PUBLICIDADE

Relatório conclui que polícia violou direitos humanos em chacina no Pará

Deputados que estiveram no local da morte de 10 agricultores elaboram texto com base em testemunhas, familiares de vítimas e sobreviventes

Foto do author André Borges
Por André Borges
Atualização:

BRASÍLIA – Um relatório realizado por deputados da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa concluiu que a polícia violou direitos humanos, desobedeceu protocolos legais e descaracterizou a cena de crime que resultou na chacina de dez agricultores na fazenda Santa Lúcia, em Pau D´Arco, no sudeste do Pará.

PUBLICIDADE

Em relatório apresentado nesta terça-feira, 30, os deputados estaduais Carlos Bordalo (PT), Lélio Costa (PCdoB) e Ozório Juvenil (PMDB) negaram que tenha havido confronto no local, conforme versão defendida por policiais. “Houve tudo naquele local, menos confronto. Não temos a intenção de defender quem comete crimes, mas nesse País não há pena de morte e as autoridades devem obedecer protocolos legais. Nesse episódio, nada disso foi respeitado”, declarou Bordalo, que é presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa.

O relatório apresentado foi elaborado pelos três parlamentares que integraram uma delegação que esteve no local do crime. Segundo eles, foram colhidos relatos de testemunhas, familiares das vítimas e sobreviventes, bem como uma comparação entre as versões contadas por eles e pela polícia.

Policiais sustentam que chegaram à fazenda para cumprir ordens de prisão e foram recebidos a tiros pelos ocupantes da terra. Por isso, teriam reagido. A história é contestada pelos familiares das vítimas e sobreviventes. Eles afirmam que o grupo estava refugiado na mata e foi surpreendido pelos policiais, que já teriam chegado atirando. Alguns conseguiram fugir, mas as vítimas foram torturadas e mortas.

O relatório agora deve ser aprovado pela comissão e colocado à disposição das autoridades competentes. “Esta é uma peça do Parlamento, não é da polícia, e não pretendemos ter uma afirmação definitiva”, explica o presidente da Comissão de Direitos Humanos. “Cabe à polícia, ao Ministério Público e à Justiça apurar e utilizar essas informações que coletamos para contribuir para que o Estado aperfeiçoe seus protocolos. Não é possível que um Estado que teve o episódio da Curva do S, em Eldorado dos Carajás, volte a ter algo do gênero, em Pau D’ Arco”, declarou Carlos Bordalo.

Na semana passada, o secretário de segurança do Pará, Jeannot Jansen, determinou o afastamento dos 29 policiais – 21 militares e oito civis – envolvidos no conflito. Eles não podem mais participar de qualquer missão policial e devem colaborar com as investigações para esclarecer os fatos. Os policiais afirmam que cumpriam ordem judicial de prisão e de busca e apreensão de armas contra invasores da propriedade quando foram recebidos a tiros. Eles prestaram depoimento sigiloso ao Ministério Público Estadual.