PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Coluna do Estadão

| Por Roseann Kennedy

Roseann Kennedy traz os bastidores da política e da economia, com Eduardo Gayer e Augusto Tenório

Crítica de comandante da Marinha a homenagem a ‘almirante negro’ faz Lindbergh cobrar retratação

Deputado do PT visita família de líder da Revolta da Chibata após Olsen manifestar contrariedade com inclusão do nome de marinheiro no Livro dos Heróis da Pátria

Foto do author Vera Rosa
Por Vera Rosa
Atualização:

A crítica feita pelo comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, ao projeto de lei que propõe a inclusão de João Cândido Felisberto, líder da Revolta da Chibata, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria provocou novo mal-estar do PT com os militares. Autor do projeto, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) cobra agora a “retratação” de Olsen.

Em carta endereçada na segunda-feira, 22, ao presidente da Comissão de Cultura da Câmara, Aliel Machado (PV-PR), o comandante da Marinha manifestou contrariedade com a homenagem proposta a João Cândido.

O comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, disse, em carta enviada à Comissão de Cultura da Câmara, que "resta notável diferença entre reconhecer um erro e enaltecer um heroísmo infundado". Foto: Marinha do Brasil. Foto: Marinha do Brasil

PUBLICIDADE

(...) A Força Naval não vislumbra aderência da atuação de João Cândido Felisberto na Revolta dos Marinheiros com os valores de heroísmo e patriotismo; e sim, flagrante que qualifica reprovável exemplo de conduta para o povo brasileiro”, diz trecho da carta de Olsen.

Ocorrida em novembro de 1910, na Baía da Guanabara, a Revolta da Chibata foi um levante de marinheiros de baixa patente contra os castigos recebidos. Embora o uso da chibata na Marinha tivesse sido abolido em 1889, na prática continuou ocorrendo, a critério dos oficiais. Assim, num contingente composto por 90% de negros, marujos eram punidos como no tempo da escravidão. O líder do motim foi João Cândido, apelidado de “almirante negro”.

Olsen classificou os castigos levados a cabo nos navios como “prática inaceitável”, mas observou que “resta notável diferença entre reconhecer um erro e enaltecer um heroísmo infundado” naquela “deplorável página” da história do Brasil.

Publicidade

“Nos dias atuais, enaltecer passagens afamadas pela subversão, ruptura de preceitos constitucionais organizadores e basilares das Forças Armadas e pelo descomedido emprego da violência de militares contra a vida de civis brasileiros é exaltar atributos morais e profissionais, que nada contribuirá ao pleno estabelecimento e manutenção do verdadeiro Estado Democrático de Direito”, escreveu o comandante.

O deputado Lindbergh Farias diz que família de João Cândido se sentiu "aviltada" com manifestação do comandante da Marinha. Foto: André Dusek/Estadão

Lindbergh irá nesta sexta-feira, 26, a São João do Meriti (RJ), acompanhado da deputada Benedita da Silva (PT-RJ), relatora do projeto de lei, visitar Adalberto do Nascimento Cândido, filho de João Cândido.

“Olsen deveria se retratar publicamente”, disse o deputado. “Vou levar minha solidariedade à família do líder da Revolta da Chibata, que se sentiu aviltada com a manifestação do comandante da Marinha, até mesmo em respeito à luta do povo negro”, completou ele.

A homenagem a João Cândido já foi aprovada no Senado e agora está sob análise da Câmara. Na carta ao presidente da Comissão de Cultura, Olsen admitiu não ser competência da Marinha julgar argumentações daquela Casa, mas deixou claro esperar que os deputados rejeitem a inscrição do nome de João Cândido no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.