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Grampo mostra Lula como interlocutor do PMDB

Em projeto que governo sofreu derrota no Congresso, sobre participação da Petrobrás na exploração do petróleo do pré-sal, ex-presidente relata jantar com Sarney, Renan e Jucá, que articularam com PSDB proposta aprovada em desacordo com a base

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Foto do author Fausto Macedo
Por Ricardo Brandt , Julia Affonso , Mateus Coutinho e Fausto Macedo
Atualização:

Em 9 de março, Lula foi a um café da manhã na residência oficial do senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Foto: Dida Sampaio/Estadão

Atualizado às 19h10

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Os grampos da Operação Lava Jato, que monitoraram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com autorização da Justiça, mostram que mesmo fora do governo ele foi um dos principais interlocutores de caciques do PMDB, que nesta terça-feira, 29, desembarcam da base de sustentação da presidente Dilma Rousseff.

Em conversa gravada da entre Lula e o então ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, no final de fevereiro, os dois discutem os bastidores da aprovação pelo Senado do projeto que acabou com a participação obrigatória da Petrobrás na exploração do petróleo nos campos do pré-sal - uma das derrotas do governo Dilma no Congresso.

Proposta pelo senador José Serra (PSDB-SP) - arquirrival dos petistas - o projeto foi aprovado no dia 24, com texto substitutivo do senador Romero Jucá (PMDB-RR), após acordo entre o PSDB e parte da bancada peemedebista.

"A orientação que ela (presidente Dilma Rousseff) passou: só não pode dar o Serra", afirma Wagner, para Lula, em conversa após a aprovação do projeto pelo Senado.

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Lula então conta que esteve reunido com a bancada governista do PMDB e tratou do assunto. "Deixa eu te falar uma coisa de bom senso, vai ficar entre eu e você essa porra. Logo que foi a primeira votação do José Serra, você está lembrado? Eu estava em um almoço, Jucá, Renan (Calheiros, presidente do Senado), (José) Sarney, (Edison) Lobão, eu. Quando me disseram que o Renan ia votar a posição do Serra, eu falei na mesa 'o Renan, pelo amor de Deus, o PMDB não pode embarcar nessa porra. O PMDB pode até flexibilizar mas garantindo que a decisão seja da Petrobrás".

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Para Lula, "no fundo, no fundo, um pouco dos que eles fizeram foi isso" ao aprovar o projeto, com o substitutivo de Jucá.

Briga. Ao saber de Lula que ele havia se encontrado com a cúpula congressista do PMDB, Wagner fala: "Presidente ainda bem que você tocou no ponto, porque o Renan publicamente estava trabalhando para essa posição que ficou saindo. Então a gente ia ficar no isolamento, porque o Lindbergh acha que ia ganhar."

Lula responde: "Sabe, de vez em quando você não briga com 'Fatinha' (mulher de Wagner) por nada?". "Às vezes a gente não briga em casa sem saber o por que? Aí depois que a gente briga, que fica puto, toma dois uísques, nervoso... a gente fica perguntando 'por que eu briguei, car..."

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Wagner disse que defendeu Dilma com petistas, afirmando que ela não mudou de posição. "Só não acusem essa senhora do que ela não fez, ela não mudou a posição dela, outra coisa é o que o Congresso ia votar."

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O diálogo gravado entre os dois petistas ocorre no domingo, 28 de fevereiro, após a festa de aniversário dos 36 anos do PT, no Rio, em que Lula fez discurso aos partidários. O ministro da Casa Civil começa a conversa dizendo que tinha uma reunião marcada com senadores e que não queria desmarcar por conta da votação do projeto da Petrobrás.

"A festa foi boa. Acho que não tinha aquele mal humor que a imprensa falava contra a Dilma, sabe. Eu falei ó 'tem problemas? Tem. O partido não é obrigado a acatar tudo que o governo faz, o governo não é obrigado a atender tudo que o partido quer. Mas temos que ter em conta que a Dilma é nossa presidenta. E ela sabe que somos o exército dela", afirma Lula.

O ex-presidente brinca com Wagner: "É que nem a mãe da gente, faz comida a gente não gosta, mas come".

Lula demostra desacordo com o enfrentamento travado pelo governo no Congresso pela aprovação do projeto - o Senado aprovou por 40 votos favoráveis, 26 contrários e duas abstenções, o texto substitutivo alterando as regras de exploração de petróleo do pré-sal. A proposta retira da Petrobrás a exclusividade das atividades no pré-sal e acaba com a obrigação de a estatal a participar com pelo menos 30% dos investimentos em todos os consórcios de exploração dos campos.

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"Sabe, de vez em quando a gente briga com fatia por nada", diz Lula. O ex-presidente diz que "continua achando que tem uma coisa que o pessoal se queixa". "Que é a porra do diálogo."

Ele relata então conversa com lideranças sindicais, que tinham ato público marcado contra o governo Dilma. "Vamos imaginar que a medida provisória do Serra era o bode. Tirou o bode da sala e colou uma coisa mais razoável, que é garantir que a Petrobrás tenha preferência, mas que pode ser negociado montando uma boa diretoria da Petrobrás, um bom conselho nacional de política energética", afirma Lula.

Para o ex-presidente, "ficará também muito ruim se a Petrobrás mantém a titularidade e não tem dinheiro para fazer nada". "Acho que Dilma poderia conversar com a nossa base, criando uma comissão especial para tentar fazer um a cordo estratégico com os chineses em cima do pré-sal, porra, em cima desses 30%. Tentando dar para os caras um discurso que coloca, como fala, um capilé, uma rota de fuga."

 

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