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'Igualdade racial não é pauta político-ideológica, e sim democrática', diz DPU sobre fala de Camargo

Presidente da Fundação Palmares chamou movimento negro de ‘escória maldita’

Foto do author Julia Lindner
Foto do author Vera Rosa
Por Julia Lindner e Vera Rosa
Atualização:

BRASÍLIA - Em resposta ao presidente da Fundação Palmares, Sergio Camargo, a Defensoria Pública da União (DPU) afirmou, nesta quarta-feira, 3, que é "inaceitável a admissão de qualquer vinculação ou preferência partidária" por parte da instituição, que tem como fundamento prestar assistência jurídica integral e gratuita a cidadão de baixa renda. A DPU também defendeu que a igualdade racial não é uma pauta político-ideológica, e sim democrática e humanitária.

Sérgio Camargo na Fundação Palmares Foto: Facebook/Reprodução

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Na terça-feira, 2, matéria do Broadcast/Estadão revelou que Camargo afirmou que a DPU é um órgão “totalmente aparelhado”. “Essa miserável da DPU está com recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para tentar me tirar daqui de novo. E o caso segue sub judice. Totalmente aparelhado, totalmente de esquerda”, criticou o dirigente em áudio ao qual a reportagem teve acesso. 

Escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro em novembro do ano passado, o presidente da Fundação Palmares teve a nomeação suspensa pelo Tribunal Regional da 5.ª Região após defender a extinção do movimento negro e dizer, entre outras coisas, que o Brasil tem um "racismo nutella".

Em fevereiro, porém, o STJ acatou recurso da Advocacia-Geral da União e ele pôde assumir o cargo. Organizações do movimento negro acionaram, então, a DPU, que recorreu da decisão ao STJ, protocolando ação civil pública contra a nomeação.  

Em nota, a DPU reforçou a "necessidade de reflexão constante a respeito da situação da população negra no mundo e, sobretudo, no Brasil". "A DPU entende que não há efetiva democracia sem igualdade racial, cabendo à Instituição realizar a intransigente defesa dessa pauta, que não é político-ideológica, mas democrática e humanitária", diz o texto.

A defensoria afirma, ainda, que "os 643 defensores públicos federais que compõem a carreira passaram por rigoroso concurso público para defender da primeira instância ao Supremo Tribunal Federal (STF) a população vulnerável, sobretudo aqueles que estão abaixo da linha da miséria".

"Deve-se esclarecer, por outro lado, que as defensoras e os defensores públicos federais, assim como os membros do Ministério Público e da Magistratura, têm a prerrogativa constitucional da independência funcional em sua atividade fim (Art. 134, § 4º), não cabendo nenhuma interferência na atuação jurídica dos membros, que devem obediência à Constituição e às leis."

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Sobre os áudios divulgados, Camargo lamentou o que chamou de “gravação ilegal” de uma reunião interna. Afirmou, ainda, que a Fundação Palmares está em “sintonia” com o governo Bolsonaro e sob um novo modelo de comando, voltado para a população.

“Infelizmente, ainda existem, na gestão pública, pessoas que não assimilaram esta mudança e tentam desconstruir o trabalho sério que está sendo desenvolvido”, disse Camargo.

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