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Direto ao assunto

Omissão oportunista

Em depoimentos e entrevista à Época, Joesley tenta vender lorota de relação republicana com Lula

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Joesley em seus tempos de bamba do abate Foto Vanessa Carvalho Brazil Photos 2015 Foto: Estadão

Assustam as revelações feitas por Joesley Batista na entrevista a Diego Escosteguy que circula na Época desta semana, a respeito da desfaçatez e da truculência da Orcrim do PMDB da Câmara, que ele acusa ser liderada pelo presidente em pessoa. Só não é convincente a tentativa de convencer a opinião pública que os irmãos Batista enriqueceram porque são gênios no negócio de abate de bois e que Lula foi apenas um patriota ajudando um empresário nacional a criar sua própria multinacional. Chama-me a atenção na entrevista e relativiza sua importância como furo é que só um petista é delatado por Joesley Batista. De seus depoimentos e de sua entrevista só o ex-ministro da Fazenda de Lula sai mal: Guido Mantega. Depois de delação similar de Palocci, isso muito estranho.

(Comentário no Jornal Eldorado da Rádio Eldorado - FM 107,4 - da segunda-feira 19 de junho de 2017, às 7h30m)

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Para ouvir De mentira, com Zeca Baleiro, clique aqui

Abaixo, a íntegra da degravação do comentário:

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Eldorado 19 de junho de 2017

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SONORA De mentira Zeca Baleiro https://www.youtube.com/watch?v=35dDKGYwm0k

Em que a entrevista exclusiva dada por Joesley Batista pode prejudicar a srevivência do governo Temer?

No momento em que o presidente Michel Temer embarca para a Noruega e para a Rússia tentando vender à opinião pública a impressão de que está firme no comando do País e que o programa das reformas, principalmente a da Previdência e a trabalhista depende de sua presença no Palácio do Planalto, a força política dele fica profundamente abalada no Congresso. Isso se deve à entrevista que o delator premiado Joesley Batista, da JBS, deu a Diego Escosteguy, da revista Época, publicada com grande destaque na capa do semanário que está neste momento nas bancas de todo o País. A entrevista é chocante pelo que o entrevistado revelou e pelo que ele deixou de revelar com anuência e omissão do entrevistador. As denúncias feitas contra o presidente e seus homens de governo são assustadoras. Os brasileiros parecem anestesiados em relação a denúncias contra a corrupção e não acompanho manifestações de peso sobre o grau de comprometimento da democracia quando aparece um cidadão livre, leve e solto e denuncia o presidente da Republica como o número um, o poderoso chefão de uma organização criminosa que está em parte na cadeia e em parte no Palácio do Planalto, de onde comanda os vultosos negócios da República e manda na vida econômica da produção e do consumo, sendo responsável pelo sucesso, pela fortuna e pela falência de toda uma sociedade. Joesley deu nomes aos bois. Além de Temer, seu mão longa Rodrigo da Rocha Loures e seus auxiliares ou ex-aliados e ex-auxiliares diretos Geddel Vieira Lima, Eduardo Cunha, Wellington Moreira Franco e Eliseu Padilha, grupo designado como o PMDB da Câmara. É assustador principalmente para quem imagina que vivemos em plena liberdade num Estado de Direito e de repente podemos estar sob o comando de pessoas desqualificadas e vingativas, que podem estar tramando a desgraça ou até mesmo contra a integridade física de seus críticos em quaisquer atividades que desempenhem essa crítica, políticos, jornalistas ou pessoas com relevância pública e social. O fato de o denunciante gozar de plena liberdade e não ter sido até agora contestado em nada do que tenha dito de realmente relevante é um dado que precisa ser debatido como de relevância maior do que tem sido revelado nos depoimentos de delação premiada dos dirigentes da JBS. Desde sábado quando as bancas começaram a exibir a capa explosiva, o noticiário político contém notícias preocupantes para o presidente e sua equipe de governo mais próxima, a corte palaciana, que vinham comemorando uma vitória bastante contestada na opinião pública no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Tudo isso retira autoridade de Temer sobre o que ele vai discutir com russos e noruegueses sobre política e economia no Brasil e abala ainda mais sua autoridade internamente.

Mas você acha que a palavra do entrevistado merece crédito total, a ponto de abalar os projetos de permanência de Temer no poder?

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Temer tem apostado suas fichas exclusivamente na desqualificação do entrevistado. Isso não resolve em nada seu problema e, muito menos, o da Nação. Joesley é bandido, todo brasileiro desconfia disso há muito tempo, mas ele não é nosso bandido. Ele é um bandido criado e cevado no mesmo meio ambiente em que Temer foi. É muito pouco provável que o atual presidente não seja, como ele diz, o número 1 da organização criminosa que limpou os cofres republicanos nos 13 anos, 4 meses e 12 dias dos desgovernos Lula e Dilma, ambos do PT. Mas está claro que o PMDB do Senado, com Renan Calheiros, Romero Jucá, Edison Lobão e outros menos votados e o da Câmara, a quem pertencem Temer e sua patota participaram de forma ativa desse saque, se não ao longo do primeiro mandato e desmandato do primeiro governo Lula, pelo menos foi cúmplice importante a partir do momento em que, após sua segunda posse, o ex-presidente petista foi obrigado a enfrentar o desmascaramento do esquema de rapina denunciado no processo chamado de Ação Penal 470 e vulgarmente chamado de mensalão. Foi quando, sem Zé Dirceu, o articulador da base de apoio comprada na primeira indigestão, Lula terminou apelando para a idéia do seu ex-factotum e chamando o PMDB para a divisão do butim. Temer foi o representante mais importante dessa aliança ao lado dele e levou seu partido para o baile sendo decisivo nas duas eleições de Dilma e na articulação de sua sobrevivência no início do processo do desgaste. Se não é lógico que Temer tenha sido o número um nos anos em que os irmãos Batista de Anápolis enriqueceram de forma incrível e inusitada, não é desprezível a informação de que ele é o número um da patota do PMDB que participaram do grande saque aos cofres republicanos de 2011, após a posse de Dilma e Temer, até hoje. Isso fica muito claro nas investigações da Operação Lava Jato, principalmente no que concerne às revelações feitas pela força-tarefa da Operação Lava Jato, menos no que depende do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e do Supremo Tribunal Federal, que têm demonstrado mais ímpeto investigativo para punir o grupo que Joesley chama de "orcrim do Planalto" do que os chefões do PT e de seus partidos aliados no período maior e mais ativo da corrupção.

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A Folha de S.Paulo chamou a atenção para contradições entre o depoimento de Joesley à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal e a entrevista, principalmente no que concerne a datas. Mas, a meu ver, este não é o principal deslize do entrevistado, do entrevistador e da revista.

E o que importa mais, na sua opinião?

A nota oficial com que o Palácio respondeu à entrevista investe, mais uma vez, exclusivamente na desqualificação do denunciante. Chamou-me, contudo, atenção, do ponto de vista informativo para o fato de que, desta vez, ela foi muito bem redigida e começou chamando a atenção para o que realmente repugna tanto na aceitação do acordo excessivamente generoso aceito pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF) e homolagado pelo relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Edson Fachin, quanto na entrevista à Época. Em nenhum momento na delação, Joesley foi instado a explicar como seu grupo de empresas saiu de Anápolis para se tornar o mais poderoso produtor e comerciante de proteína animal do mundo, sob os auspícios dos desmandos petistas e dinheiro público generosamente emprestado a juros de banana pelo BNDES. Ao contrário, Joesley sempre exaltou o espírito republicano do presidente daquele banco publico quando a natureza também republicana dos poucos encontros que teve com Lula. Diante da possibilidade de bancar o rei Midas e transformar porcaria em ouro, federais, procuradores, o repórter e a revista deixaram Joesley discorrer longamente sobre a chamada Orcrim do PMDB da Câmara, deixando-o proteger, de forma acintosa, os padrinhos que o enriqueceram. Na nota oficial o Planalto lembrou um dado que Joesley não teve de explicar nem aos agentes da lei que o interrogaram nem o repórter e a revista que o entrevistaram. Logo em seus primeiros parágrafos, a nota reza exatamente o seguinte. Vou citá-la: "Em 2005, o Grupo JBS obteve seu primeiro financiamento no BNDES. Dois anos depois, alcançou um faturamento de R$ 4 bilhões. Em 2016, o faturamento das empresas da família Batista chegou a R$ 183 bilhões. Relação construída com governos do passado, muito antes que o presidente Michel Temer chegasse ao Palácio do Planalto. Toda essa história de "sucesso" é preservada nos depoimentos e nas entrevistas do senhor Joesley Batista" E também foi muito bem lembrado que "os reais parceiros de sua trajetória de pilhagens, os verdadeiros contatos de seu submundo, as conversas realmente comprometedoras com os sicários que o acompanhavam, os grandes téntaculos da organização criminosa que ele ajudou a forjar ficam em segundo plano, estrategicamente protegidos". Infelizmente, a nota prossegue repisando a mesma lorota de que o presidente não pediu nada, em vez de dar esclarecimentos, até agora negados à opinião pública, sobre o que fazia o delator na calada da noite no palácio público, onde mora a família Temer, nem a natureza nada republicana de sua conversa. Isso é uma coisa que merece ser investigada e todos os nossos ouvintes podem testemunhar que nunca deixei de cobrar isso de Temer e de seus colegas de prosseguimento da gestão da doidinha Dilma Rousseff. Outra coisa é querer nos convencer que os irmãos Batista enriqueceram porque eram gênios do negócio de abate e que Lula foi apenas um patriota ajudando um empresário nacional a criar sua própria multinacional. Outra coisa que me chama a atenção na entrevista e relativiza sua importância como documento jornalístico, é que só um petista é delatado por Joesley Batista. De seus depoimentos e de sua entrevista só o ex-ministro da Fazenda de Lula sai mal: Guido Mantega. Isso é muito estranho em si, mas mais ainda no contexto.

A que contexto você se refere?

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Veja bem: tem sido noticiada com muita insistência a possibilidade de outro ex-ministro da Fazenda petista, Antônio Palocci, estar se preparando para negociar uma delação premiada. Mas até agora nada. Nos bastidores comenta-se muito sobre a perspectiva de essa delação trazer à tona as relações ilícitas de parte considerável do PIB brasileiro com o esquema de corrupção da aliança PT e PMDB, com participação ativa da falsa oposição, comandada por Aecinho Neves, que se meteu numa embrulhada e agora se diz numa situação kafkana. Por enquanto, nada disso foi revelado pra valer e de Palocci só ficamos sabendo que ele é um dedo duro asqueroso que tenta transferir toda a responsabilidade de seus malfeitos, como dizia sua ex-chefe Dilma, de quem foi chefe da Casa Civil, para o coleguinha Guido Mantega. O conto da carochinha de Joesley, tanto na delação premiada quanto na entrevista apropriada, é de que tudo de ruim foi feito por Guido Mantega, que, aliás, continua solto. Neste fim de semana, nossa colega colunista do Estadão e da Eldorado, Eliane Cantanhêde, não apenas atentou para este fato como lembrou a semelhança que ele tem com o truque que Lula e os ministros do STF, sob o comando do impoluto Joaquim Barbosa, armaram: o de sair de fininho deixando tudo pra Zé Dirceu responder à Polícia e à Justiça. Eliane lembrou que "nParte inferior do formulárioo mensalão, Lula era o presidente, tudo ocorria no andar do seu gabinete, mas convencionou-se que o "chefe da quadrilha" era José Dirceu. A PGR, o Supremo, o Congresso, a própria oposição e a mídia foram cheias de pruridos diante de Lula, evitando cobrar responsabilidades e explicações do migrante nordestino, maior líder sindical de todos os tempos e presidente com imensa popularidade. A culpa toda recaiu sobre Dirceu". Quanto a Janot, indicado por Dilma, Fachin, que fez campanha para Dilma e que andou com Ricardo Saud, da JBS, para cima e para baixo nos corredores do Senado para obter a aprovação da Casa para sua indicação por Dilma para o Supremo, posso até entender. Mas o caso da Época é diferente. Afinal, a revista tem feito, sob o comando de quem entrevistou Joesley, Diego Escosteguy, um trabalho competente e revelador, que não deixa brechas, sobre as investigações da Lava Jato, cujo resultado tem sido o desmascaramento progressivo e comprovado do verdadeiro comando dos desgovernos e desmandos durante os quais foi praticado o maior assalto da História. As omissões de Joesley, tratando Lula como pai, e dos principais responsáveis pelo prêmio excessivo da delação da JBS, podem ser entendidas como o pagamento de uma dívida ao padrinho que cobrou em telefonema a Jacques Wagner a ingratidão de Janot, são explicáveis, embora não sejam justificáveis pelos cargos que esses agentes da lei exercem, não para servirem quem os nomeou, mas a República e o contribuinte, que lhes paga os vencimentos. A Época, não.

SONORA De mentira Zeca Baleiro https://www.youtube.com/watch?v=35dDKGYwm0k

 

 

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