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Opinião|Sobre a infelicidade global

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convidado
Sandra Teschner Foto: Arquivo pessoal

Começo este artigo chamando a atenção para um fato cada vez mais inegável: nosso bem-estar impacta diretamente no resultado dos negócios. Por outro lado, também sabemos que a saúde mental da população em geral tem sofrido decréscimos potencializados pelos efeitos psicológicos da pandemia. E é neste ponto que lanço a pergunta: será que este descrédito não tem sido alimentado também pela forma como escolhemos narrar os fatos?

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Para estimular esse debate lembro que o Relatório Global de Emoções (feito anualmente pelo Instituto Gallup) registrou que, em 2022, o mundo alcançou o índice negativo mais alto desde 2006, ano em que começou a ser mensurado.

Embora este dado seja, sem dúvida, alarmante, para entendê-lo faço uma analogia entre a felicidade e o mundo dos negócios. Vocês sabiam que hoje a felicidade é um tema recorrente nos negócios? Isto porque embora seja intangível, já sabemos que é uma habilidade treinável e passível de ser aprendida. Esta qualidade a tornou, inclusive, um marcador econômico de riqueza, uma vez que impacta diretamente nos resultados das organizações. E isto faz todo sentido, pois pessoas mais felizes são, de fato, mais criativas, inovadoras, adoecem menos, vendem mais, ou seja, não investir em felicidade é um modelo realmente contra produtivo.

No entanto, como vivemos neste começo de século XXI imersos no viés negativo que ajudamos a propagar através das más notícias que compartilhamos, também pioramos os efeitos da negatividade (infelicidade) de modo mais amplo. E lembro que fazemos isto porque escolhemos o ponto de vista que chamará mais a atenção das outras pessoas. De forma simples e resumida, o que quero dizer é que no nosso primeiro cérebro (o sobrevivente) achamos que estar permanentemente atentos ao suposto perigo, em constante posição de fuga ou de luta, garante a nossa sobrevivência.

Mas o problema é que isto não é garantia de ‘sobrevivência’ ou seja, erramos feio o alvo, não conseguimos enxergar a ameaça real e, ainda, alimentamos emoções nefastas como ansiedade, raiva e angústia, entre outras, quando as compartilhamos sob a forma de notícias negativas. O que quero ‘dizer’ é que ao estimular emoções negativas, além de comprometermos nossa saúde física e mental, atentamos contra a possibilidade que temos de viver de forma longeva, uma vez que as doenças cardiovasculares, por exemplo, são as principais causas de morte.

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Aqui pontuo que além do prejuízo a nós mesmos, ocorre, coletivamente, um prejuízo sistêmico que envolve toda a sociedade.

Em relação ao Relatório que citei acima, outro exemplo: o que tem sido amplamente divulgado pela mídia e compartilhado nas redes sociais é uma interpretação que também segue a linha do “quanto pior, melhor.” Enquanto o que a pesquisa mostra, de fato, é que preocupações, estresse e tristeza tiveram ligeira queda, em relação a 2021, mas o número de pessoas que dizem sofrer dores físicas aumentou um ponto, enquanto a porcentagem daquelas que afirmaram sofrer raiva, permaneceu inalterado.

Destaco, ainda, que as emoções positivas também sofreram alterações e se recuperaram em 2022, mostrando que, sim, sorrimos mais, experimentamos mais prazer e temos até a sensação de que estamos sendo tratados com mais respeito. O que quero ressaltar é que não estamos mais infelizes, como uma interpretação superficial do Relatório Gallup pode dar a entender. Experimentamos, intensamente, tanto algumas emoções negativas quanto outras positivas.

Esta percepção mais real da Felicidade, por sua vez, comprova que ela é um construto, uma soma de fatores que incluem as emoções boas e ruins. E também nos mostra que o autocuidado, a busca por um sentido de vida, por construir relacionamentos interpessoais qualitativos, a realização pessoal e o engajamento são aspectos importantes quando se trata de construir, diariamente, a Felicidade.

É certo que estamos longe de viver uma vida plenamente feliz, mas a boa notícia é que podemos, de fato, mudar isto, podemos aprender a ser mais felizes e de bem com a vida. E este aprendizado é o verdadeiro preditor de sucesso.

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Parece que todos já sabemos que felizes produzem mais. Recentemente, fui questionada, inclusive: por que são necessários estudos, levantamentos, pesquisas mediante tamanha obviedade? Neste contexto, surge a dúvida: como? Outras vezes me deparo com pessoas que demonstram um certo enfado diante as teorias e da pauta em si. Afinal, não faltam definições: o que é, o que não é felicidade. Porém, as pessoas ainda não sabem esta resposta: como? Na busca desta solução, é fundamental o entendimento de que a felicidade é uma ciência, algo treinável, praticável e realizável, diferente de muitas metas estabelecidas mundo afora. Esta não é a resposta total, no entanto, já representa uma premissa básica que deve ser considerada por quem quer ser feliz. Concluo que faz parte ou deveria fazer do ecossistema empresarial o investimento no bem-estar e felicidade dos colaboradores, já que empresas podem tornar pessoas e equipes mais felizes, consequentemente com maior sinergia, mais confiantes, mais competitivas, mais produtivas, inovadoras, criativas, ágeis e flexíveis.

*Sandra Teschner é criadora da formação de Chief Happiness Officers em parceria com a MUST University Florida. Administradora de empresas, pós-graduada em Neuropsicologia, mestranda em Psicologia Organizacional, CHO pela FIU/USA, empreendedora social

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