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O legado triste da tragédia de Suzano, um ano depois

Por Rejane Dias
Atualização:
Deputada Rejane Dias. FOTO: CLAUDIO ANDRADE/AG. CÂMARA  

O massacre de Suzano completa um ano hoje e configura até aqui o maior atentado escolar no Brasil, depois de Realengo. E todos esses casos que levaram o tema da violência na escola às manchetes dos maiores jornais do mundo, deixam um legado: O que está sendo feito no Brasil para resgatar a cultura de paz na escola?

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A escola alvo do massacre, a Raul Brasil, era como outra qualquer no País, até escrever na história, uma demanda geral e urgente: a necessidade de uma política nacional de enfrentamento à violência na escola.

Desde 2002, ao menos 11 escolas brasileiras sofreram atentados por parte de alunos ou ex-alunos. O massacre de Suzano apenas engrossou uma lista de casos de violência com morte num País já acostumado a uma rotina de agressão e abuso portão adentro.

Quem conhece o chão da sala de aula ouve relatos de toda ordem: Violência verbal e física, assédio moral e desrespeito. Um cenário perfeito para uma onda de crimes num lugar onde a cultura de paz deveria garantir um ambiente favorável ao aprendizado.

Como presidente da Frente Parlamentar de Enfrentamento à Violência na Escola no Congresso Nacional, entendo que a vida escolar depois de Suzano absorveu pouco essa necessidade.

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FOTO: WERTHER SANTANA/ESTADÃO  

É preciso entender onde reside o problema. É a depressão que atinge cada vez mais cedo os alunos em idade escolar? É a negligência dos pais? É a internet? São os jogos e filmes? É a fixação por desafios? Onde estão os responsáveis pelos jovens que passaram ou estão passando por esses traumas ? Quais estudos o País tem hoje sobre a incidência de transtornos neurológicos na idade escolar?

Mais do que nunca, é preciso criar iniciativas que contribuam para o fortalecimento de uma rede de proteção dentro da escola, que envolva alunos, professores e pais. Já aprovamos recentemente a Lei que insere a presença de psicólogos e assistentes sociais nas Escolas. Sem dúvida, é o primeiro passo para garantir uma rede de acompanhamento psicossocial dentro da escola.

Paralelo a isso, nesse momento, estamos criando a Política Nacional de Enfrentamento à Violência nas Escolas, com diretrizes para a identificação e acompanhamento de casos de alunos violentos por parte de uma rede especializada.

Não merecemos que outra tragédia seja necessária para tomar uma atitude que contemple essa necessidade.

Hoje, no Brasil, o que vemos, são professores vitimados pela depressão. Muitos deles estão desistindo da carreira cada vez mais cedo. Não aguentam mais. A integração de uma rede de atendimento psicossocial é o primeiro passo para ouvi-los. Temos que colocar psicólogos, assistentes sociais, que conversem com os alunos e com os pais, que questionem a ausência deles, inclusive.

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A violência que gerou repercussão em Suzano ainda acontece no Brasil, em menor proporção. Todo santo dia um professor é agredido, todo santo dia alunos depredam a escola, outros desistem de estudar por causa da rotina de exaustão agravada pelo bullying. Por isso um debate como esse exige que demos a importância aos casos comuns, para que os crimes mais graves não encontrem abrigo.

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Pais e responsáveis, principalmente, terão função determinante nesse processo de transformação do ambiente escolar. São eles que precisam garantir o diálogo, o respeito e os valores básicos de convivência social. Precisam interagir mais, não só para detectar que são seus filhos as vítimas, mas também para descobrir que eles eventualmente podem ser os opressores. O momento é de olhar o passado, com visão de futuro para que a tragédia de Suzano seja apenas uma lembrança triste, de uma rotina de violência escolar que passou.

*Rejane Dias, deputada federal e presidente da Frente Parlamentar de Enfrentamento à Violência na Escola

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