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Julgamento que pode cassar Cláudio Castro também ameaça ascensão de deputado que mira governo do Rio

Rodrigo Bacellar chegou à presidência da Alerj após passagem pelo governo do Estado. Relator no TRE-RJ votou pela cassação do deputado; defesa diz que ele ‘nunca foi comunicado ou chamado para apresentar documentos no processo’

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Foto do author Rayanderson Guerra
Atualização:

RIO – O presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), “sabia de todos os acontecimentos” do esquema de corrupção e desvio de dinheiro público montado no núcleo do governo do Estado e agiu com o aval e cumplicidade do governador do Rio, Cláudio Castro (PL). Foi assim que o desembargador Peterson Barroso Simão classificou a participação do jovem político de Campos dos Goytacazes ao relatar o caso do escândalo da Ceperj e ao proferir o primeiro voto que pode derrubar, de uma vez, o comando de dois Poderes fluminenses.

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Relator do caso que revelou uma folha de pagamento secreta na Ceperj e na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Barroso Simão votou na sexta-feira, 17, em julgamento no Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ), pela cassação de Castro e de Bacellar por abuso de poder econômico e político com impactos nas eleições de 2022. A defesa do deputado diz que ele “nunca foi comunicado ou chamado para apresentar documentos no processo” e que vai demonstrar “que não houve qualquer irregularidade na condução da secretaria”. O julgamento será retomado nesta quinta-feira, 23.

“Apenas uma pessoa com parentesco por afinidade foi contratado, após a desincompatibilização de Rodrigo Bacellar do cargo de secretário, em maio 2022, saindo em julho de 2022, antes do retorno do Rodrigo Bacellar no cargo de secretário de Governo após pleito eleitoral de 2022″, disse a defesa.

Presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União). Foto: Divulgação/Alerj

Com pouco mais de cinco anos de experiência como político eleito, Bacellar buscou em alianças e no pragmatismo o caminho para o sucesso meteórico no Rio de Janeiro. Já esteve ao lado de lideranças do PT – foi filiado ao partido quando jovem e não esconde dos aliados o histórico de líder estudantil com ligações sindicalistas –, mas se firmou e chegou ao poder pelo Solidariedade, em 2018, ao se eleger como deputado estadual, e posteriormente pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2022.

Filho do ex-vereador de Campo dos Goytacazes, Marcos Bacellar, o presidente da Alerj herdou do pai a ligação com a base trabalhadora. Eleito pela primeira vez com 26.135 votos, ele se aproximou do então presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), “dos petistas, o mais moderado”, como descrevem aliados. O salto de deputado recém-eleito para a posição de destaque veio com o processo de destituição do antecessor de Castro, Wilson Witzel. Bacellar foi relator do processo de impeachment do ex-juiz federal, em 2020.

A posição de um dos algozes de Witzel aproximou Bacellar de Castro e o cacifou à Secretaria de Governo do então recém-empossado novo chefe do Executivo do Rio de Janeiro. Foi nesse período que o deputado teria, segundo aponta a Procuradoria-Regional Eleitoral, se alinhado ao governador na edição do esquema de pagamentos paralelos a aliados políticos via Ceperj e Uerj.

Segundo Barroso Simão, “Cláudio e Bacellar formaram uma dupla firmemente coesa com objetivos ilícitos comuns junto a Ceperj e Uerj e assim alcançaram o troféu desonrado. Se confundiam como dois governadores e dois secretários”.

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Com a nova posição no governo do Estado, Bacellar ganhou poder de barganha nas pastas estaduais e costurou apoio político para o atual cargo: presidente da Alerj. Ele foi eleito com 56 dos 70 votos dos deputados estaduais para a presidência da Assembleia Legislativa em fevereiro do ano passado.

A ascensão política de Bacellar, de deputado de primeira viagem à presidência da Alerj, ocorreu sob as bênçãos do PL. Em março deste ano, no entanto, já de olho nas eleições de 2026, Bacellar trocou novamente de legenda. Se filiou ao União Brasil em um evento que contou com a presença de políticos de PT, PL, PSD, do governador Cláudio Castro e do prefeito da capital carioca, Eduardo Paes (PSD), que também almeja o comando do Palácio Guanabara daqui a dois anos.

“No jogo frio do poder político, a lealdade pode ser volátil e perigosa. Quando o barco começa a afundar, os amigos mais próximos procuram se salvar, deixando a responsabilidade para aquele que os convidou a participar na administração pública. A sobrevivência política de alguns pode superar os laços de amizade de ontem para que, hoje, novas forças de domínio e interesse sejam reestruturadas”, afirmou Barroso Simão no julgamento de sexta-feira.

Em nota, a assessoria de Castro diz que “o governador Cláudio Castro mantém a sua confiança na Justiça Eleitoral e no respeito à vontade de 5 milhões de eleitores do Estado do Rio de Janeiro que o elegeram em primeiro turno com 60% dos votos”.

“É importante ressaltar mais uma vez que as suspeitas de irregularidades ocorreram antes do início do processo eleitoral. Assim que tomou conhecimento das denúncias, o governador ordenou a suspensão de pagamentos e contratações realizadas pelos projetos ligados à Fundação Ceperj e logo depois determinou a extinção deles”, diz a nota.

A defesa de Castro afirma ainda que não foram apresentados nos autos do processo elementos novos que sustentem as denúncias.