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Grupo de Waguinho enfrentou acusações de organização criminosa, concussão e fraude em licitações

Deputada federal mais votada do Rio, Daniela Carneiro foi nomeada para o Ministério do Turismo pelo presidente Lula após apoiá-lo na campanha, na Baixada Fluminense; marido já foi afastado da prefeitura sob investigações do MP, mas voltou e foi reeleito com mais de 80% dos votos no primeiro turno

Foto do author Rayanderson Guerra
Por Rayanderson Guerra
Atualização:

RIO – Questionada por ter recebido apoio eleitoral de Juracy Prudêncio, o Jura, condenado por organização criminosa e homicídio, nas eleições de 2018 e 2022, a deputada federal e ministra do Turismo, Daniela Carneiro, e seu marido, o prefeito Wagner Carneiro, ambos do União Brasil, foram alvos de diferentes investigações do Ministério Público nos últimos anos. Nepotismo, abuso de poder político e econômico em disputas eleitorais, além de organização criminosa, concussão, fraude em licitações, dispensa ilegal de licitações e peculato estão entre as acusações que o grupo político chefiado pelos dois já enfrentou.

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Daniela do Waguinho, como ficou conhecida na política local, foi a deputada federal mais votada do Rio no ano passado. Pedagoga com pós-graduação em psicomotricidade, ela trabalhou nas secretarias de Educação e Desenvolvimento Social da capital fluminense antes de ser nomeada, em 2017, para a Secretaria de Assistência e Cidadania de Belford Roxo, na gestão do marido à frente da prefeitura. A nomeação foi alvo de contestação pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) por suspeita de nepotismo (emprego, por gestores, de parentes na administração pública).

Além da nomeação de Daniela, o MP contestava a ida da irmã de Waguinho, Fabiane dos Santos Carneiro, para o cargo de titular da Secretaria municipal de Proteção aos Animais, em janeiro de 2017. Em março de 2018, Daniela foi exonerada, e o caso acabou arquivado.

A ministra do Turismo, Daniela Carneiro, foi a deputada federal mais votada do Rio em 2022  Foto: Div/Div

Candidata a deputada federal pela primeira vez naquele ano, Daniela foi alvo de uma ação de investigação judicial eleitoral. Segundo a Procuradoria Regional Eleitoral, Waguinho teria favorecido a mulher nomeando aliados para cargos comissionados, o que configuraria abuso de poder político e econômico. A investigação também não prosseguiu. O Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ) julgou a denúncia improcedente.

“Não há evidências do propósito eleitoreiro na prática de nomeações [...] Inexistem provas de que os atos em questão foram utilizados como meio de promoção das candidaturas dos investigados”, diz o acórdão.

Daniela chegou à Câmara dos Deputados em 2018 e foi reeleita em outubro passado, como campeã de votos. Com 213.706 votos, foi a representante fluminense na Câmara de maior votação em 2022 – batendo até mesmo o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde e nome de destaque do bolsonarismo, que recebeu 205.324 votos.

Já Waguinho entrou na política como servidor na Câmara dos Vereadores de Belford Roxo, onde foi faxineiro e chegou a assessor da presidência. Foi vereador e deputado estadual, antes de conquistar a prefeitura municipal, que assumiu em 2017. Seu grupo político tem sido alvo constante de interpelações na Justiça. O prefeito de Belford Roxo chegou a ficar afastado do cargo por 40 dias, em 2019, por decisão da Justiça. Segundo os promotores do MP do Rio, Waguinho se comportava como “dono das estruturas públicas municipais”.

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“Aumentou o gasto com nomeações de cargos em comissões, especialmente nos três primeiros meses de mandato e nos três que antecederam ao pleito eleitoral de 2018, lotando a imensa maioria deles em secretarias municipais que sequer deveriam existir, realizou despesas totalmente divorciadas do interesse social”, argumentou o MP.

A investigação do Grupo de Atribuição Originária Criminal (Gaocrim) do Ministério Público do Rio, do Tribunal de Contas do Estado e da Polícia Civil apontou supostas irregularidades nas áreas de resíduos sólidos, pavimentação de ruas e aluguel de imóveis. De acordo com as autoridades, houve fraudes em licitações e contratos.

Na ocasião, Waguinho, por meio de nota, disse que “recebeu com surpresa a decisão judicial, visto que o afastamento já havia sido pedido em relação aos mesmos fatos” e recorreu da decisão. Reintegrado, foi reeleito em 2020, no primeiro turno, com 80,4% dos votos.

Nomeação para ministério após apoio

A reeleição com votação massiva na região de forte presença de evangélicos, grupo ao qual Daniela e Waguinho também pertencem, tornou seu apoio alvo de disputa entre o então presidente Jair Bolsonaro e o candidato desafiante, Luiz Inácio Lula da Silva. O petista saiu vitorioso, em decisão anunciada no segundo turno, em 10 de outubro. Waguinho e Daniela então desfilaram com Lula pela região, ajudando a abrir uma cunha no eleitorado bolsonarista no Rio. Na avaliação do PT, o apoio foi fundamental para reduzir a derrota do petismo na região.

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Em sua campanha de reeleição à Câmara dos Deputados, Daniela teve o apoio de Giane Jura, ex-vereadora na vizinha Nova Iguaçu, que incorporou ao nome o apelido do marido, Juracy Prudêncio, que foi condenado e preso por assassinato e por chefiar uma milícia. O próprio Jura foi empregado, durante a gestão de Waguinho, na Secretaria Municipal de Defesa Civil e Ordem Urbana. Menos de um ano depois da nomeação, a Vara de Execuções Penais (VEP) revogou a permissão para Jura sair da cadeia para trabalhar. Havia suspeita de que suas folhas de ponto fossem fraudadas.

Jura cumpre prisão em regime semiaberto desde 5 de maio de 2017. Sem permissão para trabalhar, porém, segue na cadeia. Sua defesa tenta obter a transferência do detento para o regime aberto. Um pedido nesse sentido foi negado pela Justiça em dezembro passado.

A ministra do Turismo, Daniela Carneiro, a Daniela do Waguinho, segunda da esquerda para a direita, acusada de ter tido apoio eleitoral de um condenado por organização criminosa Foto: Reprodução Instagram

Por meio de nota, o Ministério do Turismo minimizou a ligação da ministra com Jura, embora sem citá-lo.

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“A ministra do Turismo, Daniela Carneiro, durante sua campanha, em 2018, recebeu apoio em diversos municípios. Ela ressalta que o apoio político não significa que ela compactue com qualquer apoiador que porventura tenha cometido algum ato ilícito. Daniela Carneiro salienta que compete à Justiça julgar quem comete possíveis crimes. Quanto às nomeações na prefeitura de Belford Roxo, a ministra enfatiza que não tem nenhuma ingerência, pois o ato é de competência exclusiva do Poder Executivo”.

O Estadão procurou Daniela e Waguinho para entrevistá-los sobre sua trajetória política, mas ainda não obteve resposta até a publicação deste texto.

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