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Quem é o coronel que conquistou Tarcísio, ganhou poder e hoje controla a agenda do governador de SP

Estrutura e cargo não existem oficialmente, mas André Porto Rodrigues, amigo do governador há quase 40 anos, comanda agenda e cerimonial no Palácio dos Bandeirantes

Foto do author Pedro Augusto Figueiredo
Por Pedro Augusto Figueiredo
Atualização:

Assessor especial de Tarcísio de Freitas (Republicanos), o coronel da reserva do Exército André Porto Rodrigues conquistou espaço nos últimos dois meses na administração estadual e passou a se autodenominar “chefe do gabinete pessoal do governador”. O cargo não existe oficialmente, mas, na prática, ele comanda o cerimonial do governo, controla a agenda de compromissos e quem entra e quem sai da sala do chefe do Executivo estadual.

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As novas atribuições de Porto, que despacha de uma sala próxima à do governador no Palácio dos Bandeirantes, eram desempenhadas pela Casa Civil, chefiada por Arthur Lima (PP). O secretário tem sido alvo de fritura de aliados de Tarcísio, que questionam o desempenho dele à frente da pasta e pressionam por uma troca.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou substituir Lima pelo senador Ciro Nogueira (PP), como mostrou o jornal O Globo e confirmou o Estadão, mas a mudança não se concretizou. Apesar disso, foi o próprio Tarcísio quem decidiu retirar parte dos poderes do secretário e transferi-los para seu “gabinete pessoal” sob o comando do coronel.

Em nota, o governo de São Paulo buscou separar as funções de Porto e da secretaria chefiada por Lima. Argumentou que um cuida da assessoria pessoal de Tarcísio e o outro responde pelo assessoramento técnico.

“André Porto é assessor especial do governador e exerce funções de assessoria e assistência pessoal ao chefe do Executivo paulista, incluindo a supervisão das equipes responsáveis pela agenda e cerimonial do gabinete pessoal do governador. Cabe à Casa Civil, prioritariamente, a coordenação intersecretarial dos programas de governo e assessoramento técnico e legislativo do governador”, disse o Palácio dos Bandeirantes. O Estadão tentou uma entrevista com o coronel, mas o pedido foi negado.

Coronel Porto presta continência ao governador Tarcísio de Freitas, após os dois serem homenageados pela Sociedade Amigos do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva de São Paulo Foto: @coronelandre.porto via Instagram

Nos bastidores, integrantes do governo minimizam a ascensão de Porto e negam uma disputa por espaço entre ele e Arthur Lima sob o argumento de que eles são amigos há décadas. O secretário da Casa Civil também protagoniza uma disputa por espaço e influência nos rumos da gestão com o secretário de Governo, Gilberto Kassab (PSD).

Porto, Lima e Tarcísio se conhecem há décadas. Os três são da turma de 1996 da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), conhecida como Turma do Bicentenário da Inconfidência Mineira. Antes disso, estudaram juntos na Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx).

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Coronel Porto mantém pouco contato com deputados da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), mas ajuda o governo em outras articulações quando necessário. Ele foi assessor parlamentar do gabinete do Comandante do Exército em Brasília entre 2021 e 2022 e também comandou um regimento de cavalaria mecanizada em São Borja (RS).

“Nós criamos o gabinete pessoal do governador, e eu, atualmente, sou o chefe do gabinete pessoal do governador. Nós estamos trabalhando nas agendas dele, na parte do cerimonial, em outras questões, nos contatos, nas conversas”, disse Porto em uma entrevista ao podcast PodFull, no final de fevereiro.

Secretário Arthur Lima, governador Tarcísio de Freitas e coronel Porto são da mesma turma da Aman Foto: @coronelandre.porto via Instagram

Antes de ir para o governo paulista, o coronel trabalhou no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Bolsonaro, onde atuou na coordenação de eventos e das viagens nacionais e internacionais do ex-presidente.

Ele antecipou sua passagem para a reserva e deixou a ativa no dia 2 de março de 2023, já no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No dia seguinte, foi exonerado do GSI, nomeado por Tarcísio como assessor especial com designação para chefiar, com status de secretário, a Gerência de Apoio do Litoral Norte.

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O órgão foi criado de forma temporária para coordenar a resposta do Estado às fortes chuvas que causaram mortes e desabamentos em São Sebastião no início do ano passado. A Gerência de Apoio do Litoral Norte encerrou suas atividades no início de março.

Segundo o próprio Porto, o Exército demora de 40 a 45 dias desde a entrada da documentação para transferir um oficial para a reserva até ele estar apto a exercer funções fora das Forças Armadas. No caso do coronel, o período foi abreviado para apenas um dia por causa de uma articulação feita por Tarcísio com o comandante do Exército, Tomás Paiva.

Há a expectativa de que o coronel seja oficializado em breve como chefe de gabinete do governador, cargo que hoje não existe. O governo não respondeu quando a função será criada.

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“O coronel André Porto é um amigo de quase 40 anos”, disse Tarcísio em uma cerimônia no início de fevereiro que entregou moradias para as famílias que foram afetadas na cidade. “O Porto era esse gerente que me dava informação, que trazia os relatos para mim e me ajudava a tomar decisão. (...) Vai para outra missão, vai ficar comigo lá em São Paulo agora”, continuou o governador.

A turma de Tarcísio, Porto e Lima na Aman tem outros egressos que entraram na política ou ganharam evidência no noticiário nos últimos anos. O coronel Jean Lawand Júnior, que enviou mensagens ao então ajudante de ordens Mauro Cid pedindo que Bolsonaro desse um golpe de Estado após o segundo turno da eleição de 2022, foi o aluno com melhor desempenho da classe.

Wagner Rosário, controlador-geral do Estado de São Paulo, chamado pelo apelido Dag no meio militar, também foi colega de Tarcísio na Aman. Chefe da Controladoria-Geral da União (CGU) no governo Bolsonaro, Rosário participou da reunião ministerial de teor golpista em julho de 2022 e defendeu uma força-tarefa entre a CGU, a Polícia Federal e as Forças Armadas para auditar as urnas eletrônicas. O vídeo do encontro foi encontrado pela PF no computador de Cid.

No fim de 2021, houve uma festa para comemorar os 25 anos de formatura da turma. Tarcísio, Arthur Lima e Rosário não participaram das festividades. Entre os nomes mais conhecidos estiveram presentes apenas o deputado federal Luciano Zucco (PL-RS), outro integrante da classe de 1996, e o coronel Porto, a quem coube descerrar a placa que registrou o encontro.

“A placa desse ano foi construída pelo nosso ‘01′, nosso amigo coronel Lawand”, disse o chefe de gabinete de Tarcísio na ocasião. A declaração foi registrada em um vídeo da cerimônia, que está publicado no YouTube. “Quem somos nós para melhorar algo que o Lawand escreveu, mas demos uma pequena ajustada até pelo tamanho (da placa)”, continuou Porto.

A inscrição na placa diz: “Após 25 anos de nossa passagem pelo Portão Monumental, retornamos com a mesma vibração, o mesmo entusiasmo e os mesmos valores que nortearam nossas vidas profissionais, reafirmando nosso compromisso com o Exército e nosso amor ao Brasil. Agulhas Negras, 18 de dezembro de 2021″.

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