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Opinião|O problema é aqui

convidado

A Nasa construiu um satélite a que chamou PACE – acrônimo em inglês para satélite de ecossistema de plâncton, aerossóis, nuvens e oceano. Sua função é revolucionar a compreensão da dinâmica entre atmosfera e oceanos. Custou 948 milhões de dólares, ou quase cinco bilhões de reais.

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Ele já foi lançado da Flórida, Cabo Canaveral e sobrevoará todas as regiões do planeta. É um procedimento útil para a comparação de imagens feitas em dias diferentes, mas sob idênticas condições de iluminação.

Uma câmera hiperespectral conseguirá observar de forma detalhada os oceanos terrestres e rastrear a distribuição de fito-plâncton, organismos protistas e bacterianos microscópicos, que vivem de fotossíntese. Não é mera curiosidade científica, dizem os cientistas. Os oceanos são repositórios importantes de dióxido de carbono e energia para todo o planeta e 75% da superfície da Terra é coberta por mares.

É importante essa missão. Mas será que esse quase bilhão de dólares não seriam melhor empregados em ações mais tangíveis? Ou seja: proteger as nascentes que desaparecem por cupidez e ignorância humana. Encontrar fórmulas de redução da excessiva e incrível produção de resíduos sólidos, estimular a utilização da economia circular e exigir a conversão das empresas à cultura da logística reversa?

A remoção de pessoas que ocuparam áreas de risco não é prioritária, em relação à descoberta mais exta da influência dos aerossóis na formação de nuvens? Se há fonte de incerteza em relação à modelagem do clima, existe certeza absoluta quanto à permanência de hábitos nocivos, que resultam em agravamento da crise climática e em risco maior para a saúde e para a sobrevivência de milhões de humanos.

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Custaria menos fazer uma campanha institucional de conscientização da população para acordar e se converter, abandonando práticas nefastas como a construção à margem de cursos d’água, reservatórios, lagos e represas. Conscientização quanto à urgência de replantio das árvores destruídas pela ganância ou que já tenham encerrado o seu ciclo vital. O mundo precisa de um trilhão de árvores, o Brasil de um bilhão e apenas a cidade de São Paulo de cerca de um milhão.

Será que isso não é prioritário quando se cuida de mudança climática? Investir em projetos dispendiosos enquanto a destruição prossegue célere na superfície, é ignorar que o perigo caminha rapidamente e que estudos mais alentados talvez não cheguem a tempo de evitar o caos final.

Somos especialistas em elaborar normas, em organizar eventos, em discutir os problemas. Nossa prática de resolução deles é miserável. Perdemos oportunidades irrepetíveis de melhorar nossa relação com a natureza. De que adianta fazer encontro de chanceleres no Rio, reunir Ministros das Finanças em São Paulo, sediar Fórum Brasileiro de Finanças Climáticas, aderir ao Plano de Transformação Ecológica em Dubai, se o comportamento dos milhões de terrestres que habitam este país continental continuar a ser cruel para com o ambiente.

Onde estão as soluções financeiras baseadas na natureza e os incentivos à bioeconomia?

O Brasil já firmou o Acordo de Paris, participou do Protocolo de Quioto, possui a Constituição Ecológica, assim chamada porque o seu artigo 225 foi considerada a mais bela norma fundamental já produzida no século XX, em todo o planeta. Fala-se em investimento superior a um trilhão de dólares em dez anos e na promessa de dois e meio trilhões de dólares para que os países emergentes consigam cumprir as metas climáticas do Acordo de Paris e deixar o uso de combustíveis fósseis.

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Mas é de se indagar se a realização de COPs tem resolvido o problema da carbonização, da produção exagerada de resíduos sólidos e do desmatamento. É óbvio que não. Há muito discurso, muito palavrório, muitas declarações ocas e estéreis. Na prática, o extermínio do verde continua e a maior parte da população não se incomoda com isso.

O problema está aqui, no nosso dia a dia, na nossa rotina inclemente e inconsequente, não na galáxia. Por sinal que a Terra poderá continuar a existir, mas prescindirá da espécie humana para isso. Você já pensou que é o que virá?

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo de Mudanças Climáticas de São Paulo
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