BRASÍLIA – Foi dura a conversa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o então ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, que acabou demitido após ser acusado de assediar sexualmente a titular da Igualdade Racial, Anielle Franco.
Interlocutores do presidente relataram ao Estadão que Lula ofereceu a Almeida a possibilidade de ele mesmo entregar a carta de demissão, uma vez que sua situação era considerada insustentável. O então ministro recusou. Afirmou que não pediria para sair porque isso seria uma confissão de culpa. Disse a Lula que ele, sim, era a verdadeira vítima.
“Em conversa com o Presidente Lula, pedi para que ele me demitisse a fim de conceder liberdade e isenção às apurações, que deverão ser realizadas com o rigor necessário e que possam respaldar e acolher toda e qualquer vítima de violência. Será uma oportunidade para que eu prove a minha inocência e me reconstrua”, declarou mais tarde, em nota, o já ex-ministro.
Mas o tom da conversa, que durou cerca de meia hora, foi outro. O presidente classificou as denúncias contra Almeida como “muito graves”. Além disso, deixou claro que não gostou do fato de o então titular de Direitos Humanos ter usado a estrutura do governo para se defender.
Advogado, Almeida acusou a organização não-governamental (ONG) Me Too Brasil – que confirmou ter recebido várias denúncias de assédio contra ele – de ter interesse em licitações do ministério.
Lula disse a Almeida que ele deveria se defender fora do governo, e não fazer uso da máquina pública para esse fim. O então ministro discordou e argumentou que estava sendo alvo de perseguição de quem queria derrubá-lo. Em nenhum momento mostrou abatimento e afirmou que lutaria até o fim para provar sua inocência e defender sua honra.
O presidente também conversou com Anielle Franco, que se emocionou. Antes, ela havia confirmado a portas fechadas, em reunião da qual também participaram as ministras Cida Gonçalves (Mulheres) e Esther Dweck (Gestão), que sofreu importunação sexual por parte de Almeida.
Ficou combinado naquele encontro que Anielle não daria entrevistas, mas apenas divulgaria uma nota, como de fato o fez. “Peço que respeitem meu espaço e meu direito à privacidade. Contribuirei com as apurações, sempre que acionada”, escreveu a ministra, em comunicado divulgado após a demissão de Almeida.
Auxiliares do presidente pediram que, por enquanto, ela só fale nos autos do processo, conduzido pela Comissão de Ética Pública da Presidência, e no inquérito da Polícia Federal.