BRASÍLIA - Em um gesto para apaziguar os ânimos após dizer que o Exército estava se associando a um “genocídio” ao se referir à crise sanitária instalada no País com a covid-19, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes falou por telefone com o ministro interino da Saúde, o general Eduardo Pazuello. O contato inicial, segundo o Estadão apurou com interlocutores de Gilmar, partiu da Presidência da República.
Na segunda-feira, 13, Bolsonaro e Gilmar falaram por telefone. O ministro do STF tentou contato com Pazuello, mas não conseguiu. Coube ao presidente repassar o telefone de Gilmar para Pazuello, que retornou. O titular da Saúde falou em se reunir pessoalmente com o magistrado, sem saber que ele está em Lisboa. O encontro deve ocorrer quando Gilmar retornar ao País, no final deste mês, com o fim do recesso do STF.
Na ligação, feita na terça-feira, 14, Pazuello disse que colocava à disposição todas as informações do enfrentamento da pandemia para que o magistrado pudesse formar uma “opinião correta” sobre a situação do País. A conversa foi descrita por ambos, segundo seus interlocutores, como “cordial” e “institucional”. Não houve, porém, pedido de desculpas ou menção às suas declarações por parte do magistrado.
A dura crítica de Gilmar, no último sábado, mirando os 20 militares que ocupam cargos estratégicos na Saúde, dos quais 14 na ativa, gerou novo embate entre as Forças Armadas e um integrante STF. O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, reagiu e ingressou anteontem com uma representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Gilmar.
Ao acionar a PGR, Azevedo usou parecer da consultoria jurídica que aponta crime contra a honra previsto no Código Penal e menciona o artigo 23 da Lei de Segurança Nacional. Segundo o Estadão apurou, o caso pode ser apreciado pela PGR apenas depois do recesso, em agosto.
O presidente do STF, ministro Dias Toffoli, entrou em campo na última segunda-feira e falou com Azevedo (ex-assessor especial do STF na sua gestão) e o ministro da Secretaria-Geral, Luiz Eduardo Ramos, em um esforço para distensionar o ambiente. O tom da fala de Gilmar foi reprovado por integrantes da Corte ouvidos pela reportagem.
Interino
Em meio à pandemia do coronavírus, o Brasil está há mais de dois meses sem um ministro da Saúde e registra mais de 75 mil mortes, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa consolidado na noite desta quarta. Pazuello assumiu no dia 15 de maio, quando o então ministro Nelson Teich pediu demissão. Na ocasião, o País registrava 14.962 óbitos.
Diante do novo estremecimento entre Poderes pela condução da pandemia, Bolsonaro passou a ser pressionado para substituir Pazuello. Integrantes do Exército temem pela imagem da Força e querem que o general peça a transferência para a reserva caso seja mantido no cargo.
Segundo auxiliares do governo, o presidente deve começar avaliar nomes para assumir o Ministério da Saúde após se recuperar da covid-19. A expectativa é ter uma definição sobre o comando da pasta até meados de agosto.
‘Predestinado’
Nesta quarta, Bolsonaro saiu em defesa de Pazuello nas redes sociais e elogiou a experiência do general em logística e administração. “Quis o destino que Gen. Pazuello assumisse a interinidade da Saúde em maio último. Com 5.500 servidores no Ministério, o Gen. levou consigo apenas 15 militares para a pasta. Grupo esse que já o acompanhava desde antes das Olimpíadas”, escreveu.
Na publicação, Bolsonaro, no entanto, não indicou qual será o futuro de Pazuello. “Pazuello é um predestinado, nos momentos difíceis sempre está no lugar certo pra melhor servir a sua Pátria. O nosso Exército se orgulha desse nobre soldado”, disse.