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Ala do União quer apoio do PT e diz que ministra do Turismo tem ‘baixíssima representatividade’

Partido indicou três nomes para novo governo, mas insatisfeitos querem ser oposição

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Por Lauriberto Pompeu
Atualização:

BRASÍLIA – A indicação de três ministros para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não foi suficiente para fazer com que toda a cúpula do União Brasil aceitasse ir para base. Mesmo com colegas nos cargos de primeiro escalão do governo petista, líderes da legenda, principalmente aqueles oriundos do extinto DEM, rejeitam ser base de Lula. Uma parte deles vai fazer oposição ao petista, outra, no entanto, ainda aceitar dialogar com o novo governo, mas com a condição de que o PT não trabalhe contra candidatos do União Brasil nas disputas municipais de 2024 e sejam aliados do partido nas eleições estaduais de 2026.

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Os ministros Waldez Goes (Integração Nacional), Daniela do Waguinho (Turismo) e Juscelino Filho (Comunicações) fazem parte da cota do União Brasil na Esplanada dos Ministérios. A negociação para que eles ocupassem os cargos foi feita pelo ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (União-AP). Dentro da articulação, Alcolumbre resolveu indicar um aliado regional, o ex-governador do Amapá Waldez Goes, que é filiado ao PDT, mas deve ir ao União. O senador do Amapá também participou da escolha dos deputados e, para isso, ouviu diferentes alas da legenda.

A escolha de Daniela Carneiro, por exemplo, conhecida como “do Waguinho” por conta do apelido de seu marido, o prefeito de Belford Roxo, Wagner Carneiro, contou com a influência do presidente da legenda, Luciano Bivar. A nomeação da deputada para o Turismo provocou a primeira crise da Esplanada de Lula. A campanha de Daniela para deputada contou com a participação de milicianos. A parlamentar nega qualquer envolvimento com os criminosos de seu Estado e encontrou o apoio público de ministros palacianos de Lula.

Apesar disso, parte da cúpula de seu próprio partido avalia que ela e os outros dois ministros indicados por Alcolumbre “têm baixíssima representatividade” e não ajudam a trazer votos para as bancadas do partido no Congresso. No caso específico da Daniela é apontado o fato de ela ter chegado ao União Brasil apenas em 2022 e ter seu primeiro mandato no Congresso iniciado apenas em 2018. Não há, portanto, qualquer garantia dos colegas de bancada para socorrer a parlamentar do Rio em processos de fritura.

Em relação ao apoio nas eleições regionais, o pedido é considerado difícil de aceitar até mesmo pelos políticos do União Brasil. Há um histórico de rivalidade entre prefeitos e governadores da legenda com o PT nas disputas locais, como é o caso de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Ceará e Goiás.

Também há reclamações de líderes vindos do DEM em relação ao modo como Bivar comanda a legenda. Parlamentares se queixam que muitas vezes não são consultados quando o presidente do partido toma algumas decisões. A legenda foi criada no começo de 2022 e é o resultado da fusão do DEM com o PSL. O deputado Luciano Bivar era o presidente do PSL e se manteve no comando partidário com a criação do União. Bivar tem acumulado embates com a ala oriunda do DEM. De acordo com o grupo insatisfeito a Bivar, ele tentou ser ministro de Lula, mas isso foi vetado pela legenda.

Apesar disso, esse grupo descarta uma desfiliação do União Brasil. Eles ressaltam que, mesmo com as diferenças, eles têm a liberdade para atuar como desejam e como a realidade local permite. Além disso citam também que há um dispositivo que garante que qualquer decisão envolvendo a cúpula nacional do partido precisa ter o aval de dois quintos da Executiva, o que garante ao grupo do antigo DEM o poder de veto.

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Diante desse cenário, nomes como Bivar e Alcolumbre tem se aproximado do governo Lula. Outra ala, composta pelos senadores Sergio Moro (PR), Marcio Bittar (AC), Alan Rick (AC), pelos deputados Mendonça Filho (PE), Kim Kataguiri (SP) e Alexandre Leite (SP) e outros já avisou que vai ser oposição. Um terceiro grupo se classifica como independente, como é o caso do ex-prefeito de Salvador e secretário-geral da sigla ACM Neto e do senador Efraim Filho (PB).

“A agenda do governo contraria tudo, não é a minha agenda. É intervencionista na economia, revogando todos os avanços econômicos que o Brasil têm, revê reforma da Previdência comprometendo equilíbrio fiscal, quem vai pagar a conta são os mais pobres. Mantenho coerência com minha história, minha vida e minhas crenças”, disse Mendonça Filho ao Estadão, que ainda citou as posições do PT contra o Plano Real, a autonomia do Banco Central e o teto de gastos.

No entanto, o parlamentar declarou que respeita os três ministros ligados a uma da sigla. “É uma escolha pessoal do presidente da República. Hoje ele tem alguns interlocutores no partido que eu respeito e os ministros indicados eu respeito”, disse.

Mendonça disse ainda que tem alguns pontos de convergência com integrantes do governo Lula e citou que trabalhou em parceria com o ministro da Educação, Camilo Santana, quando ele era governador do Ceará e o político do União era ministro da Educação de Michel Temer (MDB).

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“Respeito muito o ministro da Educação atual, o governador Camilo. A gente tem muitas pautas convergentes a favor da escola em tempo integral, ele defendeu isso e praticou com a minha parceria como ministro. Tem algumas pautas convergentes, mas a maioria e principalmente na pauta econômica é completamente diferente daquilo que acredito o que está sendo praticado pelo PT”, afirmou.

Eleito para um mandato no Senado a partir deste ano, Alan Rick também não esconde a insatisfação com o novo governo. “Sigo na Oposição ao PT”, disse ao Estadão. “Além de uma série de absurdos, Lula baixou um decreto restringindo o direito do cidadão de bem de proteger sua família, sua casa, seu negócio e sua pequena propriedade rural”, reclamou no Twitter. Sergio Moro e Kim Kataguiri também criticam Lula constantemente nas redes sociais.