Quando os portugueses chegaram ao Brasil em 1500, já existiam aqui algumas nações. Eram os indígenas, cuja origem inicialmente restou desconhecida. Alguns, diante da semelhança fisionômica, acreditam que eles remontam a populações asiáticas e oceânicas.
Almeida Prado, em “Os Primeiros Povoadores do Brasil”, narra que existia uma tradição nativa de avoengos aportados em barcos, vindos de terras longínquas que se multiplicaram pelas florestas, campos e cordilheiras do novo mundo. Outros antropólogos sustentam que existiu um homem primitivo na América, anterior a qualquer imigração. Restamos no terreno das conjecturas, pois não existe material para concluir por qualquer versão.
Quando A.C. Haddon, no livro “As Raças Humanas”, começava a descrever o nosso indígena, desalentado confessava “São tão insuficientes as informações sobre a história racial da América do Sul, que sou obrigado a me contentar de generalidades”.
Os portugueses costumavam dividir os nativos entre tapuias e tupis. Os primeiros, moradores no sertão. Os segundos, no litoral. Os tapuias se subdividiam em grupos chamados Gês, Caraíbas, Cariris e Guaitacases. Só que essa divisão é incompleta. Não existe levantamento confiável sobre as tribos desaparecidas. O nome “Gês” ganhou também outros grupos: botocudos, caiapós, cherentes, chavantes e bugres.
Algo interessante é que os indígenas não eram exatamente nômades. Eles se apegavam às regiões que ocupavam desde tempos imemoriais. Os caiapós tiveram também subgrupos chamados Ibirajaras, Bilreiros e Caceteiros. Outros afins do grupo eram conhecidos por coroados, bugres e caigangs em São Paulo e Santa Catarina. Atribui-se-lhes ignorância da navegação, pois em fins do século 15, surgiam do sertão de Minas no litoral da Bahia e ficaram estacados diante do oceano. Não sabiam dele se aproveitar, seja para locomoção ou para alimentação.
Outro grupo numeroso é o Caraiba, situado à margem esquerda do Amazonas. À época do descobrimento, eram vistos desde o sul da Flórida e mar das Antilhas, até São Vicente. Capistrano de Abreu pretende aparentá-los aos pimenteiras, que se estendiam do Piauí a Pernambuco, e que há muito já desapareceram. Há semelhanças na civilização material dos caraibas das Antilhas com os tupinambás. Varnhagem aventa que os primeiros desceram a América Central em lentas jornadas, durante séculos, até chegar à Amazônia.
Outra tribo indígena brasileira é a dos Cariris. Deve-se destacar que boa parte da população nordestina deles descende. Possuíam idioma próprio e facilmente se mesclaram com os brancos. Para Capistrano de Abreu, pela repetição de nomes, Orobó, no Espírito Santo, ou Tremembé, Quiririm em São Paulo, viável que os cariris tivessem atingido o sul do país, descendo pelo litoral, antes das invasões tupis. O nome Tremembé é também encontrado no Maranhão.
Já os Guaitacases eram senhores do sul do Espírito Santo e norte do Rio de Janeiro, numa extensão que ia de Minas ao litoral. Os guaicurus, outro ramo considerável do grupo, viviam no alto Paraguai, nos campos de Mato Grosso. No século 17, tornaram-se, juntamente com os seus afins, os Paiaguás, o principal obstáculo à colonização paulista.
No tempo de Martim Afonso de Souza, havia uma sucessão de tribos, a maior parte aparentadas entre si, do Paraguai ao sul da Bahia. Vários dos nomes começavam pelo prefixo Gua: Guanás e Guaicurus, no Paraguai; gualachos no Paraná, Guaianases, Guarulhos e Guaramomis em São Paulo, Guaitacases no Rio de Janeiro e Espírito Santo, Guaimorés no sul da Bahia.
A expedição do Marechal Cândido Rondon encontrou índios nos confins do Mato Grosso e Bolívia, que viviam em plena idade da pedra lascada. A necessidade os transformou em agricultores, por não poderem alimentar grande população só de caça e pesca.
Constatou Rondon que seus hábitos eram ainda rudimentares. Deitavam-se no chão, tanto que os demais índios os chamavam uicacoré, ou “irmão do chão”. Mas tinham a faceirice, até sofisticada, de se adornarem, nas festas, com mantos de fibras de palmeiras. Ornamentação reservada exclusivamente ao elemento masculino. Ao feminino competia o trabalho caseiro.
Há muito a ser dito a respeito dos índios brasileiros. Do desaparecimento de muitas etnias, diante da cultura à época, a considerar inferiores raças que não fossem a branca. Os tupinambás e tupiniquins foram as tribos brasílicas que tiveram o primeiro contato com os portugueses. Para Almeida Prado, eles alimentavam crenças como se tivessem conhecido, em remota época, passagens do Antigo Testamento. Lamentável não tivéssemos concedido a eles, desde o início da colonização, o direito a perpetuar suas tradições. Teríamos aprendido com eles a arte da preservação, que dominaram milenarmente, até chegássemos e dizimássemos a natureza.
Somos ignorantes em relação aos indígenas. Falha nossa. Esquecemo-nos de que chegamos depois. Eles já estavam aqui.