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Grupo de pastor Everaldo comandava orçamento da Saúde e indicou ex-secretário para viabilizar desvios, diz Lava Jato do Rio

Investigação aponta que suposta organização criminosa coordenada pelo líder religioso e presidente nacional do PSC começou a operar antes da chegada de Witzel ao poder e montou esquema de lavagem com offshores no exterior, transportadora de valores própria, empresas em nome de 'laranjas' e compra de imóvel em espécie

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Foto do author Pepita Ortega
Por Rayssa Motta , Pepita Ortega , Paulo Roberto Netto , Fausto Macedo/SÃO PAULO , Rafael Moraes Moura/BRASÍLIA e Caio Sartori/RIO
Atualização:

O grupo supostamente comandado pelo pastor Everaldo Pereira, presidente nacional do PSC, para desviar recursos públicos do governo do Rio na gestão Wilson Witzel (PSC) gerenciava o orçamento estadual reservado à Saúde e indicou o ex-secretário da pasta, Edmar Santos, e o antigo 'número dois' da secretaria, Gabriell Neves, para garantir o controle de pagamentos e contratações. As informações constam na representação do Ministério Público Federal (MPF) divulgada na sexta, 29, quando foi deflagrada aOperação Tris in Idem para afastar o governador e prender 17 pessoas, incluindo o líder religioso.

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Os lucros obtidos com fraudes em contratações, operacionalizadas através do loteamento de cargos nos quadros do governo, abasteciam uma 'caixinha' que era dividida com o próprio Witzel, segundo os procuradores.

"Na área da saúde o grupo instituiu um esquema de geração de uma espécie de "caixinha" para pagamentos de vantagens indevidas aos agentes públicos da organização criminosa, principalmente através do direcionamento de contratações de organizações sociais e na cobrança de um "pedágio" sobre a destinação de restos a pagar aos fornecedores", diz um trecho do documento.

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Pastor Everaldo foi preso na operação Tris in Idem. Foto: Fabio Motta/Estadão

De acordo com as investigações, a organização também teria influência na Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) e no Departamento Estadual de Trânsito (Detran).

Para executar o esquema, Everaldo teria escolhido dois nomes de sua confiança: Victor Hugo Barroso, responsável pela contabilidade paralela, cooptação de agentes públicos e privados e indicação de organizações sociais que deveriam ser contratadas pelo governo, e Edson Torres, que cuidava da administração dos contratos, fraudes a licitações e pagamentos de propinas. As informações foram reveladas por Edmar Santos em delação e incluídas na representação do MPF.

Na qualidade de operador financeiro, Victor Hugo também ajudaria na lavagem do dinheiro desviado através de sua transportadora de valores Fênixx e das offshores Tremezzo S/A, Firbank Croporation e South America Properties LLC, registradas em seu nome e no nome da mãe e da irmã no Uruguai.

"Victor Hugo Barroso criou uma complexa organização de pessoas jurídicas, que indicam a estruturação de "camadas" de ocultação de valores, também típica de lavagem de dinheiro, onde as transações financeiras se misturam, dificultando a rastreabilidade", diz o Ministério Público Federal.

 

Negócio de família. Para ocultar a origem do dinheiro, Everaldo também teria se valido de 'laranjas', comprado um imóvel de R$2 milhões em dinheiro e recorrido a depósitos fracionados em espécie nas contas de duas empresas controladas por ele e pelos filhos Filipe e Laércio Pereira, que também foram presos. Felipe é assessor especial do governador e Laércio é advogado do PSC.

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O irmão do pastor, Marcos Pereira, é outro nome apontado como integrante da organização criminosa. Ele controlaria a OS Nova Esperança, que administra o pronto-socorro do Complexo Penitenciário de Bangu, e segundo o MPF foi registrada em nome de uma 'laranja'. A dona formal da organização social tinha uma renda mensal de R$ 500 até 2008 e está recebendo auxílio emergencial emergencial no período de quarentena em razão da pandemia de covid-19.

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A representação do MPF mostra ainda que Laércio fez transferências fracionadas para uma empresa do tio Marcos, a Marcos Dias Comércio de Pescado, no valor de R$ 40 mil.

"Vê-se, assim, que Marcos Pereira atua ao lado do irmão, o Pastor Everaldo, neste grande complexo de pessoas físicas e jurídicas que operam em camadas para realizar os atos de lavagem de dinheiro e o recebimento de vantagens indevidas do Estado do Rio de Janeiro, a partir das entabulações realizadas junto aos setores de comando, como o Governador Wilson Witzel e Secretários de Estado", resumem os investigadores.

Longa data. Segundo o MPF, o grupo já operava, em menor escala, antes da eleição de Witzel. Desde 2016, quando o Hospital Universitário Pedro Ernesto era comandado por Edmar Santos, já cobravam propinas de prestadores de serviços para priorizar suas empresas na fila de liquidação dos pagamentos atrasados. Na época, a unidade de saúde da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) enfrentava uma grave crise fiscal.

COM A PALAVRA, O GOVERNADOR WILSON WITZEL Em nota, o governador afirmou: "A defesa do governador Wilson Witzel recebe com grande surpresa a decisão, tomada de forma monocrática e com tamanha gravidade. Os advogados aguardam o acesso ao conteúdo da decisão para tomar as medidas cabíveis".

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Em pronunciamento o governador afastado se disse 'indignado' e 'vítima de perseguição política'.

COM A PALAVRA, O PASTOR EVERALDO O Pastor Everaldo informa que, no dia 19 de agosto, encaminhou petição ao STJ solicitando para ser ouvido.

Na manhã desta sexta-feira, foi surpreendido com sua prisão e com a busca e apreensão realizadas em seus endereços.

Após ser preso, o Pastor Everaldo pediu para ser ouvido ainda hoje. O depoimento, no entanto, só deve acontecer na próxima segunda-feira, dia 31.

O Pastor Everaldo reitera sua confiança na Justiça.

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COM A PALAVRA O PSCO ex-senador e ex-deputado Marcondes Gadelha, vice-presidente nacional do PSC, assume provisoriamente a presidência da legenda.

O calendário eleitoral do partido nos municípios segue sem alteração.

O PSC reitera que confia na Justiça e no amplo direito de defesa de todos os cidadãos.

O Pastor Everaldo sempre esteve à disposição de todas as autoridades, assim como o governador Wilson Witzel.

COM A PALAVRA, OS DEMAIS INVESTIGADOSA reportagem busca contato com os demais investigados citados na representação do Ministério Público Federal. O espaço está aberto para manifestações (rayssa.motta@estadao.com).

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