Bolsonaro é alvo de ação de vereadoras por frases homofóbicas sobre varíola dos macacos no Flow

Representação afirma que presidente cometeu crime contra a saúde pública e LGBTQfobia ao relacionar, de forma pejorativa e preconceituosa, a comunidade LGBT+ a disseminação da doença

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Foto do author Natália Santos
Atualização:

A vereadora de São Paulo Erika Hilton (PSOL) e a vereadora suplente de Porto Alegre Natasha Ferreira (PSOL) acionaram o Ministério Público Federal (MPF) nesta quarta-feira, 10, contra falas homofóbicas do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante participação no Flow Podcast na segunda, 8. Segundo as parlamentares, o chefe do Executivo cometeu crime de LGBTQfobia ao relacionar, de forma pejorativa e preconceituosa, a doença varíola dos macacos (monkeypox) com representantes da comunidade LGBT+.

Durante a entrevista, Bolsonaro perguntou ao apresentador Igor Coelho se ele tomaria vacina contra a varíola dos macacos. Coelho afirmou que sim, e o presidente, em tom cômico, comentou: “Eu tenho certeza que vai tomar... Tu não me engana! Tu não me engana!”.

A vereadora de São Paulo Erika Hilton e a vereadora suplente de Porto Alegre Natasha Ferreira acionaram o Ministério Público Federal contra falas homofóbicas do presidente Bolsonaro durante participação no Flow Podcast Foto: Reprodução/Divulgação

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Segundo a ação das vereadoras, é possível encontrar “piadinhas, deboche, ironia e homofobia” em cada palavra dita por Bolsonaro nesse trecho do programa. O tom da conversa deriva do fato de haver alta incidência da doença entre “homens que fazem sexo com homens” (HSH), o que tem proporcionado uma onda de comentários preconceituosos, homofóbicos e desinformação sobre o assunto e as formas de contágio.

A situação é equiparada, para muitos, com o cenário de repulsa que a comunidade LGBT+ viveu na década de 1980, quando foi alvo perseguição motivada pela epidemia do HIV/Aids.

“Fica evidente que os dizeres ‘tu não me engana, tenho certeza que tu vai tomar e tu não entendeu né?’ são claras menções LGBTQfóbicas do presidente, nas quais ele insinua que ao tomar a vacina o entrevistador seria gay e, por isso, estaria preocupado com a doença”, afirma o documento.

Ao Estadão, a vereadora Erika Hilton, que é trans, afirmou que a ação é uma forma de impedir que o presidente tente pautar o debate público com violência. “Se tem algo que Bolsonaro aprendeu nesses anos é cometer crimes contando com a impunidade, disfarçando suas falas como piadas. Entramos no Ministério Público novamente, pois nenhum tipo de estigma negativo e violência, desde os mais sutis aos mais explícitos, podem passar impune”, disse.

Em rede social, a parlamentar travesti Natasha Ferreira afirmou que o estigma de que a doença está relacionada com comportamento homossexual tem feito parte do discurso de grupos conservadores contra a comunidade LGBT+. “Quando Bolsonaro faz esse tipo de piada nas entrelinhas, tenta se proteger, mas deixa evidente o preconceito e a mensagem de discriminação é entregue. Homofobia é crime no Brasil. Não vamos silenciar”, disse.

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Mesmo que o vírus tenha se espalhado mais rapidamente entre homens gays e bissexuais, especialistas alertam que a contaminação pode migrar para outros grupos. Em São Paulo, por exemplo, o governo estadual informou na quinta-feira, 4, que duas grávidas, cinco crianças e cinco adolescentes foram diagnosticados com a doença.

Além do crime de LGBTQfobia, a ação também acusa Bolsonaro de crime contra a saúde pública, uma vez que, segundo o documento, o chefe do Executivo deixa a entender que não fará o uso da vacina, um cenário semelhante ao da vacinação contra covid-19. “Bolsonaro, novamente, ironiza o uso da vacina para proteção da chamada varíola dos macacos, sabendo-se que esta doença é contagiosa, que está fazendo diversas vítimas e contaminando inúmeras pessoas, mas, mesmo assim, debocha e refuta o uso de vacinas para o tratamento e proteção da doença.”

No final de julho, a OMS reconheceu o avanço da varíola dos macacos como uma emergência global de saúde. A entidade levou em consideração o cenário “extraordinário” da doença, que já chegou a mais de 70 países. Em São Paulo, são 67 os municípios que registraram casos.

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