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‘Fui ao Kwai porque a rede é muito forte no meio popular’, diz João Campos

À frente da capital com maior número de interações nas redes sociais, prefeito do Recife aposta em vídeos e pede regulação da inteligência artificial

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Por Marcelo Godoy
Atualização:
Foto: Dida Sampaio/Estadão
Entrevista comJoão CamposPrefeito do Recife

O prefeito João Campos (PSB), de 29 anos, foi o chefe de Executivo das capitais brasileiras que conseguiu o maior número de interações no País entre 23 de abril e 22 de maio, de acordo com dados da consultoria Bites. A aposta em vídeos é a principal característica do político. Passados dez anos das jornadas de junho de 2013, tem-se o fim da Nova República e o nascimento da República Digital.

Recife tem 1,7 milhão de usuários de internet – São Paulo tem 12 milhões. Nas quatro principais redes – Facebook, Twitter, YouTube e Instagram –, o prefeito tem 725 mil seguidores e angariou 836 mil interações. No Kwai, Campos mantém uma conta com 478 mil seguidores. Leia principais trechos de entrevista ao Estadão:

João Campos, filho de Eduardo Campos Foto: Andrea Rego Barros/Divulgação

As jornadas de 2013 marcaram o início de uma classe política digital. Qual o impacto das jornadas para o sr. e entre os políticos?

Em 2013, eu tinha 20 anos. Naquele momento, meu pai (Eduardo Campos) era vivo e ele me deu um texto que dizia que toda a vez que mudou a forma de comunicação na sociedade houve uma reorganização das instituições dos países, das cidades e dos Estados. Isso me marcou muito. De lá para cá, muita coisa mudou. Incomoda-me muito um fenômeno que aconteceu nas últimas eleições de uma comunicação pautada em agressão e focando menos na transparência do que na lacração. Incomoda-me a estridência, pois o que tem de valer é a profundidade. Mas é claro que isso gera menos likes. Eu aposto em uma rede que gere transparência e repercuta. As pessoas valorizam a transparência. Então eu procuro mostrar meu trabalho. As pessoas querem ver você trabalhando e têm curiosidade de saber como uma decisão foi tomada.

A decisão de investir em vídeos foi tomada de que forma? Como e por que o sr. decidiu investir no Kwai?

A rede que eu mais uso é o Instagram. Eu sou nativo no Instagram. Mas gosto de acompanhar tudo o que vai surgindo. O Kwai é uma rede que tem repercussão muito grande no campo popular. Certamente quem é do meio jornalístico estará no Twitter. O Twitter, para mim, é uma rede muito pequena. A esfera que usa o Twitter no Recife é muito pequena. Para mim, é muito mais importante ter um Kwai muito forte do que um Twitter. Ele é uma rede que as pessoas mais simples usam, e no Recife temos uma população C e D considerável. É importante eu chegar até essas pessoas para explicar e falar com elas e fazer um conteúdo que possam entender. O Kwai é muito forte nesse sentido, assim como o TikTok. Eles têm aplicação em que é possível baixar vídeo direto no WhatsApp. E o Kwai monetiza os usuários conforme eles veem vídeos.

Algumas pessoas já começam a enxergar possíveis usos da inteligência artificial na política, acreditando que ela também cause uma revolução nessa área, a exemplo do que ocorreu com as redes sociais. O sr. tem essa perspectiva de uso da inteligência artificial na política? Quais as consequências que isso pode trazer à relação entre a classe política e os eleitores?

Acredito que a inteligência artificial vai provocar uma mudança não só na política. Diversas atividades devem ser impactadas pela inteligência artificial em um prazo curto. O que a gente tem de ter cuidado – e esse é um ponto fundamental naquilo que a gente faz nas redes – é que a gente tem de ser muito transparente. Devemos buscar retratar aquilo que se é e não aquilo que você não é. Por exemplo, o ex-prefeito de Belo Horizonte, (Alexandre) Kalil, tem um jeito próprio, incisivo e enfático. Ele precisa ser o que é. É cedo ainda para saber como a inteligência artificial será usada. Mas, se for usar, é preciso avisar que a ferramenta está sendo usada. Até para isso é importante que se tenha mecanismo de regulação, mas jamais como forma de impedir o livre desenvolvimento e a livre manifestação. Mas é preciso ter regras.

O sr. tem receio de que essa ferramenta seja usada para estimular extremismos?

Acho que há um risco sim, assim como nas redes sociais. Eu lamento que vá por esse caminho. No ambiente da política, normalmente, quem tem mais seguidores e interações é quem tem posições extremadas. É mais fácil falar de coisas que não existem, como o kit gay, do que discutir o que muda a educação no Brasil, de formação continuidada de professores, da Base Nacional Curricular. Nada disso rende like. Esse é o grande problema. Aquilo que é essencial, as pessoas deixam de falar. A política não pode abrir mão de falar de temas relevantes, que engajam pouco. Eu não abro mão de falar. E de fazer de uma forma que possa engajar.

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