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Relembre as investigações que miram Carlos Bolsonaro, alvo da PF na ação sobre espionagem ilegal

Vereador do Rio, filho de Jair Bolsonaro, é investigado por suspeita de ‘rachadinha’ no gabinete da Câmara Municipal e por supostamente coordenar ‘milícias digitais’

Foto do author Juliano  Galisi
Por Juliano Galisi

A Polícia Federal (PF) cumpriu nesta segunda-feira, 29, mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), vereador do Rio de Janeiro e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele é alvo da operação que investiga o aparelhamento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para fins políticos durante o governo passado.

Carlos Bolsonaro, vereador no Rio desde 2001, é alvo de operação da PF Foto: Dida Sampaio/Estadão

O caso Abin não é o primeiro em que Carlos Bolsonaro figura como investigado. Ele também está na mira do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) pela suspeita de operar um esquema de “rachadinha” em seu gabinete na Câmara Municipal do Rio. No Supremo Tribunal Federal (STF), o vereador carioca também é alvo dos inquéritos que apuram a atuação do “gabinete do ódio”, como ficou conhecido o grupo dedicado à promoção de ataques a adversários políticos de Bolsonaro.

Caso Abin

Carlos Bolsonaro é alvo do desdobramento da Operação Vigilância Aproximada nesta segunda-feira. No último dia 25, a PF vasculhou 21 endereços e teve o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin, como o principal foco. A informação de que os endereços ligados a Carlos Bolsonaro estavam na mira da PF foi divulgada pelo blog da jornalista Andrea Sadi, no G1, e confirmada pelo Estadão. Carlos é investigado por supostamente ter recebido informações do sistema de informações paralelo que se instalou na Abin.

Deputado Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin, e o vereador Carlos Bolsonaro: ambos são investigados por aparelhamento do órgão de inteligência Foto: Reprodução/X/@CarlosBolsonaro

A Operação Vigilância Aproximada é uma continuação da Operação Última Milha, que, em outubro de 2023, prendeu servidores do órgão de inteligência que usaram indevidamente o sistema de geolocalização de celulares do órgão para coerção. À época, o Estadão mostrou como essa ofensiva ligou um sinal de alerta para o vereador Carlos Bolsonaro. Ele não foi alvo na PF na ocasião.

‘Rachadinha’ na Câmara Municipal

O Ministério Público do Rio de Janeiro investiga Carlos Bolsonaro pela suspeita de que seu gabinete na Câmara Municipal tenha coordenado durante anos um esquema de “rachadinha”. A prática consiste na apropriação do salário de assessores. Funcionários do gabinete e o próprio vereador são investigados pelo MP-RJ pelo acúmulo de patrimônio incompatível com os cargos e pela operação suspeita no mercado imobiliário, por meio da aquisição de propriedades com dinheiro em espécie.

Jair, Eduardo, Carlos Bolsonaro e Ana Cristina Valle, uma das ex-mulheres do presidente. Núcleo de 'rachadinhas' é investigado pelo MP-RJ Foto: Alan Santos/PR, Joshua Roberts/Reuters, Dida Sampaio/Estadão e Fabio Motta/Estadão

Em 2023, um laudo do MP apontou que um ex-chefe de gabinete de Carlos recebeu, no acumulado de nove anos, mais de R$ 2 milhões de ex-servidores da equipe do vereador. Os procuradores também investigam Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro e ex-chefe do gabinete de Carlos. Sete parentes de Ana Cristina ocuparam cargos de confiança na equipe do vereador.

Os procuradores sugerem que Carlos Bolsonaro é o possível “beneficiário final” de uma extensa cadeia de mais de 20 pessoas supostamente ligadas ao esquema. Procuradas à época, as defesas negaram as acusações. A investigação ainda tramita no Ministério Público fluminense. O último laudo produzido pela Procuradoria aponta “indícios” da prática criminosa e aguarda mais informações para a apresentação de denúncia.

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Carlos Bolsonaro nega os indícios de prática ilícita. Nas redes sociais, ele já chegou a dizer que o inquérito do MP estava “requentando” acontecimentos passados. “Na falta de fatos novos, requentam os velhos que obviamente não chegaram a lugar nenhum e trocam a embalagem para empurrar adiante a narrativa”, declarou o filho do ex-presidente em agosto de 2021, após ter a quebra de sigilos bancário e fiscal autorizada pela Justiça do Rio.

‘Milícias digitais’

Carlos Bolsonaro foi citado em mais de 40 ocasiões no bojo do inquérito dos atos antidemocráticos de 2020. A investigação é diferente da apuração sobre o ataque aos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023. A Procuradoria-Geral da República (PGR), na ocasião, suspeitava que parlamentares e empresários bolsonaristas atuavam em conjunto na divulgação de manifestações contra a democracia. A atividade, segundo os procuradores, chegava a ser “lucrativa”.

O presidente Jair Bolsonaro discursa em manifestacao contra o Congresso e a favor de intervencao militar em frente ao Quartel General do Exército em Brasília Foto: Gabriela Biló/Estadão

Ao longo da apuração, a PF identificou a existência de um grupo de assessores do Palácio do Planalto que atuava nas redes sociais disseminando conteúdo falso e difamatório contra adversários políticos do então presidente Bolsonaro, e Carlos passou a ser investigado como possível mentor da ala. Em novembro de 2023, Mauro Cid, em delação premiada, disse à Polícia Federal que Carlos Bolsonaro era o líder do grupo.

O STF, em paralelo ao inquérito dos atos antidemocráticos de 2020, conduz uma investigação sobre “milícias digitais” dedicadas a disseminar notícias falsas e insuflar manifestações golpistas. A estrutura do “gabinete do ódio”, segundo o inquérito das milícias digitais, teria sido utilizada para essas finalidades. Em depoimento à PF, Carlos Bolsonaro negou ter produzido ou divulgado qualquer conteúdo que incitasse ataques ao Supremo e ao Congresso. Ele também rechaçou a acusação de que usa “robôs” para criar publicações autômatas nas redes sociais.

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