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PF pede ao STF para investigar líder do Republicanos no Senado por compra de votos

Motorista do senador foi preso em flagrante na cidade de Alto Alegre com R$ 50 mil em notas de R$ 100 nas meias. PF diz haver “fortes indícios” de envolvimento dele. Senador diz que dinheiro era para pagar despesas de propriedades

Foto do author André Shalders
Por André Shalders

BRASÍLIA - A Polícia Federal (PF) pediu nesta quarta-feira (08) ao Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar o senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR) por possível compra de votos na eleição suplementar da cidade de Alto Alegre (RR). Mecias é o atual líder da bancada do Republicanos no Senado.

Na representação ao STF, a PF afirma existirem “fortes indícios” de envolvimento do senador na tentativa de compra de votos – há duas semanas, o motorista dele foi preso em flagrante com R$ 50 mil em notas de R$ 100 escondidas no corpo. Em nota, o senador disse que já prestou todos os esclarecimentos à PF, e que o dinheiro era para pagar custos de uma propriedade dele no município.

O senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR): PF pede para investigar compra de votos Foto: Jefferson Rudy / Agência Senado

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A prisão do motorista foi no dia 25 de abril, uma quinta-feira, três dias antes da eleição. Ao receber uma denúncia anônima, a Polícia Federal revistou dois suspeitos que estavam em um estabelecimento em Alto Alegre. No corpo de um deles, encontrou R$ 50 mil em notas de R$ 100, “divididas entre a cintura e as meias”, segundo divulgou a corporação, à época. O homem chama-se Josiran Silva Cruz Barbosa, e seria motorista de Mecias de Jesus, segundo a PF.

Entre janeiro de 2019 e março do ano passado, Josiran foi assessor parlamentar do ex-deputado federal Jhonatan de Jesus, filho do senador Mecias de Jesus. Em março passado, Jhonatan se tornou ministro do Tribunal de Contas da União. Como mostrou o Estadão em agosto, a mulher de Jhonatan recebeu salário como funcionária fantasma no gabinete de um ex-colega de bancada de Jhonatan, Gabriel Mota (Republicanos-RR). Josiran foi liberado após pagamento de fiança.

Três dias após a prisão de Josiran, os eleitores de Alto Alegre foram às urnas e elegeram o candidato apoiado por Mecias de Jesus e pelo governador do Estado, Antonio Denarium. Engenheiro civil de formação, Wagner Nunes (Republicanos) teve 4.702 votos (46,4% do total), superando o outro candidato, Valdenir Magrão (MDB), que obteve 4.070 sufrágios. A eleição de Alto Alegre foi realizada após o prefeito anterior, Pedro Henrique Machado (PSD), ter o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em fevereiro deste ano, justamente por compra de votos.

No pedido ao Supremo Tribunal Federal, a PF diz não haver dúvida de que o dinheiro apreendido com Josiran pertencia ao líder do Republicanos, e ressalta ainda que o candidato a prefeito que acabou vencendo o pleito estava sendo apoiado pelo senador. A PF também narra que, durante a prisão de Josiran, Mecias de Jesus chegou a empurrar um agente da Polícia Federal, ameaçando criar “problemas” para o servidor público em função da prisão do motorista.

Sempre que as investigações da Polícia Federal encontram indícios de envolvimento de autoridades com foro privilegiado, a corporação precisa pedir autorização ao STF para continuar com as apurações. Hoje, a investigação está sendo conduzida na 3ª Zona Eleitoral de Alto Alegre. Com pouco mais de 21 mil habitantes, Alto Alegre está localizada a 91 km da capital de Roraima, Boa Vista.

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Mecias: dinheiro era para quitar custos de propriedade

Ao Estadão, o senador Mecias de Jesus disse que já prestou todos os esclarecimentos à PF. Disse ainda que o dinheiro não estava com ele ou no carro dele, e que se destinava a pagar custos de uma propriedade rural dele no município.

“Todos os esclarecimentos necessários já foram prestados à Polícia Federal em momento oportuno diante das autoridades. É importante reafirmar que a quantia encontrada não estava com o Senador ou dentro de seu veículo e destinava-se a quitação de custeios e manutenção de propriedade privada no município. Seguimos confiando no esclarecimento dos fatos”, disse ele, em nota.

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