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Opinião|A corrupção na história do Brasil: PC Farias e um enigmático suicídio

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A história brasileira é plena de sucessos e de fracassos políticos, mas quando se refere ao combate à corrupção a sensação é de um déjà-vu, ou seja, de estarmos frente a situações vivenciadas em outros momentos da nossa recente história política. O objetivo, neste espaço, é (re)lembrar os principais escândalos de corrupção que correram no Brasil e estabelecer uma reflexão sobre a história da corrupção na sua origem, evolução e impacto desse fenômeno ao longo do tempo.

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A ideia de aprender com os erros do passado, para evitá-los no presente e desenvolver melhores ações no futuro é uma estratégia antiga e pode ser uma aliada para a sociedade civil e agentes públicos eleitos.

O primeiro caso que relataremos ocorreu em 1992 e foram denúncias feitas sobre irregularidades no Governo Collor de Mello (1990-1992), a partir de uma entrevista concedida por Pedro Collor à Revista Veja (em maio de 1992).

O teor da entrevista estava centrado no esquema de corrupção envolvendo Paulo César Farias ou PC Farias. PC Farias era tesoureiro da campanha presidencial de Fernando Collor em 1989 e tinha forte influência nos bastidores do governo. Na reportagem, Pedro Collor elencava três pontos centrais:

a) Esquema de corrupção: Pedro Collor revelava a existência de um esquema de corrupção dentro do governo, liderado por PC Farias, que envolvia desvio de dinheiro público, tráfico de influência e favorecimento em licitações públicas;

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b) PC Farias como testa de ferro: Pedro Collor afirmava que PC Farias atuava como um “testa de ferro” para o presidente Fernando Collor, recebendo dinheiro de empresas em troca de benefícios governamentais e financiamento ilegal da campanha presidencial;

c) Relação próxima com o presidente: Pedro Collor destacava a relação íntima entre PC Farias e seu irmão, o presidente Collor, sugerindo que o presidente estava ciente das atividades ilícitas do seu tesoureiro.

O esquema de corrupção incluía o desvio de recursos públicos para beneficiar empresas e indivíduos ligados a PC Farias e ao presidente Fernando Collor. Isso envolvia o uso de verbas públicas de forma ilegal para financiar atividades particulares, como campanhas políticas, além de desviar recursos para contas e empresas fictícias controladas pelos envolvidos no esquema. Quanto ao tráfico de influência, PC Farias utilizava a sua posição como tesoureiro da campanha presidencial e a sua influência nos bastidores do governo para obter vantagens indevidas em negociações com empresas privadas e em decisões governamentais. Ele intermediava o acesso de empresários e lobistas ao presidente Collor, facilitando acordos ilegais que beneficiavam os envolvidos em troca de propina e favorecimento em contratos e licitações. No favorecimento em licitações públicas, eram recorrentes as práticas de direcionamento de licitações públicas para empresas específicas, muitas vezes sem concorrência justa. PC Farias e os seus associados manipulavam os processos de licitação para garantir contratos lucrativos para empresas previamente escolhidas, em troca de pagamento de propina e vantagens indevidas.

Essas denúncias causaram um grande impacto na opinião pública e na política brasileira. O Congresso Nacional instaurou um processo de Impeachment contra Fernando Collor, que resultou na sua renúncia antes da conclusão do processo, em 1992.

PC Farias também foi investigado e, em 1996, foi encontrado morto, junto à sua namorada Suzana Marcolino, na praia de Guaxuma. Investigações do legista Badan Palhares deram como resultado que Suzana Marcolino matou PC Farias e se suicidou, em seguida. O caso é considerado oficialmente um crime passional e enigmático.

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Após 32 anos, podemos dizer que o caso PC Farias teve um impacto significativo na política brasileira, levando a mudanças no combate à corrupção e na transparência da administração pública do país.

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Dentre as mudanças, destacamos a Reforma Eleitoral, embora não ocorresse mudanças drásticas imediatamente após o Impeachment. Ao longo dos anos seguintes, foram implementadas várias reformas eleitorais, como a Lei da Ficha Limpa e ajustes nas regras de financiamento de campanhas.

Outra alteração que merece destaque se refere ao fortalecimento dos órgãos de controle. O impeachment de Collor destacou a importância dos órgãos de controle e fiscalização, como o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria-Geral da União (CGU). Gradualmente, essas instituições foram fortalecidas para melhor monitorar o uso dos recursos públicos e combater à corrupção.

Também tivemos maior fiscalização e transparência das ações governamentais. Isso levou a avanços na divulgação de informações públicas e à criação de mecanismos para garantir a prestação de contas por parte dos políticos e gestores públicos, merecendo destaque a Lei de Acesso a Informação.

O crescimento da participação da sociedade civil brasileira influenciaria o debate público sobre questões eleitorais, Lei da Compra de Votos e outras ações, que contribuíram para reformas democráticas.

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Este texto reflete única e exclusivamente a opinião do(a) autor(a) e não representa a visão do Instituto Não Aceito Corrupção (Inac). Esta série é uma parceria entre o Blog do Fausto Macedo e o Instituto Não Aceito Corrupção. Os artigos têm publicação periódica

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Foto do autor Rita de Cássia Biason
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Rita de Cássia Biason
Conselheira Superiora do Instituto Não Aceito Corrupção (Inac), doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorado em Ciência Política pela Universidade de Valladolid (UVA) - Espanha. Professora Doutora na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Unesp, câmpus de Franca. A área de pesquisa é centrada em Ciência Política, com ênfase em corrupção política e mecanismos de prevenção e controle da corrupção. Foto: Inac/Divulgação
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