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Sucessão em frente parlamentar gera mal-estar entre ministro da Agricultura e bancada ruralista

Ministro Carlos Fávaro falou que já era hora de falar no novo nome para dirigr a FPA que hoje está sob o comando do deputado Pedro Lupion; deputados não gostaram porque mandato de presidente da bancada só termina em 2025

Foto do author Isadora Duarte
Por Isadora Duarte (Broadcast)

BRASÍLIA - Uma declaração do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, antecipando a discussão sobre a troca de comando na Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), desagradou a parlamentares da bancada ruralista, apurou o Estadão/Broadcast. Na abertura do Cana Summit, evento realizado nesta quarta-feira, 10, em Brasília pela Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), o ministro disse que “chegou a hora” de o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) assumir a Frente, após o mandato do atual presidente, deputado federal Pedro Lupion (PP-PR).

Vice-presidente da FPA na Câmara dos Deputados, Jardim é naturalmente o principal cotado para o comando da próxima gestão. O que surpreendeu foi o momento escolhido pelo ministro para defender o nome do deputado paulista já que a gestão de Lupion na FPA só termina em fevereiro de 2025.

Declaração do ministro Carlos Fávaro provocou reações na bancada ruralista Foto: Wilton Junior/Estadão

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“Temos uma frente parlamentar muito bem estruturada. Parabéns, Pedro, por liderar a frente. Aqui faço quase uma convocação: chegou a hora de planejarmos a sua sucessão e estamos diante do Arnaldo Jardim, que não pode fugir dessa missão, tem que ser o próximo presidente da FPA e suceder Pedro Lupion”, disse Fávaro na abertura do evento, sendo aplaudido pelos produtores de cana-de-açúcar presentes. “Neste momento de transição energética, Arnaldo, ninguém tem mais competência para liderar a frente, depois de Pedro Lupion, que você”, acrescentou.

A reação de deputados federais do agro foi instantânea. Alguns viram na declaração do ministro tentativa de “interferência” na sucessão da bancada ruralista; outros relativizaram, dizendo que o ministro apenas teceu elogios a Jardim, conhecido pela atuação no segmento sucroenergético, junto à sua base. Para um terceiro grupo, Fávaro teria se confundido, acreditando que o mandato de Lupion teria terminado em fevereiro último.

Antes da declaração de Fávaro, Lupion, na abertura do evento, destacou o bom relacionamento com o ministro: “A nossa relação com Fávaro sempre foi excelente e cordial”, disse. Depois da fala do ministro, o deputado paranaense não escondeu o desconforto: “Se o ministro quer antecipar minha sucessão, é um sinal que estou incomodando, que o nosso trabalho de defesa do setor está dando certo”, disse Lupion.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, após a cerimônia de abertura, Fávaro teria procurado Lupion e dito ao presidente da FPA que “alguém teria que dar o pontapé na sucessão”. Já Lupion teria respondido a Fávaro que o seu mandato à frente da bancada termina apenas em fevereiro do próximo ano e, irônico, dito que a bancada começaria a discutir quem seria o próximo ministro da Agricultura.

Após Fávaro deixar o evento, deputados ligados à FPA saíram em defesa de Lupion. O deputado federal Zé Vitor (PL-MG) disse que, se depender dos parlamentares, Lupion será reeleito. Outros tentaram diminuir a temperatura e reforçaram elogios à atuação de Lupion, com vitórias em projetos sensíveis ao agronegócio desde o início da gestão.

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O próprio Jardim falou em “gestão brilhante” de Lupion. Um dos deputados ligados à diretoria da FPA classificou a fala do ministro como “provocativa”. De acordo com o parlamentar, a manifestação foi uma resposta aos questionamentos de Lupion sobre o Proagro, “uma troca de farpas”, na suas palavras. “O governo tenta dividir, causar um racha, na bancada, mas não consegue”, afirmou à reportagem. Já outro parlamentar viu a fala do ministro apenas como um escorregão. “Ele enalteceu o Arnaldo e se perdeu nas datas. O ministro não seria deselegante com o presidente Lupion. Há uma relação construída e pacificada desde o início do governo”, observou ao Broadcast Agro.

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