de vida, resultado dos avanços no campo da saúde. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida no Brasil em 1990 era em média 66 anos; e, em 2022, em média 75,5 anos. Hoje, 7,8 milhões de idosos estão inseridos no mundo corporativo no Brasil. Não é um número desprezível, mas ainda é necessário aumentá-lo, pois tudo indica que já em meados deste século teremos mais idosos do que jovens no País.

Tem-se conhecimento de empresas, ainda que raras, que estão valorizando a experiência e contratando um número maior de profissionais mais velhos, não apenas para cargos técnicos, mas também para gerência e diretoria. Há até empresas de ponta abrindo vagas para estagiários com mais de 50 anos de idade, possibilitando um novo ciclo de carreira para essas pessoas. Contudo, infelizmente, ainda se trata de uma quantidade muito pequena de corporações que promovem a diversidade etária.

O gerador de tanta dificuldade de pessoas mais velhas ingressarem no mercado de trabalho, tudo indica, é o etarismo, que pode ser entendido como qualquer forma de discriminação, estereótipo ou preconceito que surge em decorrência da idade de uma pessoa. No caso do Brasil, o que prepondera é o etarismo em relação aos mais velhos.

A origem do preconceito em relação aos mais velhos no trabalho pode estar associada ao nosso passado escravocrata. Se fizermos uma busca nos jornais brasileiros do século 19, dificilmente encontraremos um anúncio de venda de escravos com 50 anos ou mais, pelo fato de que o escravo já não tinha mais força para o trabalho brutal e braçal. Pois bem, esse sistema bárbaro e degradante acabou, mas parece que herdamos essa idade de 50 anos como um marco para se encerrar os ciclos no trabalho.

Ora, a sociedade evoluiu em todos os sentidos e os trabalhos hoje são preponderantemente intelectuais nas empresas, que pouco usam o trabalho braçal. Porém, mantemos, por puro preconceito, esses mesmos 50 anos de idade como um marco para o profissional começar a se despedir da labuta.

Mas como então é possível eliminar – ou, pelo menos, minimizar – o etarismo nas empresas? É fundamental, do lado da organização, pensar na diversidade das equipes de trabalho já no processo seletivo e no recrutamento, incluindo também oportunidades para os mais velhos na seleção; e, do lado dos profissionais que já estão trabalhando na empresa, cuidar da conscientização deles, para que possam valorizar o trabalho dos mais velhos, mediante treinamentos, e para que saibam viver com a diversidade etária.

Faz-se necessário, também, que as empresas estabeleçam políticas que valorizem o trabalho dos mais velhos. Entre outras, destacam-se descrições de cargos que não marginalizem os profissionais mais velhos; utilização da linguagem inclusiva, combatendo a desdenhosa; promoção de palestras voltadas para os profissionais que abordem o etarismo no trabalho; treinamentos de uso da tecnologia e da comunicação; e reconhecimento, mediante premiações, de colaboradores mais velhos que estão tendo um bom resultado na avaliação de desempenho individual.

Finalmente, vale ressaltar que a inclusão dos mais velhos no mercado de trabalho não se trata de compaixão. A diversidade etária é boa não apenas para os profissionais mais velhos, mas também para as empresas e para a economia.

Para as empresas, é bom contratar pessoas mais velhas porque são, em geral, trabalhadores qualificados e com muita experiência para agregar à organização; e pessoas resolvidas socialmente, pois elas já constituíram família e criaram filhos, o que faz com que se concentrem com mais facilidade nos desafios apresentados pelo trabalho.

Já para a economia, tal inclusão é boa pelo fato de que cada vez mais será necessária a presença de profissionais com idades mais avançadas no mercado de trabalho. Por fim, é boa para os mais velhos, na medida em que revigora a autoestima, melhora a saúde mental e, consequentemente, aumenta a longevidade.

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PROFESSOR DE RECURSOS HUMANOS E RELAÇÕES TRABALHISTAS DA FGV-SP

Opinião por Sérgio Amad Costa

Professor de Recursos Humanos e Relações Trabalhistas da FGV-SP