BRASÍLIA - O Banco do Brasil decidiu, nesta quinta-feira, 21, liberar publicidade no site "Jornal da Cidade Online", após o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) ter criticado o veto a anúncios do banco público na página. A polêmica começou na quarta-feira, quando o banco público informou que iria retirar sua propaganda do "Jornal da Cidade Online", sob alegação de que a página divulga fake news. Nas redes sociais, Carlos escreveu que o marketing do Banco do Brasil "pisoteia em mídia alternativa que traz verdades omitidas".
O alerta de que o "Jornal da Cidade Online" propaga notícias falsas havia sido feito pelo perfil Sleeping Giants Brasil, versão brasileira de um movimento que começou nos Estados Unidos para alertar empresas quando sua publicidade está em sites com que divulgam desinfomação ou conteúdos racistas. O Estadão Verifica, núcleo de fact cheking do Estadão, já desmentiu ao menos oito publicações do site. Após receber o aviso, a página do BB respondeu ao perfil do Sleeping Giants, que repudia "qualquer disseminação de fake news".
Nesta quinta-feira. o presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, disse ao Estadão que não concordou com a restrição e que o site "Jornal da Cidade Online" não deveria ser punido.
A área de marketing e comunicação do BB, cujo gerente é Antonio Hamilton Rossell Mourão, filho do vice-presidente Hamilton Mourão, considerou exagerado o bloqueio e retomou a permissão para que o site, alinhado à direita conservadora, receba publicidade do banco nesta quinta-feira mesmo. A decisão, no entanto, não foi divulgada.
Como mostrou o Estadão, na quarta-feira, Carlos Bolsonaro criticou a atitude da área de comunicação que disse que vetaria anúncios no site. “Marketing do @BancodoBrasil pisoteia em mídia alternativa que traz verdades omitidas. Não falarei nada pois dirão que estou atrapalhando... agora é você ligar os pontinhos mais uma vez e eu apanhar de novo, com muito orgulho! Obs: não conheço ninguém do @JornalDaCidadeO”, escreveu o filho do presidente no Twitter.
O "Jornal da Cidade Online" publicou ao menos oito textos que foram desmentidos pelo Estadão Verifica, incluindo artigo que manipulou dados de pesquisas de opinião para fazer parecer que aprovação de Bolsonaro tinha aumentado entre janeiro a novembro do ano passado e esconder que a desaprovação do governo havia crescido de forma significativa.
Em nota, o "Jornal da Cidade Online" informou que as verificações feitas pelo Estadão mostram apenas que o material tinha "imprecisões": “Quanto as verificações realizadas pelo Estadão, é evidente que jamais se tratou de ‘fake news’, foram matérias que, de acordo com as agências verificadoras continham algumas imprecisões. Tanto é que foram prontamente corrigidas e as marcações retiradas. Nesse sentido, vale lembrar que qualquer veículo de comunicação pode errar ou cometer algum deslize, inclusive o Estadão“.
Há, também, texto com informação falsa sobre a entrega de "códigos de segurança" da urna eletrônica a venezuelanos e, em maio deste ano, uma peça de desinformação omitiu trecho da fala do governador de Nova York, Andrew Cuoco, sobre a queda do índice de novas infecções no Estado para destacar dados de pesquisa que ‘provariam’ a falha do lockdown em Nova York.
O site foi condenado neste mês a indenizar o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, pela publicação de reportagens consideradas ofensivas. Os donos do site tiveram de retirar os textos do ar e ainda publicar a íntegra da sentença, além de uma retratação, em até 48 horas, sob pena de multa diária de R$ 1,5 mil.
O site "AosFatos" também revelou, em julho do ano passado, que o "Jornal da Cidade Online" possuía dois perfis apócrifos que atacavam políticos e magistrados. Os ‘colunistas’ Amanda Acosta e Otto Dantas usavam fotos alteradas da escritora Thalita Rebouças e de um homem, cuja foto original consta em um banco de imagens.
Sobre a reportagem do site "AosFatos", o "Jornal da Cidade Online" afirmou que se trata de publicações ‘mentirosas, difamatórias e caluniosas’. “Dizer que o jornal fez uso de perfis apócrifos para textos escritos com a utilização de pseudônimo é uma aberração. O JCO é um empresa contituída (sic), com sede e CNPJ. Tem um jornalista responsável como editor e que responde por tudo que é publicado”, informou.
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