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Juíza barra show de R$ 300 mil de Manu Bahtidão na ‘Festa da Queima do Alho’ em Ribeirão Cascalheira

Ao suspender apresentação da cantora, acolhendo ação da Promotoria, magistrada alertou que cidade de 10 mil habitantes, a 885 quilômetros de Cuiabá, convive com problemas de ‘primeira necessidade’ como saneamento, saúde e educação e criticou ‘alocação indiscriminada e obscura de valores em eventos festivos’; Estadão pediu manifestação da prefeitura

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Por Pepita Ortega
Atualização:

A Justiça de Mato Grosso determinou a suspensão do show da cantora Manu Bahtidão em Ribeirão Cascalheira, município de 10 mil habitantes localizado a 885 quilômetros de Cuiabá. O contrato previa cachê de R$ 295 mil para a cantora se exibir na festa da 9ª Queima do Alho.

A reportagem do Estadão pediu manifestação da prefeitura de Ribeirão Cascalheira. O espaço está aberto.

A cantora Manu Bahtidão Foto: Reprodução de vídeo/YouTube/Manu Bahtidão

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Ao barrar o show, a juíza Michele Cristina Ribeiro de Oliveira, da Vara Única de Ribeirão Cascalheira alertou para a ‘alocação indiscriminada e obscura de valores em eventos festivos’.

A juíza destacou problemas em setores de ‘primeira necessidade’ no município, como saúde, educação, segurança viária e transporte.

A decisão de Michele Cristina foi publicada na sexta, 3, no bojo de uma ação movida pelo Ministério Público estadual. A Promotoria alegou ‘desproporcionalidade entre as ações prioritárias e violações sistemáticas de direitos fundamentais’.

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Segundo a ação, a cidade não oferece saneamento básico a toda a população, estradas rurais encontram-se em situação crítica e, ainda, que teria sido descumprida ordem judicial para disponibilização de vagas de creche.

A Promotoria observou que a contratação do show de Manu Bahtidão seria custeada pelo município, incluindo gastos com hotel, alimentação e camarim.

A dotação orçamentária elencada pela prefeitura para o show de Manu era de R$ 295 mil, sem contar despesas de hospedagem e alimentação para 25 integrantes da banda, vans para traslado local, abastecimento de camarins, carregadores para carga e descarga do material da contratada, palco, som, iluminação e estrutura física dos camarins. O total de gastos estimado para toda a festa em Ribeirão Cascalheira era de R$ 372 mil.

A Promotoria apontou ‘erosão da consciência constitucional’ com o gasto previsto para a 9ª Queima do Alho enquanto o município estaria ‘padecendo com a ausência de ações efetivas do ente na materialização de direitos fundamentais, tais quais saneamento básico, educação pré-escolar, revitalização de estradas’.

Ao analisar o caso, a juíza Michele Cristina Ribeiro de Oliveira apontou ‘violação dos direitos fundamentais dos munícipes e, a princípio, uma série de violações dos princípios da legalidade orçamentária, inclusive o da publicidade e transparência’.

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Ribeirão Cascalheira fica a 885 quilômetros de Cuiabá Foto: Prefeitura de Ribeirão Cascalheira/Divulgação

“O fim do orçamento público é a entrega de bens e serviços para satisfazer as necessidades da sociedade”, anotou.

A magistrada apontou ainda que a suspensão do show é medida reversível. Segundo ela, a apresentação de Manu pode eventualmente ser realizada em outra data.

“A comunidade terá a oportunidade de desfrutar da atividade cultural com a segurança, após devida instrução probatória, de que não se está a descuidar da aplicação escorreita do dinheiro público”, pontuou a juíza.

De outro lado, ela entendeu que era necessário barrar o show considerando que o evento seria realizado e os valores despendidos não retornariam aos cofres públicos, ‘no caso de serem confirmadas as irregularidades’.

COM A PALAVRA, A PREFEITURA DE RIBEIRÃO CASCALHEIRA

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A reportagem do Estadão pediu manifestação da prefeitura de Ribeirão Cascalheira. O espaço está aberto. O texto será atualizado se a administração municipal enviar suas alegações ante a decisão judicial que barrou o show de Manu Bahtidão (pepita.ortega@estadao.com)

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