BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) orientou os auxiliares a defender o governo nas eleições municipais e não deixar críticas sem resposta. Em reunião ministerial nesta quinta-feira, 8, no Palácio do Planalto, Lula afirmou, ainda, que os partidos aliados devem fazer um pacto de não-agressão na campanha para evitar situações constrangedoras a candidatos apoiados por colegas de Esplanada.
“Eu, quando vou a São Paulo, falo bem do Boulos, mas não falo mal da Tabata nem do Datena”, disse Lula, de acordo com relatos de participantes da reunião. “E vocês devem fazer o mesmo. Nem do prefeito de São Paulo eu falo mal.”
Na capital paulista, Lula e o PT apoiam a candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) à Prefeitura, enquanto o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Empreendedorismo, Márcio França, estão no palanque de Tabata Amaral (PSB). José Luiz Datena é o candidato do PSDB e, de acordo com pesquisa Quaest, está tecnicamente empatado com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que concorre a novo mandato, e também com Boulos.
“Não xinguem os adversários. Defendam o seu, mas não agridam o outro”, emendou Lula, ao revelar que não vai subir em muitos palanques porque, depois das eleições, precisará compor com todas as forças políticas. Em mais de uma ocasião, o presidente pediu prudência nos ataques. Afirmou, ainda, que os ministros não poderão entrar em nenhuma campanha na qual o candidato fizer discurso contra o governo.
A reunião para “afinar a viola”, como definiu Lula, durou mais de sete horas. A portas fechadas, na Sala Suprema, o presidente reforçou que a Lei Eleitoral não permite a ministros a participação em comícios durante o horário de trabalho, mas somente à noite ou nos finais de semana.
Cada ministro teve cinco minutos para resumir os projetos em andamento de suas pastas. Um apito sinalizava o fim do tempo das manifestações e a tolerância aceita pelo titular da Casa Civil, Rui Costa, era de no máximo 15 segundos.
Um momento descrito como constrangedor na reunião foi a participação da presidente da Petrobras, Magda Chambriard. Alçada ao comando da estatal após a demissão de Jean Paul Prates, a ex-diretora da Agência Nacional do Petróleo (ANP) defendeu agilidade nos licenciamentos ambientais. A manifestação de Magda foi entendida como uma indireta para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Procuradas, Magda e Marina não quiseram comentar o assunto.
A Petrobras, em dobradinha com o Ministério de Minas e Energia, rivaliza com o Ibama e o Ministério do Meio Ambiente sobre a exploração de petróleo na Foz do Amazonas. A estatal ainda não conseguiu autorização do Ibama para a iniciativa e a cúpula da petrolífera avalia que essa protelação é proposital. Mais cedo, a Advocacia-Geral da União (AGU) arquivou o procedimento conciliatório sobre a exploração do bloco na Margem Equatorial.
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Ao fazer sua exposição sobre as Rotas de Integração, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse, em tom bem humorado, que o colega Wellington Dias (Desenvolvimento Social) a chama de “minha malvada favorita”, numa alusão aos cortes e contingenciamentos no Orçamento da União. Foi um momento de descontração, que arrancou risadas dos presentes. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou, por sua vez, a necessidade de ampliação das receitas após o corte de R$ 15 bilhões em despesas.
Uma parte da reunião foi dedicada à crise na Venezuela. De acordo com relatos, Lula manifestou preocupação com o impasse político no país vizinho e disse que Nicolás Maduro precisa demonstrar que as eleições foram limpas. O ditador venezuelano pediu para falar com o petista. Lula destacou, no entanto, que só conversará com ele juntamente com os presidentes da Colômbia, Gustavo Petro, e do México, Andrés Manuel López Obrador. Os três países têm agido em bloco para cobrar a divulgação das atas das urnas para só então tomar uma posição sobre o resultado eleitoral.
O único ministro que faltou à reunião foi Juscelino Filho (Comunicações). Ele está em viagem oficial à Colômbia para participar da Cúpula Latino-Americana de Inteligência Artificial e foi representado no encontro pela secretária executiva Sônia Faustino Mendes.
Quando Lula disse que não vai dispensar integrantes da equipe só porque a imprensa quer, alguns dos participantes entenderam que ele se referia a Juscelino. Não sem motivo: desde que o nome do ministro das Comunicações apareceu em escândalos sobre uso de emendas do orçamento secreto, como revelou o Estadão, até mesmo dirigentes do PT cobram sua saída. Juscelino é um dos três representantes do União Brasil – partido que integra o Centrão – na Esplanada dos Ministérios
Além dos ministros, participaram da reunião os presidentes da Caixa, Carlos Vieira; do IBGE, Márcio Pochmann; do BNDES, Aloizio Mercadante; dos Correios, Fabiano Silva dos Santos; do Banco do Nordeste, Paulo Câmara; e do Banco da Amazônia, Luiz Lessa. O Banco do Brasil foi representado pelo vice-presidente José Ricardo Sasseron. Os líderes do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE); no Senado, Jaques Wagner (PT-BA); e no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP) também foram convidados.