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Boulos minimiza pedido de voto de Lula e diz que Nunes é quem usa máquina pública para campanha

Pré-candidato disse que presidente expressou seu “desejo de voto” ao pedir voto, o que a legislação veda, e afirmou que prefeito é “cara de pau”; prefeitura não se posicionou sobre as declarações

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Foto do author Pedro Augusto Figueiredo
Por Pedro Augusto Figueiredo
Atualização:

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) saiu em defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta quinta-feira, 2, e disse que o chefe do Executivo federal expressou seu “desejo de voto” e que não é “segredo” que o petista apoia sua pré-candidatura a prefeito de São Paulo. O pedido de vota de Lula para Boulos ocorreu em um ato das centrais sindicais para marcar o feriado 1º de Maio, o que é uma infração eleitoral por ocorrer fora do período de campanha.

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Embora a fala tenha sido alvo de ações judiciais de pré-candidatos como Marina Helena (Novo) e Kim Kataguiri (União), Boulos focou os ataques no prefeito Ricardo Nunes (MDB), que também acionou a Justiça e com quem aparece empatado tecnicamente na liderança nas últimas pesquisas eleitorais. Mais cedo nesta quinta-feira, o emedebista disse que o governo federal está “utilizando a máquina” e “baixando Brasília inteira” para fazer campanha para o pré-candidato do PSOL.

“Eu fico estarrecido com a cara de pau do prefeito Ricardo Nunes. Ele está usando a máquina pública há um ano para fazer campanha eleitoral”, disse Boulos à imprensa após se encontrar com estudantes da Fundação Getúlio Vargas (FGV) no fim da tarde desta quinta-feira. De acordo com o pré-candidato, Nunes utiliza eventos e inaugurações da prefeitura para criticá-lo, mesmo quando as ações não estão relacionadas à campanha, como entregas de postos de saúde e recapeamento de ruas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu votos no pré-candidato a prefeito Guilherme Boulos durante a celebração do dia 1º de Maio no estacionamento da Neo Química Arena, na zona leste de São Paulo Foto: Taba Benedicto/Estadão  Foto: Taba Benedicto/Estadão

“O presidente Lula fez uma fala no evento das centrais sindicais, não era um evento oficial do governo federal, expressando o desejo de voto dele, o posicionamento político dele nas eleições que não é segredo para nenhum de vocês”, continuou Boulos.

O pré-candidato do PSOL adotou a mesma linha de que seu coordenador de campanha, Josué Rocha, que em nota na quarta-feira disse Nunes “tenta criar uma cortina de fumaça para despistar o uso de eventos oficiais da Prefeitura, realizados com dinheiro público, para a promoção de sua candidatura à reeleição”. Rocha faz menção a uma notícia do site Metrópoles de que uma supervisora de saúde da subprefeitura de Perus teria orientado servidores públicos a comparecerem sem identificação em evento da gestão municipal.

Após a publicação desta matéria, Ricardo Nunes se manifestou na manhã desta sexta-feira, 3, sobre as declarações de Boulos. “A imprensa é testemunha de que, quando cito o nome desse senhor, é para defender a minha honra, a da cidade e a dos cidadãos que têm suas propriedades invadidas. Eu devo satisfação somente à população de São Paulo, que reconhece o nosso trabalho, como mostram as pesquisas. Já o deputado, deve satisfação à Justiça”, disse o prefeito.

No início da tarde, a Justiça já havia ordenado que Lula removesse o vídeo do discurso de seu canal oficial no Youtube, o que já foi feito pela equipe do presidente. O juiz eleitoral Paulo Eduardo de Almeida Sorci, da 2ª Zona Eleitoral de São Paulo, entendeu que houve propaganda eleitoral fora do período de campanha, que começa oficialmente apenas em 16 de agosto.

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Lula e Boulos podem ser multados de R$ 5 mil a R$ 25 mil, conforme especialistas ouvidos pelo Estadão. Porém, há divergências se a declaração do presidente da República pode resultar na cassação da futura candidatura do deputado do PSOL e tornar Lula inelegível. O debate é se a fala configura abuso de poder político, econômico e dos meios de comunicação, já que foi transmitida pela Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), que retirou o vídeo do evento de seu canal no YouTube.

“Ele está disputando com o nosso adversário nacional, ele está disputando contra o nosso adversário estadual e ele está disputando contra o nosso adversário municipal. Então, ele está enfrentando três adversários e, por isso, eu quero dizer para vocês, ninguém derrotará esse moço aqui se vocês votarem no Boulos para prefeito de São Paulo nas próximas eleições. E eu vou fazer um apelo, cada pessoa que votou no Lula, em 1989, em 1994, em 1998, em 2006, em 2010 e em 2022, tem que votar no Boulos para prefeito de São Paulo”, discursou o presidente.

Eu vou fazer um apelo, cada pessoa que votou no Lula, em 1989, em 1994, em 1998, em 2006, em 2010 e em 2022, tem que votar no Boulos para prefeito de São Paulo

Lula, em discurso no ato das centrais sindicais

O ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta (PT), disse ao Estadão que a fala de Lula não afronta a legislação eleitoral. “O que ocorreu foi uma manifestação de apoio político, de menção ao cargo a ser disputado e da plataforma de governo a ser defendida, nos termos do artigo 36-A da Lei 9.504, de 1997 (a Lei das Eleições)”, afirmou o petista.

O ato de 1º de Maio realizado pelas centrais sindicais recebeu R$ 250 mil da São Leopoldo Mandic, faculdade privada de medicina sediada em Campinas (SP) que repassou o recurso via Lei Rouanet, e teve patrocínio de R$ 3 milhões da Petrobras. Batizado de Festival Cultura e Direitos, o evento teve apresentações dos rappers Dexter, Afro X e Roger Deff, além dos pagodeiros Ivo Meirelles, Arlindinho e Almirzinho. A apresentação ficou por conta de Sérgio Loroza e da MC Pamelloza.

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Em nota, a faculdade disse que apoiou a iniciativa organizado pela empresa Veredas Gestão Cultural e que patrocina “inúmeros eventos culturais e esportivos por todo Brasil” porque tem compromisso social com a promoção da saúde e qualidade de vida dos brasileiros. “Ressaltamos que a São Leopoldo Mandic não participa ou exerce qualquer atividade partidária, sendo uma instituição apolítica”, afirmou a instituição.

O Conselho Nacional do Sesi (Serviço Social da Indústria), que também patrocinou a cerimônia, disse ao site Poder 360 que não apoia “eventos políticos partidários”. “O evento que o Conselho do Sesi apoiou foi o Ato do 1º de Maio unificado das centrais sindicais do país. Evento destinado a celebrar a luta e a organização dos trabalhadores e trabalhadoras”, afirma a nota enviada ao site.

A declaração de Lula também teve consequências políticas. O presidente do MDB, Baleia Rossi, cujo partido tem três ministérios e é base do governo no Congresso Nacional, criticou a fala do chefe do Executivo. “Em vez de ofertar esperança aos trabalhadores no 1º de Maio o, o presidente da República foi a São Paulo com a estrutura do governo para fazer campanha eleitoral contra o MDB”, disse ele.

Secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, classificou o discurso como “erro grave”. A entidade tem se aproximado de Ricardo Nunes e o seu braço partidário, o Solidariedade, já declarou apoio a reeleição do prefeito.

A deputada federal Tabata Amaral (PSB), em terceiro nas pesquisas, evitou fazer críticas sobre o episódio e disse que sua equipe jurídica ainda avalia o caso. Seu partido faz parte do núcleo duro do governo Lula e tem entre seus quadros o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que inclusive estava no palco do ato do 1º de Maio com boné da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

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