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Lula usa reunião com ministros para avisar que anúncios só podem ser feitos com aval do Planalto

Presidente quer evitar atropelos com ministros prometendo fazer ações de governo antes de propostas serem acordadas em todo o governo

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Foto do author Felipe Frazão
Foto do author Weslley Galzo
Por Felipe Frazão e Weslley Galzo
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai usar a primeira reunião ministerial do novo governo para chamar atenção dos ministros. Lula quer alinhar o discurso oficial e dar orientações sobre a organização do fluxo de decisão do governo, após declarações dos titulares da Esplanada afetarem o mercado, provocando queda da Bolsa e alta do dólar.

O encontro com os ministros já estava previsto por Lula. Será realizado na manhã de sexta-feira, dia 7, no Palácio do Planalto. Mas, diante de declarações em linhas divergentes, que provocam ruídos, ao menos externamente ao governo, a ideia é aproveitar o encontro para dar um freio de arrumação.

Lula convoca primeira reunião com ministros e vai pedir que ninguém antecipe anúncio sem aval do Planalto Foto: Wilton Junior / Estadão

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“O presidente já marcou a primeira reunião ministerial, para, inclusive, organizar e reafirmar, e ele acabou de me dizer, qualquer proposta só será encaminhada, evidente, depois da aprovação do presidente da República”, disse Rui Costa, titular da Casa Civil. “E qualquer proposta, ele vai dizer isso na reunião, passará necessariamente pela Casa Civil antes de sua análise.”

Em três dias de governo Lula, foram pelo menos três recuos da gestão petista. Após o novo ministro da Previdência, Carlos Lupi, afirmar ontem que deseja discutir o que chamou de “antirreforma da Previdência”, em referência às mudanças aprovadas em 2019 no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou nesta quarta-feira, 3, que “não há nenhuma proposta sendo analisada ou pensada” em relação a mudanças nas exigências de aposentadorias e pensões.

Costa esquivou-se de comentar o teor das declarações de Lupi, mas deu a entender que o colega de governo teria se empolgado demais. Segundo ele, era necessário vir a público para “tranquilizar”. “Tudo mundo tem direito a opinião, mas nesse momento não há nenhuma proposta. As energias estão lá em cima, é um momento de posse, de alegria e de entusiasmo”, disse Costa.

A ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), foi outra integrante do governo a minimizar a repercussão negativa das falas de Lupi e os atritos gerados entre a pasta da Previdência e a Casa Civil. “Acho que foi mais uma forma de expressão do ministro da Previdência no sentido de estar avaliando algum item ou outro, mas repito que foi uma posição pessoal do ministro Lupi. Na sexta-feira nós vamos ter essa resposta na reunião ministerial que teremos”, disse Tebet ao comentar que Lula não defendeu revisão da reforma previdenciária durante a corrida eleitoral.

“Eu não vi em nenhum momento na campanha, no segundo turno, quando andei com o presidente Lula durante boa parte do segundo turno, essa agenda de uma possível revisão da reforma da previdência sendo colocada. Nem no programa do governo, nem na fala do presidente”, disse.

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Depois de combinar com o ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, a edição de uma Medida Provisória (MP) para prorrogar por 30 dias a desoneração no preço de gasolina e álcool, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pediu para o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro não estender a medida.

O senador Jean Paul Prates (PT-RN), indicado pelo governo federal para presidir a Petrobras, afirmou nesta quarta-feira, 4, que a estatal não fará intervenção nos preços dos combustíveis. Segundo ele, “nunca ninguém falou em intervenção” nos preços, que, de acordo com ele, serão vinculados de “alguma forma” ao mercado internacional. Na campanha, porém, não só Prates como o próprio Lula defenderam modificar a política de preços praticada pela Petrobras.

Os titulares da Justiça, Flávio Dino, e da Defesa, José Múcio, seguem dissonantes sobre a legalidade de atos bolsonaristas, em frente a quartéis do Exército, que contestam a eleição de Lula e fomentam ideias antidemocráticas. Lula queria que as Forças Armadas agissem para encerar as aglomerações, mas até agora não houve medidas de força concretizadas, e o governo fala em deixar que se esvaziem.

Enquanto Dino tachou as concentrações extremistas de “incubadoras de terroristas” e falou que simples a existência de pessoas com discurso pró-golpe de Estado era ilegal, Múcio afirmou que são manifestações da democracia, quando pacíficos, e admitiu ter familiares e amigos entre os que frequentam os acampamentos.

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