Mas a lógica política indica claramente que sua desistência abre caminho concreto para a chapa puro-sangue sonhada pelos tucanos e engolida sem reclamações pelo DEM. A antecipação de sua decisão, que só deveria vir em janeiro, se explica pela crise do DEM após o escândalo que detonou o governador do DF, José Roberto Arruda, e pelos atritos entre o PMDB e o presidente Lula. No primeiro caso, ficou inviabilizada a escolha de um vice do DEM para compor eventualmente uma chapa com Serra. No segundo, aproveitou-se a oportunidade de projetar uma alternativa de aliança ao PMDB que torne mais turbulenta a parceria desse partido com Dilma Rousseff.
Aécio despe o figurino de candidato com 15% nas pesquisas, porcentual cinco vezes maior do que tinha quando admitiu disputar a sucessão. Ganhou uma visibilidade nacional que o torna mais forte no PSDB e em Minas, seu Estado. E, em consequência, junto a Serra. Reforça assim, a possibilidade de transformar em acordo uma proposta antiga que o partido lhe fizera de aceitar ser um vice com força política e poder de gestão no futuro governo. Não seria um vice decorativo, mas estaria à frente de um ministério super-poderoso, ou indicaria os titulares de seis ministérios. No mínimo, seria o que Serra foi para Fernando Henrique.
Isso garantiria a Aécio uma visibilidade como gestor capaz de sedimentar o caminho para a sucessão de Serra, em 2014, quando o atual governador de São Paulo estará com 72 anos. Como a convicção, tanto de Serra, quanto de Aécio, é a de que terão de dar continuidade aos avanços sociais obtidos por Lula, é possível imaginar-se um governo sintonizado com o que o eleitor manifesta nas pesquisas. E, portanto, com chances de manter-se no Poder em 2014.