Num momento em que o presidente Lula mede forças com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em meio às tratativas para a reforma ministerial, a crítica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, à força dos congressistas empoderou, ainda mais, a ala do Centrão que quer espaço no governo. Resultado: é Lula quem vai pagar a conta pela gafe do ministro.
Na reunião do Colégio de Líderes nesta terça, 15, deputados queriam que Arthur Lira soltasse uma nota formal de repúdio às declarações de Haddad, por considerarem que era um ataque à Câmara. Mas Lira freou o movimento e, num só gesto, conseguiu evitar constrangimento maior ao ministro da Fazenda e ainda ficou bem entre os pares, pois já tinha rebatido ele mesmo as falas de Haddad.
Lira havia afirmado nas redes sociais que as declarações de Haddad eram “manifestações enviesadas e descontextualizadas”, que não contribuem para o “processo de diálogo” e a “construção de pontes”.
No Colégio de Líderes, deputados perguntavam o motivo de o ministro ter elevado o tom daquela maneira contra a Câmara. No Planalto, segundo interlocutores, a leitura foi de que houve “excesso de confiança” de Haddad durante a entrevista e que ele não ponderou as consequências políticas das afirmações.
De acordo com os relatos obtidos pela Coluna, na reunião desta terça, o líder do governo, José Guimarães (PT-CE), pediu um voto de confiança no ministro e destacou a boa relação de Haddad com os parlamentares, desde o período da transição. De toda forma, a votação do arcabouço foi adiada novamente e é o presidente Lula quem vai ter de afagar Lira e o Centrão para tentar formar base na Câmara.
Aliados de Arthur Lira fazem questão de ressaltar, por exemplo, que ele não será cobrado por seus eleitores se votar o arcabouço agora ou só no ano que vem. Mas Lula já pagará a conta imediata de ter de voltar à regra do teto de gastos se não conseguir aprovar o novo texto na Câmara.