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Balanço é caminho para Bendine se firmar na Petrobrás

Governo aposta em solução para cálculo de perdas com corrupção para amenizar decepção do mercado com novo comando da estatal

Por Lu Aiko Otta e ISADORA PERON E RAFAEL MORAES MOURA
Atualização:

BRASÍLIA - Depois da reação negativa do mercado à escolha de Aldemir Bendine para comandar a Petrobrás, o governo quer mostrar que o novo comando foi a melhor solução possível. A superação da impressão negativa se apoia em grande parte no novo diretor financeiro, Ivan de Souza Monteiro, respeitado no mercado por haver realizado operações bem sucedidas de captação externa para o Banco do Brasil. A primeira tarefa para a qual a nova dupla de dirigentes da Petrobrás está escalada é publicar o balanço de 2014. A indefinição quanto à divulgação dos dados, uma obrigação de companhias abertas como a estatal, foi o que desencorajou os executivos do mercado a assumir a missão de presidir a companhia. Se as contas não forem fechadas e publicadas até junho, os credores da Petrobrás ganham o direito de cobrar antecipadamente dívidas que só venceriam no futuro. Evitar essa situação é um problema tão crucial que a presidente Dilma Rousseff escalou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para cuidar dessa questão. O fechamento do balanço depende de algo que não existe em lugar nenhum do mundo: estabelecer um mecanismo que permita contabilizar, de forma crível e transparente, as perdas sofridas por causa dos desvios de recursos que são objeto de investigação da Operação Lava Jato. Orientada por Levy, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) vem dialogando com sua correlata norte-americana, a Security Exchange Comission (SEC), para encontrar uma fórmula. Reforço. Com bom trânsito no mercado internacional e na SEC, Monteiro é considerado um reforço de peso para essa tarefa. Mas o próprio Bendine vai se enfronhar ao máximo no assunto. Ele pretendia passar o fim de semana sem reuniões de trabalho, apenas lendo documentos para, amanhã, começar a trabalhar na Petrobrás com força total. O mesmo seria feito pelo novo diretor financeiro. Para o líder do PT no Senado, Humberto Costa, cabe a Bendine dar sinais de que conseguirá equacionar a questão do balanço e, com isso, reduzir as desconfianças do mercado. "A bola está com ele", afirmou o petista. Bendine é visto dentro do governo como um trunfo em outra frente problemática da empresa: a obtenção de crédito. A seu favor, ele conta com o fato de ter presidido o maior banco da América Latina e, por isso, contar com boas relações no mercado financeiro. Outro ponto a favor é o fato de ele ter alcançado resultados positivos à frente do banco. Sob seu comando, o BB triplicou sua carteira de crédito, de R$ 241 bilhões para R$ 730 bilhões, passando a responder por 21,1% dos empréstimos no mercado nacional. Nessa estratégia de trazer mais recursos à estatal, Bendine colherá frutos do trabalho da antecessora, Graça Foster. Numa atuação ofuscada pelos escândalos políticos, ela recolocou a empresa na rota do aumento da produção de petróleo. A despeito da queda nos preços internacionais, a commodity será uma garantia importante para novos empréstimos. Contra Bendine pesam o controverso empréstimo de R$ 2,7 milhões à socialite Val Marchiori, agora investigado pelo Ministério Público, e uma multa paga à Receita Federal por não comprovar a origem de cerca de R$ 280 mil do patrimônio declarado em seu Imposto de Renda.

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