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Lula prioriza viagens ao Nordeste e evita redutos bolsonaristas no Sul e no Centro-Oeste

Presidente vai cinco vezes a Bahia e nenhuma a Santa Catarina; em São Paulo, petista concentra visitas na capital

Foto do author Isabella Alonso Panho
Por Isabella Alonso Panho
Atualização:

SÃO PAULO – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) priorizou viagens ao Nordeste, reduto eleitoral petista, e evitou regiões identificadas com o bolsonarismo durante os primeiros seis meses de seu terceiro mandato, de acordo com levantamento feito pelo Estadão.

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Entre 1º de janeiro e 4 de julho, Lula foi 11 vezes ao Nordeste. O Estado mais visitado pelo petista (cinco vezes) foi a Bahia, onde ele derrotou o então presidente Jair Bolsonaro (PL) com 72,12% dos votos na eleição de 2022. Por outro lado, o petista fez três viagens a região Sul do País – nenhuma delas a Santa Catarina, onde Bolsonaro obteve 69,27% dos votos.

Lula visitou apenas uma vez o Centro-Oeste, região com forte presença do agronegócio. Ao todo, o petista fez 29 viagens pelo País e visitou 31 cidades distribuídas por 13 Estados. Veja os números completos no gráfico abaixo.

Já as viagens de Lula a São Paulo (sete vezes) se concentraram na capital, centro financeiro do País. No Estado, Bolsonaro foi mais votado na eleição 55,23%, ante 44,7% do petista.

Lula visitou duas vezes Ceará, Pará, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro e Roraima. Desde que venceu a eleição em 2022, o petista não cumpriu agendas em: Amapá, Acre, Amazonas, Rondônia, Tocantins, Piauí, Rio Grande do Norte, Alagoas, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo e Santa Catarina.

Procurada para comentar a agenda de viagens de Lula, a assessoria da Presidência negou que haja uma preferência pelo Nordeste e disse que o presidente tem planos para cumprir agendas em todos os Estados do País. Questionada especificamente sobre o Centro-Oeste, região na qual Lula esteve apenas uma vez, a assessoria do presidente disse que ele teria uma agenda em Rio Verde (GO), para inauguração da Ferrovia Norte-Sul. A viagem foi inviabilizada por causa de uma forte neblina.

Agendas

Nessas 29 viagens, a maioria das agendas cumpridas por Lula envolveu entrega de obras, projetos e encontros com governantes. No dia 14 de fevereiro, por exemplo, em sua primeira viagem do ano à Bahia, Lula esteve em Santo Amaro para lançamento do Minha Casa, Minha Vida, um dos programas mais caros à sua gestão. Ele emendou a viagem com uma visita a Aracaju (SE), onde foi ao canteiro de obras da BR-101 e almoçou com o governador, Fábio Mitidieri (PSD).

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Na única vez em que esteve no Centro-Oeste, o programa habitacional também foi a pauta. No dia 3 de março Lula foi a Rondonópolis para a cerimônia de entrega de 1.440 casas do Minha Casa, Minha Vida.

Na sua última viagem à Bahia, no dia 2 de julho, Lula foi à comemoração da Independência do Estado, ao lado do governador, Jerônimo Rodrigues Foto: Instagram @janjalula

Na semana passada, na sua segunda viagem ao Paraná, Lula participou de um evento na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) no qual se assinou um compromisso de retomada de obras na instituição. No discurso feito durante a cerimônia, o presidente chamou Bolsonaro de “titica”.

‘Eleição permanente’

Para a cientista política e pesquisadora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Carolina de Paula, a agenda Lula nesses primeiros seis meses pode ser interpretada como uma “retribuição do engajamento” desses Estados durante a campanha petista em 2022. “Nesse primeiro momento, é muito comum que isso aconteça.”

Além disso, as viagens, segundo ela, têm outro objetivo. Elas se fazem de uma estratégia de “eleição permanente” do governante. “É como se eles (governantes) estivessem em constante contato com esse eleitor, sempre buscando prestar contas, que é uma atitude necessária, mas também com finalidades eleitorais. Assim, é muito mais fácil, quando se aproximar a eleição, ser lembrado”, afirma a pesquisadora.

Como foi na gestão Bolsonaro?

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Para Mayra Goulart, professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora do Lappcom (Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada), um crivo importante para entender as rotas de Lula pelo País é observar a agenda de viagens da gestão passada.

“Enquanto Bolsonaro viajava para participar sobretudo de atividades militares, Lula está indo para fazer entregas e fazer encontros com políticos locais”, aponta Mayra, que também faz um paralelo da agenda internacional do petista com a do ex-presidente.

“Lula fez mais viagens internacionais, o que mostra uma postura diferente em termos de ganho de ‘soft power’ (habilidades de negociação na política).”

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O presidente da República Jair Bolsonaro durante almoço com caminhoneiros em Anápolis (GO), no dia 31 de maio de 2019 Foto: ISAC NÓBREGA/PR

Como foi feito o levantamento?

O levantamento das viagens feitas pelo presidente foi realizado por meio das agendas disponibilizadas no site oficial do governo. Foram contabilizados apenas os deslocamentos nos quais Lula teve alguma agenda.

Houve, por exemplo, finais de semana nos quais o presidente foi para sua residência em São Paulo. No Carnaval e no Corpus Christi, ele esteve em Salvador, cidade em cujos arredores ele possui uma casa de veraneio. Essas ocasiões não foram contabilizadas no levantamento, pois foram viagens de descanso.

A respeito da duração, viagens nas quais o presidente foi e voltou no mesmo dia foram contabilizadas como um dia de viagem. Nos casos em que Lula esteve em mais de uma cidade no mesmo dia, foi contabilizado apenas um dia de viagem.

A somatória das cidades visitadas teve apenas uma exceção. No dia 9 de abril, Lula sobrevoou as cidades maranhenses de Babacal, Pedreira e Trizidela do Vale, atingidas por uma inundação. Foram três locais visitados e apenas uma viagem.

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