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Bolsonaro não aceita discutir futuro político e adia conversa sobre oposição a Lula, dizem aliados

Segundo aliados, presidente não está disposto a tratar agora sobre que conduta política terá a partir de 2023

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Por Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA – Em silêncio desde que perdeu as eleições para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente Jair Bolsonaro não aceitou, até agora, discutir o seu futuro político com aliados. Apesar da derrota, Bolsonaro ainda é um líder popular de direita e deve comandar a oposição ao governo Lula, mas ainda não disse como pretende fazer isso fora do poder.

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Na noite deste domingo, 30, pouco antes da virada de Lula, o presidente ainda achava que poderia vencer a disputa, com uma margem de 1,2 milhão de votos. Quando percebeu que não tinha mais chance, ele se recolheu. Aos poucos que tentaram puxar conversa sobre seus próximos passos, como o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), Bolsonaro ficou quieto.

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Mesmo filiado ao PL, o chefe do Executivo não tem influência no partido, que é presidido por Valdemar Costa Neto. O PL integra o Centrão e é dono da maior bancada na Câmara, com 99 deputados, mas uma parte da legenda já admite negociar com o governo Lula.

Como não terá um partido para si, Bolsonaro poderia até mesmo retomar a tentativa de criar uma sigla de direita, como a Aliança pelo Brasil, que não conseguiu sair do papel. Aliados dizem, porém, que não há sinais de mobilização para isso. Tampouco veem Bolsonaro à frente de um instituto que leve seu nome, como fizeram ex-presidentes.

“Eu acho que ele vai se recolher. Ele sempre reclamou muito, dizendo ‘O que eu estou fazendo aqui? Poderia estar na minha chácara, pescando’”, disse o deputado eleito Alberto Fraga (PL-DF), amigo de Bolsonaro há 40 anos, numa referência aos hábitos de pescar na região de Angra dos Reis (RJ), onde tem uma casa, na Vila de Mambucaba. “Do jeito que ele não tem ligação com a mídia, quando deixar de ser presidente ninguém vai procurar Bolsonaro. Político sem mandato é abelha sem ferrão.”

Fraga afirmou, ainda, que Bolsonaro pode se candidatar novamente ao Planalto, em 2026. “O que pode acontecer é o que aconteceu com (o ex-presidente dos Estados Unidos Donald) Trump. Na próxima, é ele quem vai disputar, a depender, evidentemente, se não tiver outros nomes, como Zema e Caiado”, observou, em alusão aos governadores de Minas, Romeu Zema, e de Goiás, Ronaldo Caiado.

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Bolsonaro sempre se queixou da tarefa de presidir o País. Reclamava de falta de privacidade, de cansaço, de tempo para se distrair e chegou a dizer que não levava jeito para ser presidente. “Não tinha nada para estar aqui. Nem levo jeito”, disse ele ao discursar em fórum de investimentos, em junho. “Nasci para ser militar. Entrei na política por acaso”, completou.

O presidente Jair Bolsonaro se mantém em silêncio horas após a derrota para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.  Foto: Wilton Junior/Estadão

Às vésperas do primeiro turno, o presidente deu uma indicação de falta de expectativa para o futuro, ao falar a um podcast de influenciadores evangélicos. “Se for a vontade de Deus, eu continuo. Se não for, a gente passa aí a faixa e vou me recolher. Porque, com a minha idade, eu não tenho mais nada a fazer aqui na Terra, se acabar essa minha passagem pela política, aqui”, declarou.

Aposentadoria

Fora do poder, além de aposentadoria de militar e de deputado federal, Bolsonaro tem direito a uma estrutura de 8 funcionários, incluída segurança pessoal para si e família, e mais dois veículos para deslocamento no País. Os custos dos servidores ligados ao Palácio do Planalto são cobertos pela União.

Depois de condicionar o reconhecimento do resultado a “eleições limpas”, o presidente disse, após o debate na TV Globo, na sexta-feira, 28, que “quem tiver mais votos leva”. Mesmo assim, ainda paira sobre o Planalto o possível questionamento da derrota, a partir de parecer sobre a fiscalização realizada pelas Forças Armadas.

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O entorno do presidente, de políticos a militares, apostava que haveria “convulsão social” com a derrota dele. Um dos mais íntimos auxiliares de Bolsonaro disse ao Estadão, sob reserva, que o futuro do candidato à reeleição sempre foi tema vetado no comitê de campanha. Segundo ele, “não se falava sobre isso”, nem mesmo sobre quais seriam os potenciais herdeiros do bolsonarismo, porque todos evitavam pensar na hipótese de derrota.

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Nas últimas semanas, a campanha tentou levantar suspeitas sobre pesquisas eleitorais e inserções de propaganda nas rádios, que segundo o comitê, prejudicariam o presidente e favoreceriam Lula.

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Para se reerguer politicamente, a estratégia de Bolsonaro seria apostar na presença consolidada nas redes, a maior do Brasil, nos 58,2 milhões de votos e no País rachado, além do crescimento da bancada conservadora no Congresso.

Amigos do presidente consideram que ele deverá enfrentar uma leva de processos judiciais sobre a gestão, que poderá condicionar sua capacidade de voltar a disputar eleições. A aposta de políticos de direita é de que o governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), herde parte do bolsonarismo no lugar dos filhos parlamentares de Bolsonaro, como o senador Flávio (PL-RJ), o deputado Eduardo (PL-SP) e o vereador Carlos (Republicanos-RJ). Tarcísio, porém, procurou marcar diferenças com o presidente ao longo da campanha e se afastar de extremismos.

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