Depois de conduzir a aprovação da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados em prazo recorde de quatro meses e com economia de R$ 933,5 bilhões aos cofres públicos nos próximos dez anos, montante não muito distante do impacto fiscal de R$ 1,2 trilhão previsto pela equipe econômica, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pode ser considerado o grande agente das mudanças nas regras de aposentadoria e celebrar o seu feito. "A conta que mais precisa ser engordada nessa matéria é a do Maia", avalia Humberto Dantas, cientista político e professor da FGV.
Na avaliação de Dantas, Rodrigo Maia conseguiu construir diálogos, mesmo num clima de embate e divergências, e mostrar que a Câmara dos Deputados está atuando com responsabilidade com a agenda de crescimento do País. "Se isso torna (Maia) popular ou impopular, se as pessoas gostam ou não da temática, não vem ao caso, é algo que precisa ainda ser analisado. Mas o fato é que ele é o grande agente articulador desta reforma, por vezes mais próximo ou mais distante de alguns ministros como Paulo Guedes ou Onyx Lorenzoni."
O cientista político destaca que agora que a matéria está sob o mando do Senado Federal, é preciso prestar atenção em um outro agente político, o presidente desta Casa Legislativa, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Para Dantas, Alcolumbre também vai querer um papel de protagonismo e, portanto, poderá se colocar entre Maia e o presidente Jair Bolsonaro, negociando e olhando para essas duas frentes. "Precisamos olhar com atenção para este cenário", afirma, argumentando que isso poderá acirrar mais os ânimos e provocar alguns embates.
Indagado a respeito da tramitação da reforma da Previdência ter tramitado de forma célere em razão da liberação de emendas parlamentares pelo governo, o professor da FGV diz que isso sempre ocorreu em momentos de votações estratégicas. "Foi assim nos comandos de Henrique Eduardo Alves, Eduardo Cunha e agora, Rodrigo Maia, na Câmara. Portanto, três presidentes da República viveram sob a lógica das emendas impositivas, que são liberadas em momentos estratégicos. Não há nada de diferente, pois mais hora ou menos hora elas terão de ser liberadas de qualquer jeito. O que existe é uma tentativa de se trazer uma narrativa diferente para um fenômeno absolutamente comum na nossa política."