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Análises fora da bolha

Lula sabota Molon

Pessebista quer disputar vaga no Senado em chapa com PT no Rio; ex-presidente defende Ceciliano, aliado que está sempre ao lado

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Por Felipe Moura Brasil
Atualização:

Para abrir caminho a Fernando Haddad, Lula conseguiu fazer Márcio França desistir da candidatura ao governo de São Paulo e disputar a vaga paulista no Senado Federal, mas, para abrir caminho ao petista André Ceciliano, ainda enfrenta a resistência de Alessandro Molon a deixar a corrida pela vaga do Rio no Senado, mesmo ameaçando retirar o apoio do PT a Marcelo Freixo na disputa pelo governo fluminense.

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França, Molon e Freixo são do PSB, cujo diretório pernambucano, o mais influente no comando nacional do partido, foi procurado diretamente por Lula, interessado em resolver as pendências regionais da aliança com o PT para as eleições deste ano até a próxima sexta-feira, 5 de agosto, prazo limite estabelecido pela Justiça Eleitoral.

A diferença entre os casos de França e Molon, porém, é gritante: o primeiro, com 16% das intenções de voto, estava 12 pontos atrás de Haddad, com 28%, de acordo com o Datafolha, e contava com a fragmentação da direita em várias candidaturas para liderar a corrida pelo Senado, como faz agora; já o segundo, com 17%, não apenas tem mais que o triplo de intenções de voto que Ceciliano, com 5%, na pesquisa Real Time Big Data, como também apareceu na liderança da disputa, numericamente à frente de dois aliados de Jair Bolsonaro: Romário (PL), que tem 16% e mantém uma distância regulamentar das pautas bolsonaristas, e Marcelo Crivella (Republicanos), que vem um pouco atrás, com 12%.

O ex-presidente Lula e presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, em convenção do partido que oficializa a chapa Lula-Alckmin  Foto: Wilton Junior/Estadão

Para aumentar seu poder de barganha, Molon tem valorizado seu desempenho nas redes sociais. Para aumentar a pressão sobre o PSB, o secretário nacional de comunicação do PT, Jilmar Tatto, vem defendendo o rompimento com o partido de Freixo e o apoio a Rodrigo Neves, do PDT de Ciro Gomes, na disputa pelo governo do Rio, a fim de trazer de volta a Lula o apoio dos pedetistas e estimular o voto útil na corrida presidencial. Mas Ceciliano prefere Molon fora da disputa e estimula a intervenção do ex-presidente.

Presidente da Alerj, o petista era o primeiro da lista, elaborada pelo Centro de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) em 2018, com 27 deputados estaduais cujos assessores tiveram movimentações bancárias atípicas. Foi nela que Flávio Bolsonaro apareceu ligado ao ex-assessor Fabrício Queiroz, o que serviu de ponto de partida para as investigações de “rachadinhas” da família do presidente. O maior montante identificado pelo órgão havia sido movimentado por funcionários lotados no gabinete de Ceciliano: mais de R$ 49 milhões entre 2011 e 2017, a maior parte deles pelo empresário da construção civil Carlos Alberto Dolavale e por sua ex-mulher, Elisângela Barbiere.

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Molon pode ficar de pirulito na mão, mas já deveria saber com quem está lidando. Lula nunca deixou crescer uma liderança à sua sombra, nem confia tanto em quem saiu do PT para a Rede cobrando autocrítica do partido, antes de migrar para o PSB. Ceciliano é muito mais a cara dele. Pode não ter voto, mas estará sempre ao seu lado contra qualquer lista inoportuna.