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Coluna do Estadão

| Por Roseann Kennedy

Roseann Kennedy traz os bastidores da política e da economia, com Eduardo Gayer e Augusto Tenório

Bastidores: Lula e Dino perdem discurso contra GLO e precisam dos militares na segurança

Ala do PT culpa ministro da Justiça por necessidade de uso das Forças Armadas; Dino nega que governo tenha mudado de postura com argumento de que GLO será usada em áreas federais

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Por Roseann Kennedy

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdeu o discurso contrário ao uso de GLO - Garantia da Lei e da Ordem - e teve de recorrer aos militares para reforçar a segurança pública e o combate ao crime organizado no País. O anúncio da medida, nesta quarta, 01, causou desconforto entre alguns petistas que atribuíram ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, a “culpa” por ter que fazer o governo recorrer aos militares.

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Entre os críticos, a reclamação foi de que, na expectativa de ser indicado ao Supremo Tribunal Federal e na ânsia de fazer seu sucessor na pasta, Dino escalou o secretário-executivo, Ricardo Cappelli, para ficar falando de segurança pública e colocou a crise no colo do governo Lula. Mas, sem um plano efetivo para o setor, o jeito foi apelar às Forças Armadas.

A medida vai na contramão do que o próprio presidente Lula havia falado e pedido desde o início de sua gestão. No primeiro semestre, por exemplo, o governo chegou a discutir com representantes das Forças Armadas mudanças e até, eventualmente, o fim do uso de GLO.

Ministro da Justiça, Flávio Dino, e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em anúncio sobre o uso de GLO para reforçar o combate ao crime organizado no País.  Foto: Wilton Junior/Estadão

As conversas envolveram, entre outras pessoas, o próprio Dino. Uma das ideias, rechaçada entre representantes do Exército, por exemplo, conforme apurou a Coluna, envolvia dar autorização para a GLO ser determinada por ministros.

Em outra frente para contrariar os militares, Lula pediu ao Congresso a retirada do projeto de lei, apresentado na gestão Bolsonaro, que previa isentar militares e policiais de punição em ações durante operações de garantia da lei e da ordem.

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Com a constatação de que a área mais impopular do governo é a da segurança, houve até a tentativa de lançar um plano nacional às pressas. Mas, como era mais anúncio que medida real, o jeito foi abandonar o discurso contra o apoio de militares e recorrer à GLO.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que costuma dar o tom do discurso da ala mais à esquerda do partido, foi às redes sociais defender as medidas anunciadas, mas sem citar o reforço militar na operação. “Segurança pública e combate ao crime é compromisso que Lula está cumprindo com iniciativas fortes, sem pirotecnia”, afirmou.

Flávio Dino nega mudança de postura do governo Lula com uso de GLO

O ministro da Justiça, Flávio Dino, negou que o governo Lula esteja mudando de postura, com o argumento de que a GLO será usada em áreas federais e não em locais onde atua a segurança pública estadual. https://www.estadao.com.br/politica/nao-quero-forcas-armadas-nas-favelas-brigando-com-bandido-diz-lula-sobre-acao-militar-no-rio/

“Essa GLO está incidindo sobre áreas federais e, portanto, o presidente da República, quando falou reiteradas vezes, inclusive na semana passada, se referia a GLOs em bairros, ruas, comunidades. Isso não está ocorrendo agora. Essa GLO incide sobre áreas que já são federais”, disse Dino na entrevista de anúncio das medidas.

O presidente Lula deixou a coletiva antes de responder perguntas dos jornalistas.

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Na semana passada, Lula afirmou que não enviaria as Forças Armadas para intervir na crise de segurança pública do Rio de Janeiro. Não foi só: avisou que, enquanto ocupar o Palácio do Planalto, não haveria decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

“Eu não quero as Forças Armadas nas favelas brigando com bandido. Não é esse o papel das Forças Armadas e, enquanto eu for presidente, não tem GLO. Eu fui eleito para governar esse País e vou governar”, disse Lula em café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto.

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