O vacilo autoritário de Freixo

Há muito as escolas de samba do Rio de Janeiro deixaram de refletir a cultura popular que imortalizou sambas e desfiles antológicos, na década de 60 e em parte dos anos 70. Muitas são as razões, mas todas com origem no crescimento dessas agremiações e na inevitável comercialização do carnaval, com todos os seus subprodutos.

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Por João Bosco Rabello
Atualização:

Não é, portanto, a primeira vez que às vésperas de uma eleição, alguma voz levanta para sugerir "revoluções" que devolvam aos desfiles suas características originais. Desde que o célebre compositor portelense Candeia, nos anos 70, resumiu o processo chamando as agremiações de Escolas de Samba /SA, o debate a respeito do carnaval carioca gira em torno de seu gigantismo e da consequente perda de sua qualidade cultural.

Agora foi a vez do deputado estadual Marcelo Freixo, candidato do Psol à prefeitura do Rio, propor o controle da organização do carnaval pela Secretaria Municipal de Cultura com o objetivo de impor às escolas os enredos que julgar adequados culturalmente. Uma interferência direta no ambiente de criação das escolas.

 Foto: Estadão

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Por mais que se concorde com o diagnóstico da desqualificação dos desfiles ao longo dos anos, a proposta de Freixo reproduz o tipo de solução que o Psol, na esteira de sua matriz, o PT, encontra para tudo: a estatização.

Como tentou fazer com o direito autoral ao estimular uma CPI cujo objetivo era transferir para o Estado a relação privada entre autores e o escritório de arrecadação por eles contratado - o Ecad - através de suas associações. Mas que só serviu mesmo para atender aos interesses dos parlamentares proprietários de emissoras de rádio e TV, maiores devedores de direito autoral.

Lá como cá, uma interferência jamais reivindicada pelos artistas. O Psol e Freixo, devemdeixar mais claro o que mais partido ecandidato imaginam transferir para o Estado. É razoável que abram o jogo já que essa recente proposta se aproxima do desvario de estatizar o pensamento.

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