Bem posicionada nas pesquisas de intenção de voto e um dos nomes considerados mais competitivos para a sucessão da presidente Dilma Rousseff nas eleições de 2014, a ex-senadora Marina Silva enfrenta o desafio de formalizar a sua nova legenda, a Rede Sustentabilidade. Na avaliação do especialista em marketing político e eleitoral Sidney Kuntz, a dificuldade em conseguir a regularização da nova sigla é um indício da fragilidade partidária da ex-senadora.
"Com o índice que ela tem nas pesquisas, a adesão (ao novo partido) deveria ter sido mais fácil. A única explicação para alguém que desponta em segundo lugar nas pesquisas e está enfrentando muitos percalços é a falta de estrutura do partido", destaca Kuntz, dizendo que durante uma campanha eleitoral, sobretudo do porte da presidencial, o problema tende a se agravar. "Numa campanha, é preciso financiamento para bancar muitas coisas, principalmente os deslocamentos pelo País e, sem a necessária estrutura, fica muito difícil", prevê.
Membro da Executiva Nacional do PSDB, o deputado estadual Ademar Traiano (PR), usa a experiência da criação do PSD para falar sobre as dificuldades que a ex-senadora vem enfrentando para criar o Rede. "O (Gilberto) Kassab é um homem que deixou a prefeitura de São Paulo, tem um trânsito enorme no mundo político e talvez a Marina não tenha o mesmo perfil. Talvez venha daí a dificuldade, da falta de uma estrutura partidária no País (que dê sustentação à sua nova legenda)", diz o deputado.
Coordenador-executivo da Rede Sustentabilidade, Bazileu Margarido, discorda da avaliação de Kuntz e Traiano e diz que a Rede foi mais eficiente que o PSD. Ele reluta em fazer a comparação entre a intenção de voto de Marina ou sua votação em 2010 com o número de assinaturas coletadas. "O voto é obrigatório, aqui o processo é o contrário. Temos de ir até as pessoas para coletar essa assinatura presencialmente uma a uma. A pessoa precisa parar, dar seu nome, demora um tempo. Achamos que isso foi feito em um período muito curto", comenta.
Segundo Margarido, quando houve a decisão de criar o partido, havia a consciência entre os fundadores das dificuldades que seriam enfrentadas com o cronograma. "Estamos identificando uma série de problemas nos procedimentos adotados pelos cartórios. E vamos levar isso ao TSE para que haja um posicionamento. Acreditamos que as instituições são competentes."
A Rede Sustentabilidade já disponibiliza a ficha de pré-filiação no site e pretende ingressar ainda esta semana com seu pedido de registro na Justiça Eleitoral. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) avisou à direção do partido que precisa de um mês para analisar todo o processo. O prazo final para que todas as assinaturas estejam validadas e o processo ratificado pelo TSE é 5 de outubro, um ano antes do primeiro turno das eleições presidenciais. Marina e correligionários têm, portanto, menos de dois meses para isso. Até última sexta-feira (16), apenas 250 mil fichas de apoio à Rede passaram pelo crivo dos cartórios. O número mínimo de apoiadores para a criação do partido é de cerca de 500 mil.
Cenário sem Marina. Na opinião de Sidney Kuntz, caso o partido de Marina Silva não consiga o registro a tempo de disputar as eleições do ano que vem, a presidente Dilma Rousseff, atual líder das pesquisas, será a grande beneficiada. "Com um candidato a menos, diminui também a chance de um segundo turno. Não temos como medir para quem iriam os votos de Marina, mas sem ela fica mais fácil para Dilma atingir 50% mais um dos votos válidos", analisa o cientista.
Ademar Traiano tem pensamento parecido. Ele quer que o partido de Marina se viabilize e ela possa entrar na disputa porque quanto mais participantes no processo, melhor. "Para o processo político, é importante a participação dela. Assim teremos com certeza um segundo turno", afirma.