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Filósofo Antonio Paim morre aos 94 anos

Estudioso era considerado um dos grandes expoentes do pensamento liberal brasileiro

Por Pedro Prata
Atualização:

Morreu nesta sexta-feira, 30, aos 94 anos, o filósofo e historiador baiano Antônio Ferreira Paim. Nascido em Jacobina, ele é considerado um dos maiores expoentes do pensamento liberal brasileiro. Foi vencedor do Prêmio Jabuti em 1985 com o clássico A História das Ideias Filosóficas no Brasil e Prêmio Nacional do Livro de Estudos Brasileiros em 1968. Era um dos fundadores e presidente de honra da Academia Brasileira de Filosofia.

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Antonio Paim estudou filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde depois se tornou professor. Ele ainda lecionou em faculdades como a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e a Universidade Presbiteriana Mackenzie. Na PUC-RJ organizou e coordenou o curso de Mestrado em Pensamento Brasileiro.

Ao longo de sua vida, dedicou-se ao estudo do pensamento filosófico brasileiro e ao pensamento político. Também foi autor de História do liberalismo brasileiro (1998) e A querela do estatismo (1994), no qual aborda o patrimonialismo na realidade brasileira. Também tem títulos publicados na área da filosofia da educação e da moral brasileira, como Momentos decisivos da história do Brasil.

O filósofo e historiador Antônio Paim Foto: Reprodução / Academia Brasileira de Filosofia

O cientista político Rubens Figueiredo classificou Paim como "um apaixonado pelo Brasil" e elogiou o seu conhecimento histórico. Figueiredo escreveu um livro sobre o empresariado com Paim, para quem ele foi o maior estudioso sobre o liberalismo no Brasil. "A vida dele era pensar e escrever", disse ao Estadão.

O cientista ainda disse que o filósofo era um "apaixonado pelo argumento" e que ele sempre "escutava" quando estava debatendo. “O conhecimento se impunha pela humildade que ele tinha. Ele era uma pessoa que ouvia e argumentava, era diferente de um intelectual cheio de certezas.”

No campo da política, elaborou projetos preparatórios para a Constituição de 1988 e colaborou com a criação das fundações políticas Instituto Tancredo Neves (ligada ao PFL, agora DEM) e Espaço Democrático (ligada ao PSD). Em nota, a fundação política do PSD destacou seus estudos para "a formulação de políticas para a privatização e desburocratização até estudos sobre a reforma partidária, sempre com o propósito de garantir a representação dos interesses dos eleitores".

O cientista político Paulo Kramer, com quem ele assina o livro sobre o patrimonialismo, lamentou a morte de Paim nas redes sociais e disse que “além das saudades, ficam sua vasta e magnífica obra e seus exemplos de amor ao saber, generosamente compartilhado, hombridade cívica e honestidade intelectual”.

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No governo de Jair Bolsonaro, Paim passou a ser citado por figuras como o ex-ministro da Educação Ricardo Vélez Rodriguez. Vélez foi aluno de Paim na década de 70, quando recebeu uma bolsa para estudar o pensamento brasileiro na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Em seu discurso de posse, Velez vinculou a “inspiração liberal-conservadora” na educação a Paim e a Olavo de Carvalho.

Neste sábado, Velez definiu o filósofo como um representante do ideal humanístico de inspiração liberal. “Amava o Brasil e tudo fez para que as nossas instituições se modernizassem em benefício do exercício da liberdade para todos os brasileiros. Os meus sentimentos para a sua família e amigos”, escreveu. Os dois também publicaram livros juntos.

Em nota, o Instituto Liberal disse que o filósofo deixa um “imenso legado” a todos que trabalham para “estruturar a alternativa liberal em bases sólidas”. “O Instituto Liberal se solidariza com os entes queridos e os grandes discípulos formados pelo professor e considera seu dever tomar parte na preservação de sua memória e do significado de seu trabalho.”

O Livres, movimento liberal suprapartidário, publicou em suas redes sociais que Paim é “referência obrigatória para a história das ideias no Brasil e, em especial, do liberalismo brasileiro”. No mesmo sentido falou Fernando Holiday (sem partido), vereador de São Paulo: “Como legado deixa muita inspiração, principalmente para futuros historiadores como eu. Descanse em paz.”

Antonio Paim (centro), autor do livro 'Personagens da política brasileira'. Foto: PSD/Divulgação

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Juventude no Partido Comunista Brasileiro

Em sua juventude Paim foi filiado ao Partido Comunista do Brasil, atividade pela qual chegou a ser preso. Uma vez solto, foi enviado para estudar teoria leninista na Universidade Estatal de Moscou, uma das mais antigas da Rússia. O rompimento veio com a divulgação dos crimes de Stálin, em 1956. “Fui eu que lutei para distribuir o relatório para o Partido Comunista brasileiro. Não dava para ficar no partido depois daquilo. Da minha geração, ninguém ficou”, contou Paim à revista Época em 2019.

Na mesma entrevista, falou sobre a ojeriza às ideias socialistas e à chamada “doutrinação marxista”. “O Brasil é o único país do mundo, além da França, onde o comunismo parece que não acabou”, afirmou na ocasião.

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Isso não impedia que ele fosse reconhecido por grandes nomes da esquerda e dialogasse com eles. Aldo Rebelo, ex-ministro dos governos do PT e ex-deputado federal pelo PCdoB, também prestou sua homenagem e lembrou de uma entrevista que fez com Paim, em 2019. “O Brasil perdeu hoje o grande intelectual e historiador das ideias Antônio Paim, autor, entre outras obras, do clássico História do Liberalismo Brasileiro”, escreveu.

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