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Múcio diz que joga ‘na defesa, não no ataque’ e atua para aproximar ministros civis de comandantes

Ministro da Defesa começou a promover almoços para reunir área militar com integrantes do governo Lula

Foto do author Eliane Cantanhêde
Por Eliane Cantanhêde
Atualização:

BRASÍLIA - Atacado por setores do PT e defendido por ex-ministros da Defesa, o atual ministro, José Múcio Monteiro, levou o colega da Justiça, Flávio Dino, para almoçar no seu gabinete com os comandantes do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, como parte do processo de pacificação da área militar, o seu principal objetivo no cargo. No encontro, houve indignação unânime contra o que foi chamado de “barbárie” no domingo passado.

A partir de agora, Múcio levará um ministro civil por semana para um entrosamento e abertura de canais com a cúpula militar. O próximo convidado é Rui Costa, da Casa Civil, que é do PT e sabe perfeitamente que, apesar das críticas e da pressão de petistas a favor da demissão de José Múcio, ele vem cumprindo exatamente a missão que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lhe deu: pacificar os militares.

O ministro da Defesa, José Múcio, começou a organizar encontros entre comandantes militares e ministros do governo Foto: Daniel Teixeira / Estadão

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Aos muitos colegas de ministério, parlamentares e amigos que demonstraram solidariedade, Múcio tem usado uma referência futebolística e repetido que foi colocado em campo para jogar na defesa, não no ataque. É público e notório o racha e a grave infiltração bolsonarista nas Forças Armadas. Múcio trata isso como “passado” e busca confluências para o “futuro”.

As críticas vêm desde a transição, quando petistas e aliados mais à esquerda pressionavam para uma posição “mais dura” ou “mais incisiva” contra oficiais das três Forças mais identificados com o ex-presidente Jair Bolsonaro e contra os acampamentos bolsonaristas às voltas dos quartéis, principalmente do Quartel General do Exército em Brasília.

O pico da tensão, porém, foi na terça-feira passada, quando o deputado André Janones publicou nas redes sociais que a renúncia de Múcio ao cargo era dada como certa. A postagem teve especial relevância porque Janones é considerado desde a campanha “o braço armado” de Lula na internet. Múcio, porém, negou a renúncia e já tarde da noite divulgou nota reforçando a negativa.

Já no dia seguinte, cinco ex-ministros da Defesa fizeram uma reunião virtual para manifestar indignação contra a invasão do Palácio do Planalto, da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal e apoio a José Múcio. A posição unânime entre eles é que a pior coisa que Lula poderia fazer num momento tenso como este seria demitir o ministro da Defesa, ainda mais trocar o maduro e ponderado Múcio por algum petista ou alguém mais à esquerda, menos disposto a negociar e mais a jogar duro com generais, almirantes e brigadeiros. Participaram da reunião os ex-ministros Nelson Jobim, Raul Jungmann, Aldo Rebello, o general Fernando Azevedo e Silva e o petista Jaques Wagner, líder do governo Lula no Senado.

A quem o procura, o ministro lembra que não tem partido, não tem líder, não tem projeto político e é, antes de tudo, leal ao país e ao presidente Lula. Logo, seu cargo está sempre à disposição do presidente, sem nenhum problema. Mas, enquanto estiver lá, vai cumprir justamente as ordens do próprio presidente. Ou seja: pacificar, não confrontar uma área tão delicada quanto estratégica como a das Forças Armadas.

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