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Juíza condena delegado da antiga polícia política por incineração de 12 cadáveres da ‘Casa da Morte’ de Petrópolis

Cláudio Guerra, ex-integrante do DOPS no Espírito Santo, pegou sete anos de prisão denunciado pela remoção de vítimas de endereço de tortura do regime militar na região serrana do Rio e do DOI-CODI fluminense para fornos de usina de açúcar

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Por Pepita Ortega
Atualização:
Casa da Morte, em Petrópolis Foto: Tasso Marcelo/Estadão

A juíza Maria Isadora Tiveron Frizão, da 2ª Vara Federal de Campos dos Goytacazes, no Rio, condenou o ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) no Espírito Santo, Cláudio Antônio Guerra, a sete anos de prisão, em regime inicial semiaberto, pela ocultação dos cadáveres de 12 desaparecidos políticos da ditadura militar - período marcado por tortura, censura e assassinatos perpetrados pelo Estado. Ele também terá de pagar multa equivalente a pouco mais de R$ 10 mil.

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De acordo com a denúncia, Guerra recolheu os corpos dos militantes políticos na 'Casa da Morte' em Petrópolis e no Destacamento de Operações de Informação e Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) no Rio e os levou para serem incinerados nos fornos da Usina de Açúcar Cambahyba, em Campos. Os crimes ocorreram entre 1973 e 1975.

A Procuradoria diz que o próprio ex-delegado confessou os delitos no livro 'Memórias de Uma Guerra Suja' - uma biografia por ele escrita - e em depoimentos prestados perante a Comissão Nacional da Verdade e o Ministério Público Federal.

As vítimas dos atos de Guerra foram: Ana Rosa Kucinski Silva, Armando Teixeira Frutuoso, David Capistrano da Costa, Eduardo Collier Filho, João Batista Rita, João Massena Melo, Joaquim Pires Cerveira, José Roman, Luís Inácio Maranhão Filho, Thomaz Antônio da Silva Meirelles Neto, Wilson Silva e Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira.

Este último é pai do ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Felipe Santa Cruz. Em 2019, o ex-presidente Jair Bolsonaro provocou Santa Cruz citando o ativista.

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Os doze nomes constam da lista de 136 pessoas consideradas desaparecidas pelo relatório final da Comissão Nacional da Verdade.

A denúncia do MPF contra Guerra foi apresentada à Justiça em julho de 2019. Agora, a juíza Maria Isadora Tiveron Frizão reconheceu a atuação do ex-delegado como 'agente secreto do repressão' e destacou que os delitos sob análise seriam imprescritíveis uma vez que considerados crimes contra a humanidade.

"A par de sua participação em reuniões e execuções, foi incumbido de fazer desaparecer as evidências dos crimes perpetrados pelo Estado Brasileiro contra os opositores políticos. Assim, a partir de 1974, no marco do contexto de torturas, mortes e desaparições, uma estratégia em particular veio proposta pelo acusado e então adotada pelas forças de opressão: o transporte de cadáveres até Campos dos Goytacazes, a fim de que aqui fossem incinerados nos fornos da Usina de Açúcar Cambahyba".

COM A PALAVRA, O EX-DELEGADO

A reportagem busca contato com Cláudio Antônio Guerra. O espaço está aberto para manifestações.

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