Logo depois da eleição do petista Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, três iniciativas foram anunciadas como as grandes inovações e os carros-chefe do começo do mandato. Passados quatro anos, os orgulhos do presidente caíram no esquecimento ou simplesmente deixaram de existir. Nos primeiros meses do governo Lula, a grande estrela era o Fome Zero. Empresários, artistas e socialites faziam generosas doações, o selo do programa estava por todos os lados e havia um ministério extraordinário especialmente voltado para garantir alimento à população pobre, o da Segurança Alimentar, comandado pelo professor petista José Graziano. Um ano depois, o presidente mudou a estratégia em relação às políticas sociais e criou o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. O Fome Zero, muito criticado pelo caráter assistencialista, passou a ser mais um programa de combate à pobreza, voltado para iniciativas como agricultura familiar e geração de renda. O destino do Primeiro Emprego, outra novidade da gestão Lula, que pretendia estimular empresas a contratar jovens de 16 a 24 anos, foi ainda mais melancólico. Com o total desinteresse das empresas em aderir ao programa, ele foi excluído do Orçamento da União, que já não traz neste ano verbas para a ação. Ao anunciar o fim dos recursos para o Primeiro Emprego, em agosto passado, o secretário de Planejamento e Investimentos Estratégicos do Ministério do Planejamento, Afonso Oliveira de Almeida, disse que o grande obstáculo era a baixa qualificação profissional. Nos seis primeiros meses de existência, o programa tinha empregado menos de 4 mil jovens, quando a meta para o primeiro ano era de 260 mil vagas. Com o fim do Primeiro Emprego, a intenção do governo será reforçar o programa nacional de inclusão dos jovens, chamado ProJovem. "Não adiantava dar subsídios às empresas", disse Almeida na época. No caso do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o início dos trabalhos também foi marcado pelo entusiasmo de Lula. Afinal, o Brasil era o primeiro país sul-americano a criar um grupo de aconselhamento nos moldes dos existentes em países como França e Espanha. Para a ex-conselheira Jurema Werneck, o interesse do presidente era reforçar a estratégia de campanha de acalmar o empresariado e garantir que seu governo não teria surpresas na economia. "A eleição do presidente Lula foi muito tensa em relação ao capital financeiro e industrial. O conselho serviu para criar uma aproximação com esses setores, que formam a maioria dos participantes. Quando as pontes foram feitas, não houve mais interesse no conselho", acredita Jurema. Para a secretária do conselho, Esther Albuquerque, o desejo de Lula de ouvir os representantes da sociedade continua o mesmo. "O conselho faz sinalizações importantes para o presidente, muitas vezes o que nem o governo está vendo naquele momento. O conhecimento sobre o conselho é menor do que o conselho merece. Há dificuldade de se entender que um conselheiro muitas vezes está falando como resultado de vários meses de trabalho do grupo", lamenta.