O empresário Ronan Maria Pinto, dono do Diário do Grande ABC preso na 27ª fase da Operação Lava Jato, afirmou à Polícia Federal que o jornalista Breno Altman, amigo do ex-ministro José Dirceu, foi quem indicou a corretora usada para "empréstimo" dos R$ 6 milhões, em 2004, que seria repasse ilegal do PT. O valor seria referente a um empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões feito no Banco Schahin, que depois teria sido compensado com um contrato de US$ 1,6 bilhão na Petrobrás, conforme suspeita a Procuradoria.
"Breno disse que estava interessado em escrever colunas para o Diário do Grande ABC" disse Ronan, ao relatar seus primeiros contatos com o jornalista amigo de Dirceu, a partir de 2003, durante a compra do jornal. "Depois Breno disse que estava interessado em comprar parte do jornal."
Preso desde o dia 31, alvo da 27ª fase da Lava Jato, Ronan declarou que sabia que Altman "tinha ligação com o PT". Ele foi ouvido na segunda-feira, 4, um dia antes do juiz federal Sérgio Moro converter sua detenção temporária em preventiva. Altman chegou a ser levado para depor no dia 31. Ele nega irregularidades. A força-tarefa investiga sua participação no negócio por ver ligação dele com o ex-ministro José Dirceu. Uma das teses consideradas para o repasse envolve suposta chantagem contra membros da cúpula do PT, entre eles Dirceu. O ex-ministro nega.
O empresário comprou o Diário do Grande ABC, sendo que em 2004 recebeu R$ 6 milhões de um empréstimo fraudulento tomado pelo pecuarista José Carlos Bumlai, em nome do PT. Segundo a força-tarefa da Lava Jato, o repasse foi dissimulado em uma intricada operação de lavagem de dinheiro.
Ronan afirmou que uma das empresas financeiras envolvidas no negócio foi apresentada a ele por Altman. "Breno apresentou a empresa Via Investe que poderia realizar o financiamento para comprar nova frota de ônibus." O empresário diz que os R$ 6 milhões recebidos por ele foram para compra de veículos para suas empresas do setor de transporte público. Ele nega irregularidades.
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LEIA DEPOIMENTO DE RONAN MARIA PINTOA empresa foi parte de uma intrincada sistemática de lavagem de dinheiro, iniciada com o empréstimo de R$ 12 milhões tomado pelo pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula. No mesmo dia o dinheiro migrou para contas do Grupo Bertin, depois para empresas e para a corretora de valores, em São Paulo.
Preso desde novembro pela Lava Jato, Bumlai confessou ter feito a operação de empréstimo a pedido do PT. Citou os nomes do ex-secretário do partido Sílvio Pereira e do ex-tesoureiro Delúbio Soares. Apontou ainda dois publicitários ligados ao ex-governador de Mato Grosso do Sul, José Odarício , o Zeca do PT.
COM A PALAVRA, O JORNALISTA BRENO ALTMAN
1. O empresário disse que eu teria indicado a empresa de factoring que acabou não emprestando dinheiro a ele. Sobre essa empresa, nem sequer conhecia ou tinha ouvido falar, até ler seu depoimento. O empresário obviamente se enganou a respeito.
2. Não teria condições financeiras de comprar o Diário do Grande ABC ou qualquer intenção nesse sentido. Meu único interesse no jornal - como o próprio empresario cita - era escrever uma coluna e contribuir para que surgisse um veículo moderno e plural.
3. Reputo como absurda, leviana e mentirosa qualquer tentativa de vincular o ex-ministro José Dirceu ao caso através de insinuações sobre nossa amizade.