PUBLICIDADE

Silveira enfrenta STF, exibe decreto de perdão emoldurado e diz que pode ser candidato

Deputado federal participou de ato no Palácio do Planalto 'pela liberdade de expressão' ao lado do presidente Jair Bolsonaro

Foto do author Eduardo Gayer
Por Eduardo Gayer
Atualização:

BRASÍLIA - Com decreto do perdão recebido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) emoldurado nas mãos, o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) mais uma vez enfrentou o Supremo Tribunal Federal (STF) e disse nesta quarta-feira, 27, que, "pela lei", pode ser candidato nas eleições de outubro. Ontem, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, afirmou que o parlamentar segue inelegível, apesar da concessão da graça.

O deputado Daniel Silveira emoldurou decreto assinado por Jair Bolsonaro e tira foto ao lado do presidente em evento no Planalto do Planalto; à direita, deputado Coronel Tadeu Foto: Eraldo Peres/AP

PUBLICIDADE

Questionado por jornalistas no Palácio do Planalto se sairia candidato neste ano, Silveira respondeu: "Pela lei, nada me impede". A declaração foi feita após solenidade batizada de "Ato Cívico pela Liberdade de Expressão" - na prática, um endosso de parlamentares bolsonaristas ao perdão presidencial concedido ao deputado menos de 24 horas depois de sua condenação pelo STF a 8 anos e 9 meses de cadeia por ataques à democracia e às instituições.

Silveira recebeu aplausos ao chegar à solenidade no Planalto, na qual Bolsonaro atacou o Supremo e voltou a levantar suspeitas sobre a lisura do sistema eleitoral brasileiro. Ao final, o deputado foi tietado com pedidos de fotos e vídeos.

Entenda o caso

Além de condenar Silveira à prisão, o Supremo Tribunal Federal determinou a perda de seu mandato e de seus direitos políticos, tornando-o, assim, inelegível. 

O perdão assinado pelo presidente da República, se não for contestado pelo Supremo, pode livrar Silveira da prisão, mas ainda está em jogo se o decreto se estende para as outras penas imputadas pela Corte. 

Conforme mostrou o Estadão, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem jurisprudência que sustenta a inelegibilidade de condenados na esfera penal, mesmo em caso de perdão concedido pelo presidente. 

Publicidade

O deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) exibe decreto de perdão que recebeu do presidente Jair Bolsonaro durante ato no Palácio do Planalto. Foto: Evaristo Sá/AFP

Além disso, o ministro Alexandre de Moraes, que é o relator da ação penal, defende que a graça deve ter sua constitucionalidade analisada pela Corte. Segundo ele, Daniel Silveira continua inelegível mesmo com perdão de Bolsonaro.

Especialistas consultados pelo Estadão concordam. Para o advogado Rafael Carneiro, professor do IDP, a jurisprudência indica a inelegibilidade de Silveira mesmo antes da Lei da Ficha Limpa, que é de 2010. 

Ulysses de Oliveira Gonçalves Junior, integrante do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) e desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, diz que o decreto de graça incide apenas na execução da pena de privação de liberdade e não sobre os "efeitos civis da condenação", como a inabilitação para a função pública, em razão de a pena ter sido superior a quatro anos de prisão. 

Ou seja, mesmo com a concessão da graça, Silveira estaria com seus direitos políticos cassados, de acordo com o Artigo 92 do Código Penal Brasileiro.

Já o Congresso, na figura dos presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) se impuseram para tentar neutralizar a cassação e solicitar que a perda do mandato deve passar pelo plenário da Câmara. Se os parlamentares conseguirem trazer a decisão para o Congresso, Silveira ainda precisa do voto dos deputados para manter o mandato.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.