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Coluna do Estadão

| Por Roseann Kennedy

Roseann Kennedy traz os bastidores da política e da economia, com Eduardo Gayer e Augusto Tenório

Genoino ‘no divã': cobrança a Lula, crítica a acordo com Lira e defesa da polarização

Ex-presidente do PT disse ter quebrado a cara, alertou para cooptação do governo e pediu ‘militância rebelde’; veja as análises acompanhadas pela Coluna do Estadão

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Foto do author Eduardo Gayer
Por Eduardo Gayer

Ex-presidente do PT e um dos quadros históricos do partido, José Genoino nega interesse em voltar a ser candidato — ele foi deputado federal por 24 anos —, mas manterá o estilo contestador no retorno discreto que tem feito à vida política. Na Conferência Eleitoral do PT, em Brasília, Genoino levou a militância petista e o terceiro governo Lula ao divã.

Em manifestação reservada a filiados, acompanhada pela Coluna, Genoino cobrou uma plataforma clara dos projetos do Palácio do Planalto. Também criticou a aliança dos correligionários com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e saiu em defesa da polarização que marca o PT.

O ex-deputado federal José Genoino. Foto: Alex Silva/Estadão.

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“Está faltando uma plataforma clara para dizermos ‘Lula, estamos contigo, mas...’, ou ‘Lula, estamos contigo para tal e tal’. Tem que ser assim. Temos que criticar o governo. O governo é uma instância, o partido é outra. Não podem se misturar”, avaliou o ex-dirigente partidário. Nessa dualidade, seu lado ficou claro: “Estou sem cargo e sem voto, e não quero nem voto nem cargo”.

Genoino foi condenado e preso no processo do mensalão, e teve a pena extinta pelos critérios de um indulto natalino assinado em 2015 pela então presidente Dilma Rousseff. Ele é irmão do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e autor do livro Constituinte – Avanços, Heranças e Crises Institucionais, um resgate histórico da elaboração da Constituição brasileira.

Em uma sala reservada, ao comentar com militantes sobre eleições e trabalho de base, Genoíno chamou a institucionalidade brasileira de “oligárquica” e o sistema de Justiça de “autoritário”. “Eu quebrei a cara e faço autocrítica”.

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Foto de 2003. No Palácio do Planalto, após um almoço com lideranças, estavam juntos o então presidente do PT, José Genoino, o à época ministro da Casa Civil, José Dirceu, o presidente Lula e o presidente do Senado, José Sarney. Foto: ED FERREIRA/ESTADÃO CONTEÚDO

Para o ex-presidente do PT, Lula e seus aliados deram muito poder a Arthur Lira. “Tínhamos que ter negociado da seguinte maneira: primeiro, defender a plataforma do governo. Segundo, a gente peita. Terceiro, negociar, porque não vamos virar a mesa. Você tensiosa, mas não rompe a corda. Tem que tensionar, tem que polarizar”.

“A história desse partido é luta, polarização e enfrentamento. Nega a negociação? Não. Porque quem luta pelo mais, negocia pelo menos. Quem luta só pelo menos, não ganha nem as migalhas”, disparou, entre aplausos dos colegas.

Pediu, em seguida, uma “militância rebelde”, quando expôs seu novo estilo mais “radical” — e pouco adepto às conciliações de classes, uma tônica da primeira era petista. “Quando você chega no governo e não muda as estruturas, ou você é derrubado ou é cooptado. O Estado burguês não permite outra alternativa. Por isso você tensiosa. Ou começa a ser domesticado pela beleza da institucionalidade.”

Genoino se declara um anticapitalista, socialista e petista. Diz ter aprendido com a vida sobre a melhor forma de fazer política ao longo dos anos. Para ele, governabilidade se dá com um pé dentro da institucionalidade e um pé fora. “É uma equação correta. É um pé no Palácio e um pé na rua”.

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