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O preço da indulgência

Servidores ambientais se aproveitam da inércia do governo para ampliar greve nociva à economia

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Por Notas & Informações
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Parecem insuficientes os prejuízos já impostos pela “operação-padrão” dos funcionários federais do setor ambiental. Há seis meses os servidores suspenderam trabalhos em campo, como fiscalizações e vistorias, afetando o combate ao desmatamento, travando obras que precisam de licenciamento e gerando problemas em cascata para empresas e para o próprio governo federal. Agora anunciam uma paralisação geral nesta quarta-feira, Dia Mundial do Meio Ambiente, para reivindicar a reestruturação da carreira, além de um indicativo de greve para a próxima semana. Ou seja, a bomba-relógio ambiental, se já era preocupante, pode tornar-se perturbadora.

Os grevistas querem chamar a atenção para o que consideram desinteresse do governo por suas demandas. Tal desinteresse, porém, beira a indulgência. Se o complacente presidente Lula da Silva não dá qualquer sinal de que pretende se desgastar em negociações salariais, muito menos numa necessária reestruturação da carreira do funcionalismo, ninguém do seu governo parece empenhado o suficiente para enfrentar o problema. Sobretudo quando servidores de braços cruzados sabotam atividades essenciais para a economia. O próprio Lula já havia aberto a porteira para movimentos grevistas passarem: “Não tenho moral para falar contra greve, nasci das greves”, disse ele, numa fala que ecoou como um incentivo às paralisações.

O prolongamento da “operação-padrão” do setor ambiental, eufemismo para greve, já demonstrou seus efeitos. A redução do ritmo de trabalho diminuiu o volume de autorizações a menos da metade: a queda da emissão de licenças e autorizações foi de 180 para 69 entre janeiro e abril, se comparado ao mesmo período de 2023 e 2024. A atual produtividade está abaixo da registrada na gestão do então presidente Jair Bolsonaro, período no qual os servidores do Ibama e do Instituto Chico Mendes (ICMBio) alegam ter ocorrido desmonte dos órgãos ambientais.

Ao desmonte dos órgãos, contudo, responde-se com desmonte da economia. O setor de transmissão de energia elétrica calcula que o Ibama analisa projetos que somam R$ 75 bilhões em investimentos, considerando lotes arrematados em leilões realizados entre 2021 e 2024. Termoelétricas, parques eólicos e linhas de transmissão esperam a assinatura dos fiscais. Em maio, os fabricantes de veículos automotores informavam haver 50 mil carros aguardando a liberação da licença de importação. Segundo o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás, o setor público deixou de arrecadar mais de R$ 1 bilhão. A queda de faturamento do setor teria sido de R$ 3,4 bilhões, enquanto outros R$ 650 milhões de novos investimentos estão parados por falta de licenciamento. Sem esquecer o abalo na geração de empregos e nos autos de infração de crimes ambientais.

Enquanto isso, o Brasil se vê entre a pressão dos servidores e a inércia do governo, que adotou o pior caminho: ignorar tanto as carências na infraestrutura dos órgãos ambientais, problema reconhecido pelos próprios executivos dos setores afetados, quanto os efeitos devastadores deixados por uma paralisação que já foi longe demais. Um misto de indiferença e incompetência que está custando caro ao País.