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Quem ganhou ou perdeu com Pacheco e Lira reeleitos; colunistas do ‘Estadão’ opinam

Presidentes do Senado e da Câmara foram reconduzidos aos seus cargos; veja o que o resultado representa para o governo Lula e para a oposição

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Por Redação
Atualização:

O deputado federal Arthur Lira (PP-AL) e o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) foram reconduzidos à presidência da Câmara e do Senado nesta quarta-feira, 1º, e permanecem nos cargos por mais dois anos.

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A disputa pelo comando do Senado ganhou contornos de “terceiro turno” entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Eleito com 49 votos contra 32 de Rogério Marinho (PL-RN), Pacheco disse que a “polarização tóxica” precisa ser erradicada.

Como mostrou o Estadão, Lula prometeu ao União Brasil, ao MDB e ao PSD autarquias, estatais e bancos públicos para conter dissidências na base aliada e garantir voto em Pacheco.

Na Câmara, Arthur Lira conquistou vitória expressiva, batendo o recorde histórico numa eleição para a Mesa Diretora da Casa, com 464 votos. Lira assume a condição de principal força política no Congresso com quem o governo de Lula terá de manter diálogo. Em seu discurso de vitória, condenou os atos extremistas de 8 de janeiro e disse que “é hora de desinflamar o Brasil”.

Confira as análises dos colunistas do Estadão:

Eliane Cantanhêde: ‘Reeleição é alívio e vitória para o Planalto’

“A reeleição do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e do presidente da Câmara, Arthur Lira, foram um alívio e uma vitória do Palácio do Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dois aliados nas duas Casas com o seguinte detalhe: Arthur Lira, que é do PP e do Centrão, é adversário histórico do PT e de Lula, e ele foi muito ativo pró-governo Bolsonaro nos últimos anos.

Mas agora toda a guinada de Lira é a favor da governabilidade, do equilíbrio entre os Poderes e da democracia. O discurso de Arthur Lira está cada vez mais antenado com o governo Lula e a defesa da democracia do que com o Bolsonaro e o bolsonarismo golpista. Isso é uma boa notícia para o País, que precisa aprovar a pauta econômica, mas também precisa de estabilidade política, republicana e federativa. A reeleição de Lira com 464 votos dos 513 da Câmara é um recorde histórico. Isso dá a ele uma liderança inconteste na política brasileira. Lula ao invés de brigar com isso, ao contrário, traz Lira para seu projeto de governo, que acolhe os interesses de uma frente realmente ampla.”

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William Waack: ‘Reeleição de Lira e Pacheco é semipresidencialismo com dois primeiros ministros’

“O principal significado da reeleição de Lira e Pacheco é a continuidade e aprofundamento de um tipo de semipresidencialismo com dois primeiros ministros. O resultado da eleição desta quarta feira tem ineditismo internacional: trocou-se de presidente da República de um lado para o outro do espectro político. Mas ficou inalterado – ou até ampliou-se – o conjunto de prerrogativas de poder do Legislativo. Como resultado principal, temos a essência da política brasileira na incessante atividade de manter o Centrão abastecido com cargos e pedaços da máquina pública, a razão da sua existência.”

O deputado Arthur Lira (PP-AL) foi reeleito como Presidente da Câmara dos Deputados em votação realizada na tarde desta quarta-feira, 1º Foto: Wilton Junior/Estadão

J. R. Guzzo: ‘A perspectiva é de um Brasil profundamente dividido’

“A política brasileira ficou de tal maneira deformada que a proposta de paz, na eleição para a presidência do Senado, era da oposição – e a proposta de confronto era do governo. Ganhou o candidato do governo, por 49 votos a 32, e a conciliação que o Brasil tanto precisa para tratar dos seus problemas reais desapareceu do horizonte mais próximo. O país vai continuar, ao que tudo indica, em conflito: “nós contra eles”, como tem sido há quatro anos e como parece ser o projeto do presidente da República e das forças que lhe dão apoio. É uma campanha eleitoral que não termina. A discordância vai continuar sendo tratada como ameaça às instituições. O Senado, que poderia servir como uma força de equilíbrio e moderação, não oferece mais essa possibilidade. A perspectiva é de um Brasil profundamente dividido, e por muito tempo.”

Felipe Moura Brasil: ‘Entra governo, sai governo, e o Centrão sempre ganha’

Foi a vitória do “toma lá dá cá” no Congresso Nacional. Rodrigo Pacheco e Arthur Lira, eleitos com apoio do bolsonarismo, agora são reeleitos com apoio do lulismo. Entra governo, sai governo, e o Centrão sempre ganha, porque reúne um bloco de parlamentares fisiológicos sob uma liderança corporativista que oferece seus préstimos à governabilidade do presidente da República em troca de cargos, emendas e demais benesses, que ainda poderão ser turbinadas se o afrouxamento da lei das estatais passar pelo Senado.

O governo Lula começa com o pagamento dessas faturas, que podem garantir boa vontade, inicialmente, para aprovar uma nova regra fiscal e a reforma tributária de impostos sobre consumo, mas não garante, depois, apoio integral à agenda petista (se é que o PT tem uma, já que, dentro do governo, também existem disputas e tensões).

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Na Câmara, o recorde de 464 votos de Lira confere ao presidente da Casa maior poder de barganha para negociar cada proposta governista no varejo. Já os 49 votos de Pacheco estão no limite para aprovação de mudanças constitucionais e os 32 votos de Rogério Marinho superam o mínimo necessário para criação de CPI, seja contra o governo, seja contra ministros do STF. Ou seja: não é porque o bolsonarismo perdeu, na esteira do desgaste com os atos golpistas de 8 de janeiro, que o lulismo terá vida fácil daqui em diante. A pré-temporada acabou. O jogo começa agora.

Silvio Cascione: ‘Centrão vai aproveitar cada tropeço do governo pra tentar ocupar mais espaço’

No Senado tivemos uma disputa de verdade. Os números a favor do Rodrigo Pacheco mostram que a oposição pode até ser numerosa, imobilizada no Senado, mas ela não é grande o suficiente para impedir a construção de uma base majoritária para apoiar a agenda legislativa do presidente Lula. Claro que é uma a maioria constitucional bem apertada, bem limitada, e isso dá poder para os senadores, individualmente, negociarem caso a caso, colocarem obstruções, barganharem mais cargos, mas é um cenário positivo para o governo.

Vai ser um congresso que vai dar trabalho para o Lula com certeza, é uma coalizão bastante diversa com a presença de muitos grupos do Centrão que competem entre si e que vão aproveitar cada tropeço do governo pra tentar ocupar mais espaço. Isso vai levar a trocas de ministros no futuro e alguns impasses vez ou outra. Na Câmara não foi nenhuma surpresa. O apoio do governo ao Lira realmente só é a confirmação de um cenário que já estava desenhado há bastante tempo.

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