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Marina sofre derrota em Congresso da Rede e diz que está “sangrando”

Racha expõe divisão entre grupo de ministra do Meio Ambiente e do líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues

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Foto do author Levy Teles
Foto do author Giordanna Neves
Por Levy Teles e Giordanna Neves (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA – A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi derrotada no Congresso de seu partido, a Rede Sustentabilidade, e disse sair do encontro “sangrando” por causa dos ataques sofridos. O racha foi exposto neste domingo, 16, quando os grupos de Marina e do líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (AP), se dividiram pelo comando nacional da Rede.

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Militantes trocaram acusações, vaias e ofensas durante os três dias do 5.º Congresso da legenda, em Brasília. A chapa “Rede Vive Pela Base”, que tinha o apoio de Randolfe e se posicionou mais à esquerda, venceu a disputa. Foram 234 votos para o grupo de Randolfe e 165 obtidos para o de Marina.

A ministra se comparou a um “bisão”, bovino de grande porte, sendo atacado por leões por todos os lados. “Ele é muito forte, muito grande, mas ele morreu. Neste momento, saio daqui sangrando”, disse Marina, que acompanhou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na viagem à China.

A chapa “Rede Vive Pela Base” reelegeu a ex-senadora Heloísa Helena e o engenheiro ambiental Wesley Diógenes. A estrutura do partido não prevê a existência de um presidente, mas, sim, de dois porta-vozes nacionais (um homem e uma mulher). O ambientalista Pedro Ivo, um dos fundadores da Rede, afirmou que a sigla deve superar a ideia de que “não é nem de esquerda e nem de direita”. A frase foi dita por Marina ainda em 2013, no lançamento do partido.

O “Rede Vive”, de Marina, indicou Giovanni Mockus e Joênia Wapichana, presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), como postulantes ao cargo de porta-vozes nacional. O grupo prega que é preciso abranger não apenas a esquerda, mas outros espectros políticos.

Marina Silva diz que na Rede há lugar "para a esquerda e para quem não é de esquerda" Foto: Evaristo Sa / AFP

“Esse partido tem lugar para a esquerda, tem lugar para quem não é de esquerda. E eu me digo sustentabilista progressista”, disse Marina. “O que se propõe tem lugar para minha irmã (Heloísa Helena), tem lugar para mim, para vocês, para o jovem e um lugar para a primeira mulher indígena ser presidente de um partido.”

O clima de racha já existia antes mesmo do começo do Congresso. Aliados de Marina pediam o adiamento do encontro, alegando o alto preço dos voos para Brasília e a ausência da ministra, que estava na comitiva de Lula na China.

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Marina, no entanto, fez questão de comparecer à convenção e aproveitou para rebater acusações de adversários de que ela teria oferecido cargos em troca do apoio à sua chapa na disputa.

“Tivemos ontem (sábado) discussões acirradas, tachações indevidas e insinuações que ferem a honra”, afirmou a ministra, visivelmente cansada da viagem.

Lados opostos

Um dos argumentos do grupo rival foi o de que a ministra teria oferecido cargos no partido em troca de votos. “É inaceitável um partido do campo democrático popular viabilizar todos os mecanismos para comprar voto, para promessa de cargo”, afirmou Heloísa Helena.

“É uma leviandade afirmar que a ministra Marina ofereceu alguma coisa a alguém”, rebateu o deputado Túlio Gadelha (PE), após o discurso de Heloísa. Gadelha foi vaiado por ativistas do “Pela Base”, grupo de Randolfe e Heloísa, sentados à esquerda do auditório do hotel San Marco, onde se realizou a convenção. Do lado direito, com alguns ao centro, estava o “Rede Vive”, que levou máscaras de Marina ao evento.

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Ex-filiado do PDT, Gadelha reproduziu um discurso de militantes do grupo de Marina que acusaram o “Pela Base”, de Heloísa e Randolfe, de terem votado em Ciro Gomes (PDT) para presidente. “Os votos de Ciro Gomes foram para Bolsonaro”, afirmou o deputado, numa referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele foi novamente vaiado.

Antes mesmo da convenção, militantes da chapa “Pela Base”, de Randolfe, cantarolaram “A Rede que eu quero não votou no Aécio”, relembrando o apoio da ministra a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno da eleição presidencial de 2014. Ex-petista, Marina participou da primeira rodada daquela disputa, após a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, de quem era vice na chapa. Hoje deputado, Aécio concorreu contra Dilma Rousseff (PT) e perdeu.

Marina passou os quase dez minutos do discurso se defendendo de ataques feitos pelos adversários, que a acusaram de ser “amiga de banqueiros”.

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“Pergunto a cada um e a cada uma: alguma vez eu liguei para qualquer pessoa para insinuar sobre a honra de quem quer que seja aqui? Se disser que é verdade, é mentiroso”, afirmou a ministra. “Já fui chamada de homofóbica, fundamentalista. Não é com rótulo, com conversinhas por trás, e palavras doces pela frente, que vamos ser diferentes.”

No fim do discurso, Marina foi cortejada por militantes do partido, inclusive por um do grupo rival. “Não dá. Se alinham a um grupo que fala mal (de Marina) e querem tirar foto?”, disse um ativista da legenda, que pediu anonimato.

A deputada estadual paulista Marina Helou, que apoiou a chapa “Rede Vive” e integra o grupo político de Marina, minimizou as críticas. “Isso é uma disputa de narrativas. Na parte da diversidade, por exemplo, eles falam que têm diversidade, mas só tem pessoas brancas (no grupo)”, disse ela.

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