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Roseann Kennedy traz os bastidores da política e da economia. Com Eduardo Barretto e Iander Porcella

'Não é hora de pensar em política', diz advogada de mulher que pichou estátua do STF

Advogada afirma ter sido procurada por cinco partidos para eventual candidatura de cliente, em prisão domiciliar; antes de liberar volta do julgamento, ministro Luiz Fux apontou ‘penas exacerbadas’ 

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Foto do author Eduardo Barretto
Atualização:

A advogada Tanieli Telles, defensora da cabeleireira Débora Santos, que pichou “perdeu Mané” na estátua “A Justiça” durante os atos golpistas do 8 de Janeiro, aconselhou a cliente a “não pensar em política” agora. Ela conta que foi procurada por cinco partidos de direita e de centro, interessados numa eventual candidatura de sua cliente.

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“A imagem que ela representa é o sonho de muitas siglas. Mas eu disse a ela que não é o momento de pensar em política, é hora de cuidar dela mesma, a gente não sabe o que vai acontecer com o processo. Ela tem consciência disso”, afirmou a advogada à Coluna do Estadão.

A cabeleireira está em prisão domiciliar há duas semanas. Nesta semana, o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF) devolveu o julgamento do caso à Primeira Turma depois de apontar “penas exacerbadas. O caso de Débora virou o símbolo da arbitrariedade para os críticos do ministro Alexandre de Moraes, relator das ações do 8 de Janeiro, e tem sido citado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), também réu no STF.

Tanieli Telles ressaltou que Débora só tem contato com os advogados, mãe, irmãs e filhos, conforme determinado pelo STF na decisão que fixou a prisão domiciliar. A defesa analisa pedir ao tribunal que Débora possa voltar a trabalhar. O salão de beleza onde ela trabalhava fica em frente à sua casa, em Paulínia (SP).

Débora Rodrigues dos Santos admitiu em depoimento ter pichado a estátua da Justiça com batom. Foto: Reprodução/processo judicial

Débora foi acusada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de ter cometido cinco crimes: associação criminosa armada; abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima; e deterioração de patrimônio tombado.

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A Primeira Turma do Supremo retomará o julgamento virtual da cabeleireira no próximo dia 25. O caso foi devolvido nesta semana ao colegiado por Fux, que havia pedido mais tempo para analisar o caso no mês passado.

“Vou fazer uma revisão dessa dosimetria (cálculo da pena), porque, se a dosimetria é inaugurada pelo legislador, a fixação da pena é do magistrado. E o magistrado o faz à luz da sua sensibilidade, do seu sentimento a cada caso concreto. O ministro Alexandre explicitou a conduta de cada uma das pessoas. E eu confesso que, em determinadas ocasiões, eu me deparo com uma pena exacerbada”, disse Fux.

Os ministros Moraes e Flávio Dino votaram para condenar Débora a 14 anos de prisão. Ainda faltam os votos de Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.