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Campanha reforça crise de identidade partidária; leia análise

Jogo de esconde-esconde dos candidatos revela estratégia de marketing eleitoral

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Por Francisco Leali
Atualização:

A campanha eleitoral começou para valer esta semana com os políticos se mostrando pela metade. Divulgam a foto, mostram o número que estará na urna eletrônica, mas o partido ao qual pertencem virou um detalhe. Ou melhor, uma informação dispensável que o candidato prefere não expor. O jogo de esconde-esconde da sigla revela mais do que uma estratégia de marketing eleitoral. Expõe, mais uma vez, que a maioria dos partidos, instituições que deveriam reunir nomes e ideias para enfrentar os problemas do País, sofre de uma crise de identidade.

O político que sai à caça do voto do eleitor e não conta a que legenda está filiado parece se lançar como candidato de si mesmo. Diz, sem dizer, que não importam muito as ideias que a sigla professa. Não por acaso, o partido que aparece no levantamento com um dos mais baixos índices de identificação com o partido é o PL. A legenda tem o presidente da República Jair Bolsonaro como seu maior expoente. Ele mesmo não era da legenda até outro dia. Elegeu-se em 2018 pelo desconhecido PSL.

O troca-troca de siglas, hábito ainda recorrente, contribui para provocar efeito duplo: enfraquece a própria identidade partidária e confunde o eleitor, que já não sabe que partido está prestigiando quando escolhe político A ou B.  Foto: Dida Sampaio/Estadão

A sigla que hoje abriga Bolsonaro já deu sustentação política ao governo do petista Luiz Inácio Lula da Silva e teve o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, incluído na lista dos réus do mensalão, o esquema criado para trocar benefícios financeiros por apoio parlamentar.

Pesquisas de opinião costumam colocar os partidos na rabeira das instituições mais confiáveis. O troca-troca de siglas, hábito ainda recorrente, contribui para provocar efeito duplo: enfraquece a própria identidade partidária e confunde o eleitor, que já não sabe que partido está prestigiando quando escolhe político A ou B.

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Quando as próprias agremiações vão atrás de nomes sem vinculação alguma com seu programa e estatuto acabam contribuindo para reforçar o círculo vicioso em que nem o candidato nem a agremiação parecem se importar com a infidelidade de falas e ideias que um e outro defendem.

Há que se registrar que existem partidos com estruturas fortes, filiação cativa e que não estão escondidos pelos seus deputados que disputam a reeleição. Mas essa não é a lei que vigora na política brasileira, onde um partido pode ser alugado por tempo e propósito determinados.

JORNALISTA DO ‘ESTADÃO’ EM BRASÍLIA

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