BRASÍLIA - Depois da reação negativa do mercado à escolha de Aldemir Bendine para comandar a Petrobrás, o governo quer mostrar que o novo comando foi a melhor solução possível. A superação da impressão negativa se apoia em grande parte no novo diretor financeiro, Ivan de Souza Monteiro, respeitado no mercado por haver realizado operações bem sucedidas de captação externa para o Banco do Brasil. A primeira tarefa para a qual a nova dupla de dirigentes da Petrobrás está escalada é publicar o balanço de 2014. A indefinição quanto à divulgação dos dados, uma obrigação de companhias abertas como a estatal, foi o que desencorajou os executivos do mercado a assumir a missão de presidir a companhia. Se as contas não forem fechadas e publicadas até junho, os credores da Petrobrás ganham o direito de cobrar antecipadamente dívidas que só venceriam no futuro. Evitar essa situação é um problema tão crucial que a presidente Dilma Rousseff escalou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para cuidar dessa questão. O fechamento do balanço depende de algo que não existe em lugar nenhum do mundo: estabelecer um mecanismo que permita contabilizar, de forma crível e transparente, as perdas sofridas por causa dos desvios de recursos que são objeto de investigação da Operação Lava Jato. Orientada por Levy, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) vem dialogando com sua correlata norte-americana, a Security Exchange Comission (SEC), para encontrar uma fórmula. Reforço. Com bom trânsito no mercado internacional e na SEC, Monteiro é considerado um reforço de peso para essa tarefa. Mas o próprio Bendine vai se enfronhar ao máximo no assunto. Ele pretendia passar o fim de semana sem reuniões de trabalho, apenas lendo documentos para, amanhã, começar a trabalhar na Petrobrás com força total. O mesmo seria feito pelo novo diretor financeiro. Para o líder do PT no Senado, Humberto Costa, cabe a Bendine dar sinais de que conseguirá equacionar a questão do balanço e, com isso, reduzir as desconfianças do mercado. "A bola está com ele", afirmou o petista. Bendine é visto dentro do governo como um trunfo em outra frente problemática da empresa: a obtenção de crédito. A seu favor, ele conta com o fato de ter presidido o maior banco da América Latina e, por isso, contar com boas relações no mercado financeiro. Outro ponto a favor é o fato de ele ter alcançado resultados positivos à frente do banco. Sob seu comando, o BB triplicou sua carteira de crédito, de R$ 241 bilhões para R$ 730 bilhões, passando a responder por 21,1% dos empréstimos no mercado nacional. Nessa estratégia de trazer mais recursos à estatal, Bendine colherá frutos do trabalho da antecessora, Graça Foster. Numa atuação ofuscada pelos escândalos políticos, ela recolocou a empresa na rota do aumento da produção de petróleo. A despeito da queda nos preços internacionais, a commodity será uma garantia importante para novos empréstimos. Contra Bendine pesam o controverso empréstimo de R$ 2,7 milhões à socialite Val Marchiori, agora investigado pelo Ministério Público, e uma multa paga à Receita Federal por não comprovar a origem de cerca de R$ 280 mil do patrimônio declarado em seu Imposto de Renda.